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16/05/2004 - 03h40

"A culpa é minha companheira", diz dependente de drogas

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da Folha de S.Paulo

Três mulheres diferentes, uma mesma realidade: a luta para se livrar do álcool e da cocaína aproxima Dora, Ana e Apple (nomes fictícios), que concordaram em conversar com a Folha sobre a dependência e as tentativas de se livrar dela.

Dora e Ana, cerca de 35 anos, são cariocas, de classe baixa, primeiro grau completo, com filhos. Elas começaram a beber ainda adolescentes, foram induzidas a consumir cocaína pela primeira vez, segundo dizem, por seus parceiros masculinos e vivem uma espécie de gangorra, em que os períodos de abstinência se contrapõem aos de consumo pesado.

Dora freqüentou associações de Alcoólicos e Narcóticos Anônimos antes de chegar ao ambulatório do Cead, no Rio. Perdeu tudo o que havia conseguido na vida e chegou a se prostituir para manter a dependência.

Sua última recaída foi há dois anos, desde então está "limpa" e convicta de que não vai mais beber nem procurar os companheiros de pó.

Elas quer apenas arrumar um emprego e cuidar dos filhos, mas sabe que a recolocação de uma dependente na sociedade de é complicada. "Mas com a ajuda do pessoal daqui, a coisa fica mais fácil. Posso compartilhar meu sofrimento e vou conseguir", afirma.

Ana saiu de casa em Minas Gerais quando pré-adolescente e sempre trabalhou como vendedora em lojas de shopping no Rio. Começou a beber cedo e, aos 17 anos, passou a consumir cocaína para agradar o namorado.

Nunca mais parou. Ou melhor, há alguns meses não cheira e não bebe, mas fuma maconha, o que atrapalha o tratamento da depressão que ela também tem de combater.

Compulsiva, o que mais lhe traz arrependimento é ter se drogado durante as vezes em que ficou grávida. "Eu não sabia que era doente. Sabia que fazia uma coisa muito errada. Conhecia a repressão, mas não o esclarecimento que tenho hoje", diz.

Apple tem pouco mais de 30 anos e é médica, o que faz com que saiba muito bem tudo de ruim que se passa com ela por causa do álcool e da cocaína.

Ela não consegue ficar sem beber. Quando bebe, não consegue ficar sem cheirar. Já chegou a consumir mais de três gramas numa noite, acompanhada de uma garrafa de uísque. Ela praticamente emendava uma balada após uma ressaca, sempre à noite, porque de dia trabalha e estuda.

"O problema é que eu gosto do álcool, me dá uma sensação muito boa. A cocaína, ao contrário, não me dá mais prazer nenhum."

Nem sempre foi assim: adolescente, ela via no pó branco uma oportunidade de ingressar num mundo de glamour e alegria. Foi o que aconteceu, até que, num surto de violência, puxou uma faca para uma amiga.

Desde então, está em tratamento (incluindo internação em clínicas), o que fez com que, ainda que não parasse completamente, diminuísse muito o consumo --agora, menos de um grama de coca, duas vezes por semana.

"Mas o estrago na minha vida já está feito. Minha carreira está dez anos atrasada. Dei muito trabalho e preocupação para a minha família. Agora, consigo preservá-la."

O fato de ser médica, diz ela, piora a sua situação. "A consciência, a lucidez aumenta meu sofrimento. Gostaria muito de não saber nada do que se passa. Mas acho que só vou sair desse buraco justamente por causa da dor da consciência."

Embora saiba que, no caso da dependência, a vontade é um conceito relativo, Apple não consegue se livrar da autocrítica: "A culpa é minha companheira constante".

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