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11/09/2000 - 04h38

Metro quadrado de cortiço é mais caro do que casa em SP

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GABRIELA ATHIAS, da Folha de S.Paulo

O preço do metro quadrado dos cortiços da região central de São Paulo está 78% mais caro do que o das casas térreas da mesma zona, em valores médios; 41% superior ao dos apartamentos e 30,4% mais elevado que o aluguel de sobrelojas e salas comerciais.

O descompasso de preços é reflexo da situação dos trabalhadores das áreas centrais. Sem condições de arcar com um contrato formal de locação, eles se submetem a essa exploração e a regras pouco ortodoxas de cobrança de aluguel, que, não raro, incluem o uso de violência.

Os dados são da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

Esses dados, obtidos com exclusividade pela Folha, foram organizados pela pesquisadora Helena Menna Barreto Silva e constam de um relatório elaborado há 15 dias para o encontro "Habitação no Centro de São Paulo: Como Viabilizar essa Idéia?".

À primeira vista, parece difícil entender o que leva as 120 mil famílias (cerca de 600 mil pessoas) "encortiçadas" de São Paulo a pagar entre R$ 200 e R$ 250 mensais para viver num domicílio com cômodo único, cuja metragem total varia de 11 a 15 metros quadrados.

Uma pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e da Sehab (Secretaria Municipal da Habitação) com 335 cortiços mostra que o primeiro motivo é falta de dinheiro. O segundo, proximidade do trabalho.

Perfil

O levantamento mostra que, dos 625 chefes de família entrevistados, 32% vão a pé ao trabalho e percorrem o trajeto em menos de meia hora.
Dos 40% que vão para o serviço de ônibus, mais da metade leva menos de meia hora para chegar.

Além disso, as regiões mais centrais (Sé, Parque D. Pedro, praça João Mendes, Ladeira da Memória, República e Santa Ifigênia), apesar de estarem passando por um processo contínuo de esvaziamento econômico, ainda concentram a maioria dos empregos formais e informais da capital.

Para se ter uma idéia do que isso representa, um mapeamento dos empregos da cidade feito pelo Metrô, em 97, mostra que nesses bairros a concentração de empregos por hectare (um hectare equivale a 10 mil m2) chega a 668.

Só para comparar, na região da Paulista (incluindo Bela Vista, Pamplona, Consolação, Trianon e Jardins), a densidade é de 383 empregos por hectare.

Por isso, nos bairros centrais e com pouca oferta de vaga em cortiços, caso de Santa Cecília, 30 moradores chegam a dividir a mesma bacia sanitária.

A maioria dos moradores dos cortiços (70,4%) é composta por famílias nucleares (formadas por pais e filhos).

Ao morar em bairros centrais de classe média, caso típico da Mooca, as mulheres têm facilidade para trabalhar como empregadas domésticas e
ajudar a aumentar a renda familiar.

Gutemberg de Souza, 39, coordenador da ULC (Unificação das Lutas de Cortiço) diz que, além das ofertas de trabalho estarem concentradas no centro, essa região é dotada de equipamentos sociais, escassos na periferia, como escolas, postos de saúde, hospitais e praças. Segundo ele, a maioria dos conjuntos populares é construída em bairros distantes do centro, carentes de escolas e mal servidos por transporte.

Por isso, a reivindicação dos movimentos é sempre para que o governo desaproprie o terreno do cortiço e financie a construção de um prédio para as famílias encortiçadas no mesmo local.

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