São Paulo está entre as piores cidades do Estado
para idosos
Capital
fica em 503º lugar entre 645 municípios; cidade
de apenas 6.000 habitantes é a melhor para a terceira
idade
Estudo do governo de SP e da Fundação
Seade leva em conta mortalidade precoce, acesso à renda
e atuação em atividades diversas
Estudo do governo de São Paulo divulgado ontem mostra
que a capital é uma das piores cidades do Estado em
condições de vida para os idosos.
Dos 645 municípios paulistas, a cidade de São
Paulo está na 503ª posição, com
38 pontos numa escala de zero a cem.
Para a dentista Helena Baitz, 66, o que São Paulo oferece
para os idosos é "um horror". "Eu me
reúno com grupos de amigos para cantar e nos divertir,
mas é um grupo. A maioria dos idosos tem mais motivos
de insatisfação que de alegria", diz.
O índice do estudo leva em conta mortalidade precoce
dos idosos, acesso à renda e participação
em atividades culturais e esportivas, por exemplo.
Entre as dez maiores cidades do Estado, apenas uma -São
José dos Campos- tem índice considerado alto
pelo governo.
As outras nove têm pontuação em torno
de 50 ou abaixo.
"A proporção de idosos é maior nas
pequenas cidades. E é mais fácil o poder público
localizar essa faixa etária e dar atenção
a ela", diz Felícia Madeira, diretora-executiva
da Fundação Seade, que fez o levantamento em
conjunto com a Secretaria Estadual de Assistência e
Desenvolvimento.
"Se as cidades não fizerem nada, será uma
bomba-relógio em todas as áreas", afirma
o secretário, Rogério Amato.
Para Wilson Jacob Filho, professor titular de geriatria da
Faculdade de Medicina da USP, as cidades menores são
melhores em qualidade de vida para os idosos. Segundo diz,
em todo o mundo os índices mais altos de longevidade
não estão em megalópoles como São
Paulo.
"A cidade foi se transformando num ambiente hostil e
não acolhedor a um idoso que tem algum grau de limitação",
afirma. "Nas cidades pequenas, as coisas são mais
próximas, o idoso transita com facilidade. Além
disso, na capital os familiares dos idosos são comprometidos
com o trabalho. No interior sempre tem alguém mais
perto para cuidar do idoso."
Bailes e ginástica
A rotina de Donária de Lima Moreira, 85, é o
retrato do dia a dia dos idosos de Santo Antônio da
Alegria (a 331 km da capital), de 6.000 habitantes e cidade
de SP com melhores condições para os idosos.
Ontem, Donária acordou uma hora mais tarde, às
4h, porque na véspera ficara até a meia-noite
assistindo ao jogo do São Paulo, seu time do coração.
"É que às 7h já tinha de estar na
aula de ginástica e, antes disso, precisava fazer muita
coisa aqui em casa", disse. Antes de se exercitar no
Centro de Convivência do Idoso, ela arrumou a casa,
passou e lavou roupas e alimentou as galinhas.
Mas é aos sábados, dia de baile no CCI, mantido
pela prefeitura, que a vitalidade dela se destaca. Donária
é apontada pelas colegas como uma das mais animadas.
"O que tocar eu danço. Bolero, valsa, forró",
diz.
O casal Orildes José Firmino, 77, e Marcília
Naves, 68, redescobriu o prazer de namorar há dez anos.
Viúvos, resolveram tentar um novo relacionamento. Hoje,
elogiam a tranquilidade da cidade e frequentam as aulas de
ginástica e o forró.