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25/04/2004 - 03h03

Paulistano faz malabarismo para fugir do estresse

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da Folha de S.Paulo

Abandonar uma carreira de advogado para trabalhar como malabarista parece coisa de quem tem uma visão romântica da sociedade? Então, os românticos ainda sobrevivem, pois foi exatamente essa a decisão de Luiz Francisco Vasconcelos, 29, mais conhecido como Duico.

Apresentado aos malabares há cinco anos, virou um aficionado pela atividade. Há seis meses, começou a organizar no Projeto Aprendiz, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), um encontro semanal de malabaristas. A reunião atrai umas 30 pessoas -advogados, atores, bancários etc.. É a redescoberta do mundo circense --em especial, o malabarismo-- pela classe média.

O estudante de direito Rodrigo Buchiniani, 24, que integra o grupo formado por Duico, leva as bolinhas de malabares até para a faculdade. Durante as aulas, escreve com a mão direita, enquanto gira uma bolinha com a esquerda.

Embora não pense em ser malabarista profissional, inclui a atividade nos planos para o futuro: "Quero ter meu escritório, meu terno, minha gravata e as minhas bolinhas de malabares".

A atriz Gabriela Scarcelli, 26, chegou a montar em sua casa de veraneio em Ubatuba (litoral norte) alguns equipamentos de circo. "Muitas peças incluem atividades como o malabares. O circo me deu mais força muscular e consciência corporal", diz.

Uma das explicações para a tendência é o surgimento do chamado "circo contemporâneo", representado pelo Cirque du Soleil, que trouxe um avanço estético aos espetáculos, com iluminação e figurinos diferenciados. Seu fundador, o canadense Guy Laliberté, estreou neste ano no ranking das pessoas mais ricas do mundo elaborado pela Forbes. Está em 514º lugar, com uma fortuna de US$ 1,1 bilhão.

Fascínio do circo

"O circo sempre despertou fascinação na camada popular e, na classe alta, preconceito. Isso tem mudado", afirma José Wilson Moura Leite, proprietário da Circo Escola Picadeiro.

Reflexo disso é o resort Super Clubs Breezes Costa do Sauípe (BA), que tem entre suas atrações aulas de circo para os hóspedes. Com a demanda por apresentações em hotéis, festas e eventos, Duico afirma que conseguiu alcançar o mesmo padrão de vida que tinha quando era advogado. "Mas o mais importante é que tenho muito prazer no que faço."

Na Central do Circo, há um curso profissionalizante de arte circense, que dura três anos.

Existem duas explicações para a moda dos malabares. A primeira é a chegada ao Brasil de muitos argentinos (devido à crise econômica de seu país), que começaram a jogar malabares nos semáforos. "Eles têm tradição nisso, além da cultura de shows de rua", diz Duico. E a meninada que pede dinheiro nas ruas, claro, logo percebeu o chamariz da técnica.

A segunda explicação é a popularização, no Brasil, das raves --festas de música eletrônica, geralmente realizadas ao ar livre--, nas quais são comuns shows de malabares. "Eu via nas raves e achava aquilo muito interessante", lembra a estudante de hotelaria Lívia Spinola di Medio, 22, que há dois anos freqüenta o Circo Escola Picadeiro, onde descobriu uma nova forma de se exercitar. "Nunca gostei de esportes. Aqui, emagreci e ganhei músculos."

"Esse é o perfil da maioria dos nossos alunos", afirma a professora de malabarismo do circo, Sandra Lins, 43. "São pessoas que não querem ir a academias ou profissionais que, após um dia estressante, vêm para relaxar."

Na primeira aula, ela ensina o movimento mais simples --com duas bolas, fazer um X no ar, passando-as de uma mão à outra. "Viu como você consegue?", diz, quando a proeza é alcançada, após dez tentativas frustradas.

"Uma das vantagens do malabares é que, além de exigir concentração e capacidade motora, mostra ao aluno que, para atingir seus objetivos, ele deve trabalhar muito", afirma Maurício Tricate, diretor do colégio Magno/Mágico de Oz, que oferece aulas extracurriculares de circo aos alunos.

Pesquisa

Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade de Regensburg (Alemanha) e publicada na revista científica "Nature" mostrou que a prática de malabares pode gerar mudanças na estrutura cerebral. Os pesquisadores acompanharam um grupo de 24 pessoas, das quais metade começou a treinar malabares.

Após três meses, os pesquisadores descobriram, com uma técnica que mede a concentração do tecido cerebral, que, no grupo que havia treinado, houve um aumento de 3% em duas regiões responsáveis pelo processamento visual. No grupo que não treinou, não houve alteração.

Nos três meses seguintes, a orientação foi a de que o grupo parasse o treino. Um novo exame mostrou que as regiões haviam voltado quase ao estágio inicial.

Sinal de que os malabares podem ser mais que uma diversão.
 

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