Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/09/2004 - 08h29

Inverno de SP é o mais poluído em 5 anos

Publicidade

MARIANA VIVEIROS
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

Valéria teve princípio de pneumonia e parou no hospital. Gretha está com enxaqueca, dor de garganta e tosse. Para ambas, a poluição é um dos principais responsáveis pelos sintomas. E provavelmente elas estão certas.

O inverno de 2004 ainda nem acabou e, em relação aos últimos cinco anos, já é o campeão em registro de má qualidade do ar na Grande São Paulo.

Entre 1º de maio e a última sexta-feira, as estações de medição da Cetesb (agência ambiental paulista) indicaram por 22 vezes, em nove dias, que respirar na região metropolitana poderia trazer riscos à saúde por causa do excesso de poluição.

É a maior freqüência desde 99, quando o ar foi considerado ruim (a concentração de poluentes ultrapassou o nível de atenção) por 29 vezes, em dez dias. A marca ainda pode, porém, ser batida, pois faltam 18 dias para o fim da Operação Inverno da Cetesb (de 1º de maio a 30 de setembro).

No mesmo intervalo de tempo, em 2003, houve 11 registros de ar ruim, em cinco dias. Em 2002, o ar esteve ruim por seis vezes, em três dias; em 2001, por oito vezes, em quatro dias; e em 2000, por nove vezes, também em quatro dias.

A qualidade do ar é medida por 23 estações em pontos estratégicos da Grande São Paulo. No conjunto, elas dão um retrato da poluição na região como um todo.

Cada uma mede um grupo de poluentes, segundo sua localização. O índice de qualidade geral é determinado pelo pior caso; num mesmo dia pode haver mais de um registro de ar ruim.

A comparação com os anos anteriores não pode ir além de 99 por diferenças nas medições (menos estações, por exemplo).

O vilão e as vítimas

Neste ano, como nos anteriores, o grande vilão do inverno foi o maior vilão do verão e da primavera: o ozônio (O3).

Ele foi responsável por todos os registros de má qualidade. Apesar de não ser característico do inverno, teve altas concentrações nos dias ensolarados, quentes e secos do fim de agosto e início deste mês --o que não é anormal, mas ocorreu com maior intensidade.

O O3 resulta da reação entre óxidos de nitrogênio (NO e NO2), emitidos por carros e indústrias, e hidrocarbonetos (compostos orgânicos de carbono e hidrogênio), emitidos pelos carros, pela evaporação de combustíveis e por atividades que envolvem tintas, solventes e derivados do petróleo.

O processo de formação é desencadeado pela energia solar. Temperaturas acima de 25C e umidade abaixo de 42% ajudam.

Se, na camada superior da atmosfera, o ozônio é benéfico, próximo ao solo pode causar ou agravar irritações nos olhos e vias respiratórias e danificar a vegetação. Ele tem sido associado ao aumento de admissões hospitalares e já foi relacionado a um maior número de casos de câncer.

A medicina persegue hoje medidas práticas para aliviar seus efeitos. O uso de antioxidantes, como as vitaminas C e E, em pessoas que vivem em áreas muito poluídas já está em estudo.

Apesar de não ver uma tendência no aumento dos registros de má qualidade do ar --porque o intervalo de comparação é pequeno--, a Cetesb diz não ter perspectiva de que as concentrações de O3 diminuam tão cedo, como ocorreu com o monóxido de carbono e as partículas inaláveis.

"O ozônio é um dilema mundial e o seu controle é limitado mesmo nos EUA e na União Européia", diz Jesuíno Romano, gerente da Divisão de Qualidade do Ar da agência. A dificuldade de combatê-lo reside em dois fatos: é formado por reações químicas complexas que envolvem poluentes de fontes diversas, diz Maria de Fátima Andrade, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

O cenário não é muito animador para as vítimas da poluição.

"Como tenho sinusite e rinite, todo inverno, quando o ar fica mais poluído, fico com o nariz machucado por dentro e com a garganta arranhando. Mas nunca tive sintomas tão fortes como neste ano", conta a produtora de eventos Gretha Rossini, 36.

"Estou com a garganta ruim, mas não vou ficar me entupindo de remédios. Tenho de esperar o clima melhorar", diz a relações-públicas Valéria Santoro, 25, que teve um princípio de pneumonia. "Meu médico avaliou que tanto a poluição como a mudança de temperatura são os responsáveis pelo meu quadro atual", conta.

Não há exames que digam com 100% de certeza que um problema de saúde é originado exclusivamente por poluição.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre poluição
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página