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15/08/2004 - 06h08

Maioria não quer deixar favela, diz estudo

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ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio

Olhando friamente os números, o aumento da população que vive em favelas cariocas impressiona. Parece um mundo que cresce impulsionado pela falta de opções de moradia e que só faz piorar as condições de vida nesses locais.

Um estudo do pesquisador Pedro Abramo, do Ippur (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional), da UFRJ, feito para o Instituto Pereira Passos, da Prefeitura do Rio, mostra que a dinâmica desse crescimento não pode ser explicada só pela miséria ou pela falta de opções.

O estudo mostra que há mais vantagens em morar na favela do que supõem os que a vêem de fora. Tanto que 69% de compradores de imóveis que foram confrontados pelos pesquisadores com outras opções de moradia dizem que continuariam ali.

O Censo do IBGE já havia mostrado que, de 1991 a 2000, o número de pessoas morando em favelas cariocas aumentou 24%, enquanto a população das outras áreas da cidade cresceu 4%. Era de se supor que isso viesse acompanhado de uma piora generalizada nas condições de moradia das favelas.

No entanto, apesar do crescimento maior da população, o número médio de moradores por domicílio nas favelas cariocas não só diminuiu, como também caiu mais do que no resto da cidade.

Em 1991, segundo o IBGE, em média 3,9 moradores dividiam o mesmo domicílio. Nove anos depois, o número caiu para 3,5. Na outra parte da cidade, o ritmo de redução foi menor: de 3,3 para 3,1.

Isso aconteceu porque aumentou o número de domicílios nas favelas numa proporção maior do que o aumento da população.

Uma família que, por exemplo, tinha quatro pessoas morando numa mesma casa na favela em 91, apareceu no Censo com uma densidade de quatro moradores por domicílio. Se, de 91 para 2000, ganhou mais três membros, mas conseguiu comprar outro domicílio na favela, a média caiu para 3,5, apesar do aumento.

Foi o caso do subgerente Jorge Fernando, 22, que se casou e foi morar há dois anos na casa do sogro, na favela Rio das Pedras, na zona oeste.

Para não deixar ainda mais apertada a casa, começou a construir, em cima da laje, um novo domicílio. Esse crescimento "para cima", que ocorreu no caso de Fernando, ajuda a explicar em parte o crescimento das favelas.

No entanto, esse aumento não acontece apenas pela falta de opções. O estudo sobre o mercado imobiliário de 15 favelas cariocas mostra que, do total de pessoas que compraram imóveis nessas áreas nos seis meses anteriores à pesquisa, 57% já moravam lá.

Os pesquisadores também apresentaram aos moradores que haviam adquirido imóveis opções como trocar a residência recém-comprada ou alugada por uma casa maior, com escritura, num bairro mais distante ou se mudar para uma quitinete no centro da cidade. A maioria (69%) disse que preferiria continuar onde está.

"Os pobres em favelas não são escravos de sua miséria. Apesar dos recursos escassos, tomam decisões racionais", diz Abramo. Ele explica que o atrativo da favela não está apenas na proximidade com o local de trabalho.

Uma caminhada por algumas comunidades do Rio ajuda a entender melhor porque há tantos que, mesmo podendo trocar de lugar, preferem a favela.
O caso de Rio das Pedras é emblemático. Cinco minutos no local suficientes para questionar se trata-se realmente de uma favela.

Para o IBGE, Rio das Pedras é favela. Mas, pela dinâmica do comércio, pela qualidade das construções e pelo acesso a serviços públicos, as condições de vida lá em nada lembram imagens de ruas sem esgoto e lixo nas ruas.

No entanto, como na maioria das favelas cariocas, há um grande número de moradores sem título de propriedade. E isso é peça chave para entender os fatores que, para o bem ou mal, levam os moradores a continuar na favela.

A ausência de regularização dos imóveis dificulta o controle urbano, mas dá mais liberdade de construção. Uma casa na favela pode ganhar mais dois andares sem burocracia. Isso pode ser uma opção de renda quando, como ocorre no morro do Borel, a associação de moradores anuncia em seu quadro de avisos, além de casas para vender ou alugar, lajes de residências onde um comprador poderá construir um imóvel.

Ou então, como ocorre em Rio das Pedras, quando pequenos construtores fazem acordos com donos de casas que não têm dinheiro para construir.

Arcam com as obras de mais dois andares e dividem os imóveis feitos com o dono do terreno.

Esse mercado imobiliário das favelas oferece, pela pesquisa, casas de dois quartos num valor médio de R$ 11,5 mil, mas há opções desde R$ 4.300 a R$ 29,6 mil.

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