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16/05/2004 - 03h56

Mais mulheres buscam ajuda para deixar as drogas

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LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo

Os mais variados indicadores demostram que a mulher está trabalhando mais, competindo mais, conquistando mais status socioeconômico, ficando mais estressada e adquirindo problemas de saúde que antes eram "privilégio" dos homens.

Embora não existam estatísticas que permitam afirmar que as mulheres estejam bebendo mais ou consumindo mais drogas, dados colhidos pela Folha em diversas fontes deixam claro: aumenta o número de mulheres que estão buscando tratamento para se afastar da dependência química.

Esse aumento chega a ser de 150% em um centro de atendimento do Rio. Em São Paulo, enquanto o serviço do Hospital das Clínicas dedicado às mulheres amplia suas vagas para atender à crescente demanda, médicos de consultórios particulares registram multiplicação dos casos.

Dois prováveis motivos para que isso ocorra: por conta de mais informações, a mulher está enfrentando a vergonha de assumir que é dependente e agora já sabe que, ao procurar tratamento, encontrará ambientes voltados para as suas particularidades.

Segundo a literatura médica, o organismo da mulher é menos suscetível aos efeitos da cocaína, então ela responde melhor aos tratamentos para se livrar da dependência. Enquanto entre os homens o índice de adesão à abstinência durante o tratamento fica em apenas 30%, o aproveitamento entre mulheres atinge 60%.

Outras particularidades relativas à mulher: a maioria das dependentes consome álcool e relata que foi apresentada à cocaína pelo companheiro (que em geral também é dependente) e que busca a droga para fugir da depressão, do isolamento social, de problemas familiares e de distúrbios de saúde. Os homens, na maioria das vezes, relatam que usam a droga apenas pelo "barato" em si.

Dados do Cead (Conselho Estadual Antidrogas), órgão da Secretaria de Justiça e Direitos do Cidadão do Rio, comprovam o aumento da preocupação da mulher com o problema. O volume de homens que pela primeira vez procuraram o serviço cresceu, nos três primeiros trimestres de 2003, cerca 130%, e o de mulheres, 28%.

De lá para cá, a coisa mudou: o número de mulheres que buscaram ajuda cresceu mais de 150%, passando de 55 para 142 casos.

Entre homens e mulheres, informa Murilo Asfora, diretor do Cead, foram feitos, em 2003, 1.895 atendimentos de novos pacientes. Destes, 44% diziam ser preferencialmente consumidores de álcool e 26% de cocaína, mas, no caso das mulheres, diz a psicóloga Sabine Cavalcante, a combinação álcool-cocaína predomina. Há ainda casos de abuso de maconha, inalantes e anfetaminas.

Segundo ela, o atendimento em separado das mulheres no dia-a-dia do Cead surgiu como uma decorrência da própria prática clínica. "Ficava difícil atender a um casal, por exemplo, quando havia indícios de violência doméstica ou quando quem tinha estimulado a mulher a consumir cocaína era o companheiro."

Serviço pioneiro

O primeiro serviço voltado exclusivamente para a mulher dependente surgiu em 1996 no Hospital das Clínicas de São Paulo. Trata-se do Promud (Programa de Atenção à Mulher Dependente Química), coordenado pela psiquiatra Patrícia Hochgraf.

Ela diz que a capacidade do serviço que coordena (284 pacientes já passaram pelo atendimento) é muito menor do que a demanda. "Toda vez que abrimos a triagem para novos atendimentos é uma loucura o que aparece de gente."

Por isso o Promud está crescendo: ganha neste mês, em convênio com a Prefeitura de São Paulo, mais dois postos de atendimento, além do que já funciona no HC.

Para a psiquiatra, a maior adesão das mulheres aos tratamentos se relaciona ao fato de elas estarem encontrando algo diferenciado nos serviços. "Se o homem dependente é considerado sem-vergonha, para a mulher é o fim da linha. Por isso, quando ela percebe que será bem atendida, que não será constrangida, fica mais estimulada a buscar tratamento."

Isso também ocorre nas clínicas e consultórios particulares, onde, da mesma forma, pode ser verificado um aumento de casos, segundo pelo menos oito especialistas ouvidos pela Folha.

Exemplo: um consultório que atende pacientes de classe média alta na zona sul de São Paulo, cujo titular preferiu o anonimato, acusou aumento de 100% de casos (de 7 para 14) de mulheres dependentes em busca de tratamento nos últimos seis meses.

Segundo Hochgraf, o serviço gratuito do HC também é procurado por pessoas com poder aquisitivo. "Aqui, apesar da diferença de status, elas estão entre iguais no que se refere à dependência."

Atendimento público: convênio Promud/Prefeitura de São Paulo: 0/xx/11/3241-0901; Cead/RJ: 0/xx/21/ 3399-1324

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