Inveja ativa área do cérebro relacionada à dor física, revela
experimento
Na
maioria dos vícios humanos tem sentido suficiente para
ser muito, muito tentadora. Luxúria, gula, preguiça,
lançando fortes expletivas a um membro da oposição
política, comprando um par de sapatos de pele de cobra
com 25% de desconto mesmo que tenha acabado de comprar um
par de sandálias vermelho-cereja na semana passada
- todas essas coisas são deliciosas, e é por
isso que as pessoas precisam ser repetidamente lembradas a
não fazer isso.
Um vício, entretanto, dispensa
quaisquer enfeites hedônicos e gera tanta dor que você
pensaria ser uma virtude, embora não haja nenhum ganho
final em massa muscular: a inveja. Escondendo-se em sexto
lugar nas listas tradicionais dos sete pecados capitais, entre
a ira e a vaidade, a inveja é o profundo e muitas vezes
hostil ressentimento em relação a alguém
que tem algo que você quer, como dinheiro, beleza, uma
promoção ou a admiração de um
colega. É um vício que poucos podem evitar,
mas que ninguém anseia, pois experimentar a inveja
é se sentir menor e inferior, um perdedor embrulhado
em maldade.
"A inveja é corrosiva,
feia, e pode arruinar sua vida", diz Richard H. Smith,
professor de psicologia da Universidade do Kentucky, que escreveu
sobre a inveja. "Se você é uma pessoa invejosa,
é difícil apreciar muitas das coisas boas que
estão por aí, pois você está ocupado
demais se preocupando sobre como elas se refletem em si próprias."
Agora, pesquisadores estão
colhendo percepções sobre os interiores neurais
e evolutivos da inveja, e por que ela pode parecer uma doença
física ou um golpe real. Eles também estão
traçando o caminho da igualmente pequena embalagem
da inveja, a sensação de "schadenfreude"
- sentir prazer quando aqueles que você inveja são
levados à lona.
Na edição atual do jornal
científico "Science", pesquisadores do Instituto
Nacional de Ciências Radiológicas, no Japão,
e colegas descreveram estudos de exames cerebrais com participantes
que tiveram de imaginar a si mesmos como protagonistas de
dramas sociais envolvendo personagens com maiores ou menores
status de realização.
Ao confrontar personagens que os participantes
admitiam invejar, as regiões cerebrais envolvidas em
registrar a dor física eram estimuladas: quanto mais
alto os participantes classificavam sua inveja, mais vigorosamente
respondiam as saliências da dor no córtex dorsal
anterior e áreas relacionadas.
Ao mesmo tempo, dizem os pesquisadores,
quando os participantes receberam a oportunidade de imaginar
a queda do sortudo, os circuitos de recompensa do cérebro
foram ativados, novamente em proporção à
força da ferroada da inveja: os participantes que sentiram
a maior inveja reagiram à desgraça do outro
com uma reação mais vigorosa nos centros de
prazer de dopamina como, por exemplo, o striatum ventral.
"Temos um ditado em kaponês, 'As desgraças
dos outros têm gosto de mel,' diz Hidehiko Takahashi,
o primeiro autor do estudo. "O striatum ventral está
processando esse 'mel'".
Matthew D. Lieberman, do departamento
de psicologia na Universidade da Califórnia, em Los
Angeles, co-autor de um comentário que acompanha o
relato, diz ter se impressionado por como os combinados neurais
de inveja e schadenfreude eram amarrados conjuntamente, com
a magnitude de um prevendo a força do outro. "É
assim que funcionam outros sistemas de processamento de necessidades
como a fome e sede," diz ele. "Quanto mais fome
ou sede você sente, o mais prazeroso será quando
você finalmente beber ou comer."
As novas descobertas são preliminares,
mas alguns cientistas expressaram reservas sobre o que elas
ou outros resultados de exames do dinâmico campo de
neurociência comportamental realmente significam. Todavia,
a pesquisa lança uma luz sobre uma poderosa emoção
que nós negamos ou ridicularizamos, mas ignoramos em
nosso risco. Grande parte da recente crise econômica,
sugere Smith, pode muito bem ter sido abastecida por inveja
fugitiva, à medida que financistas competiam para evitar
a vergonha de ser um "mero" milionário.
A inveja pode ser vista em outros
animais sociais com reputações pessoais a defender.
Frans de Waal, do Yerkes National Primate Research Center
em Atlanta, apontou que os macacos eram felizes em trabalhar
por fatias de pepino, até que uma pessoa passou a dar
recompensas melhores, como uvas, a um dos macacos. Então
os outros pararam de trabalhar por pepino e começaram
a criar um rancor. "A emoção primária
é provavelmente a inveja ou o ressentimento",
diz de Waal.
Quando as crianças percebem
que têm irmãos, suas vidas se tornam dominadas
pela inveja. Por que ela sempre se senta na janela? O pedaço
de bolo dele é maior! Sem irmãos? Tudo bem:
você pode invejar o gato.
Pesquisadores muitas vezes distinguem
entre a inveja e o ciúme que você sente, digamos,
ao ver seu amado flertar com outra pessoa numa festa. O ciúme
é um triângulo, diz Smith, no qual você
teme perder um ser amado para outra pessoa. A inveja é
um assunto entre duas pessoas, uma flecha indo de seu seio
invejoso ao coração do outro mais favorecido.
Embora a inveja seja incansável e gregária,
podendo abraçar facções populares, a
honra gira e completa Estados-nações. "É
um fato da vida que prestemos muita atenção
ao status, a quem está indo bem e quem não está,
e como parecemos em comparação a outros",
diz Colin W. Leach, professor associado de psicologia na Universidade
de Connecticut, em Storrs, que estuda a inveja.
Como regra, invejamos aqueles que
são como nós em muitas maneiras - sexo, idade,
classe e currículo. Ceramistas invejam ceramistas,
observou Aristóteles.
Paradoxalmente, essa indução
de emoções principalmente social tem sua confissão
entre as menos socialmente aceitáveis. Hostilidade
ciumenta a um rival romântico é um tópico
aceitável para conversação. Hostilidade
invejosa a um rival profissional é mais como uma função
corporal constrangedora: por favor, não compartilhe.
Quando questionados por pesquisadores sobre sua inveja, participantes
de estudos disseram, "Estou secretamente envergonhado
de mim mesmo."
Da forma como os cientistas evolucionários
a veem, as características importantes da inveja -
as persistência e universalidade, sua fixação
com o status social e o fato de coexistir com a vergonha -
sugerem o desempenho de um profundo papel social. Elas propõem
que nossos impulsos individuais podem ajudar a explicar por
que os humanos são comparativamente menos hierárquicos
que muitas espécies primatas, mais inclinados a um
igualitarismo bruto e a se rebelar contra reis e magnatas
que conseguem mais do que sua parte justa.
A inveja também pode nos ajudar
a manter a linha, nos tornando tão desesperados para
parecermos bem que tomamos a estrada correta e começamos
a agir bem. Lutamos com nossa inveja particular, nossos anseios
por mais estima que comandemos, e a luta só aguça
o doloroso contraste entre a suposta perfeição
do adversário, que santificamos num trono imaginário,
e a mercadoria defeituosa que somos nós mesmos.
"Se você deseja a glória,
pode invejar Napoleão", disse Bertrand Russell.
"Mas Napoleão invejava César, César
invejava Alexandre, e Alexandre, ouso dizer, invejava Hércules,
que nunca existiu." Se a inveja é um imposto cobrado
pela civilização, todos precisam pagar.