Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/04/2004 - 03h04

Rocinha pára após morte de líder do tráfico

Publicidade

da Folha de S.Paulo, no Rio

A favela da Rocinha (zona sul do Rio) parou completamente ontem, um dia após a morte do chefe do tráfico de drogas Luciano Barbosa da Silva, 27, o Lulu, em um tiroteio com policiais.

Apesar de a favela estar ocupada desde segunda-feira por 1.300 policiais, nenhuma loja abriu, os camelôs não trabalharam, escolas e bancos não funcionaram, mototáxis não circularam e os serviços mantidos pela prefeitura, como a coleta de lixo, foram interrompidos. As ruas da favela, tradicionalmente movimentadas e com trânsito complicado, ficaram vazias e repletas de lixo, que não foi recolhido. Parecia feriado.

Segundo representantes de associações de moradores da Rocinha que não quiseram se identificar, Lulu era querido na comunidade. Eles disseram que, embora levasse uma "vida errada", o traficante respeitava os moradores e ocupava o papel do poder público em algumas ocasiões.

Ontem pela manhã, uma Kombi foi incendiada no interior da favela e uma faixa preta foi estendida para representar luto pela morte de Lulu. Os traficantes deixaram um carro atravessado na pista da estrada da Gávea --que corta a favela-- para impedir a passagem de veículos.

A Folha conversou com moradores que disseram que não houve ordem do tráfico para fechar. O clima, no entanto, era de medo. Os moradores estão temerosos de que o traficante Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, rival de Lulu e odiado na comunidade, tente novamente invadir a Rocinha. Ontem, o Ministério Público Estadual pediu a prisão preventiva de Dudu.

A guerra entre os dois criminosos, iniciada na madrugada de sexta-feira, deixou 12 mortos até anteontem. Alguns moradores ouvidos pela Folha disseram que a Rocinha só voltará a ficar tranqüila depois que a polícia capturar ou prender Dudu.

O presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, William de Oliveira, disse que "ninguém sabe o que pode acontecer". "A Rocinha sempre foi pacífica e ordeira e a polícia está fazendo o seu trabalho. Existe alguém maior do que a polícia que é Deus, e os moradores têm que rezar muito para que esse clima de guerra acabe."

Comandante da ocupação

Responsável pelo comando das ações policiais na Rocinha, o tenente-coronel Jorge Braga, comandante do 23º Batalhão (Leblon, zona sul), disse considerar normal que as lojas tenham fechado, pois, segundo ele, Lulu era "um amigo" dos comerciantes.

"Pelo que sabemos, o pessoal que está querendo invadir [o morro] faria muita maldade [com os moradores]. Ele [Lulu], pelo contrário, não praticava maldades contra a comunidade."

Braga afirmou que, desde a morte de Lulu, vem percorrendo as lojas na tentativa de convencer os comerciantes a não interromperem o funcionamento.

Para o oficial, o fato de a comunidade gostar de um chefão do tráfico não pode servir de empecilho à ação policial. "A função da polícia é reprimir os atos ilícitos e prender os criminosos", afirmou.

Braga anunciou que pretende manter na favela o atual efetivo, de mais de mil homens, por tempo indeterminado.

O clima de medo na Rocinha também afetou PMs que estão atuando na ocupação. A todo momento, eles recebiam ameaças de traficantes por meio de radiotransmissores. "Vamos jogar granada neles, vamos vingar o cara [o Lulu]. Fica na atividade que a bala vai comer em cima de vocês [policiais]", diziam os traficantes.

Com Lulu morto, o controle das drogas na Rocinha passou para Adriano da Costa Brito, o Zarur, que organizou, de manhã, uma reunião entre os traficantes.

Dudu tem o apoio de várias favelas vinculadas ao CV (Comando Vermelho) para retomar o controle da Rocinha, que ele perdeu em 1995, quando foi preso.

Especial
  • Veja mais sobre o tráfico no Rio
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página