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09/08/2004
-
08h12
da Folha de S.Paulo, em Santa Cruz do Sul (RS)
Para quem acredita que só há salvação para a agricultura com grandes propriedades e muita tecnologia, a plantação de fumo no Vale do Rio Pardo equivale a um curso de pós-graduação. Lá, só há pequenas propriedades e 95% dos produtores aram a terra com bois.
A mão-de-obra familiar, inclusive das crianças, é empregada em 92% das propriedades do Sul do país. Contratar um ajudante é luxo que só ocorre no auge da safra.
Foi com essa combinação que o Brasil tornou-se o maior exportador de tabaco do mundo e campeão em qualidade.
O trabalho é pesado, segundo Carlos Alberto Moraes, 33, que está nesse tipo de lavoura desde os nove anos. A cultura é anual e toma 140 dias --as mudas são plantadas em junho, e as folhas, colhidas entre novembro e dezembro.
"No verão, trabalho umas 15 horas --das 5h30 até as 20h. E de madrugada tem de levantar umas seis vezes para controlar a lenha que seca o fumo. Levanto a cada 45 minutos para ver se a temperatura está boa", relata Moraes. Muitos deixam o fumo, diz, porque não agüentam a carga.
A mão-de-obra familiar, em vez de ser um empecilho para a qualidade, é peça essencial para o bom fumo. "A cultura exige cuidados artesanais. A produção familiar melhora a qualidade do tabaco", avalia Marco Dornelles, 40, engenheiro agrônomo da Afubra, a associação dos fumicultores. Segundo ele, "quando o camarada é contratado, não cuida tão bem da produção".
Produção
O tabaco inverte o ranking dos países com maior inovação tecnológica. Os EUA, líder nessa tabela, produzem tabaco de baixa qualidade porque lá se faz esse tipo de cultivo em latifúndios com mão-de-obra contratada.
No sul do país, responsável por 95% da produção nacional, o minifúndio típico tem uma área de 17,9 hectares, dos quais 2,5 hectares são usados no cultivo do fumo. Um quarto da propriedade é ocupado por matas nativas. A secagem do fumo, em estufas aquecidas a lenha, consome 500 árvores por ano.
Para ter árvores para queimar, o setor se tornou o segundo maior reflorestador do país, só atrás da área de papel e celulose, segundo o Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo).
A indústria usa a chamada "produção integrada": o agricultor recebe sementes, insumos e agrotóxicos e tem a compra da safra garantida. Agricultores reclamam que, como não há alternativa para a venda, a indústria é arbitrária ao estabelecer o preço. O Sindifumo argumenta que não define o preço, estabelecido por uma comissão na qual os agricultores têm representantes.
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Para quem acredita que só há salvação para a agricultura com grandes propriedades e muita tecnologia, a plantação de fumo no Vale do Rio Pardo equivale a um curso de pós-graduação. Lá, só há pequenas propriedades e 95% dos produtores aram a terra com bois.
A mão-de-obra familiar, inclusive das crianças, é empregada em 92% das propriedades do Sul do país. Contratar um ajudante é luxo que só ocorre no auge da safra.
Foi com essa combinação que o Brasil tornou-se o maior exportador de tabaco do mundo e campeão em qualidade.
O trabalho é pesado, segundo Carlos Alberto Moraes, 33, que está nesse tipo de lavoura desde os nove anos. A cultura é anual e toma 140 dias --as mudas são plantadas em junho, e as folhas, colhidas entre novembro e dezembro.
"No verão, trabalho umas 15 horas --das 5h30 até as 20h. E de madrugada tem de levantar umas seis vezes para controlar a lenha que seca o fumo. Levanto a cada 45 minutos para ver se a temperatura está boa", relata Moraes. Muitos deixam o fumo, diz, porque não agüentam a carga.
A mão-de-obra familiar, em vez de ser um empecilho para a qualidade, é peça essencial para o bom fumo. "A cultura exige cuidados artesanais. A produção familiar melhora a qualidade do tabaco", avalia Marco Dornelles, 40, engenheiro agrônomo da Afubra, a associação dos fumicultores. Segundo ele, "quando o camarada é contratado, não cuida tão bem da produção".
Produção
O tabaco inverte o ranking dos países com maior inovação tecnológica. Os EUA, líder nessa tabela, produzem tabaco de baixa qualidade porque lá se faz esse tipo de cultivo em latifúndios com mão-de-obra contratada.
No sul do país, responsável por 95% da produção nacional, o minifúndio típico tem uma área de 17,9 hectares, dos quais 2,5 hectares são usados no cultivo do fumo. Um quarto da propriedade é ocupado por matas nativas. A secagem do fumo, em estufas aquecidas a lenha, consome 500 árvores por ano.
Para ter árvores para queimar, o setor se tornou o segundo maior reflorestador do país, só atrás da área de papel e celulose, segundo o Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo).
A indústria usa a chamada "produção integrada": o agricultor recebe sementes, insumos e agrotóxicos e tem a compra da safra garantida. Agricultores reclamam que, como não há alternativa para a venda, a indústria é arbitrária ao estabelecer o preço. O Sindifumo argumenta que não define o preço, estabelecido por uma comissão na qual os agricultores têm representantes.
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