HOME | NOTÍCIAS  | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | QUEM SOMOS


Envie sua opinião



06/10/2006
Carta da semana

INCOERÊNCIA NACIONAL

“Você já se perguntou por que nos denominamos “brasileiros” e “brasileiras”, se para todo o mundo somos “brasilianos” e “brasilianas”? É curioso observar que para os ingleses, espanhóis e italianos, somos brazilians, brasileños e brasilianos.

Na época do Brasil Colônia, “brasileiros” eram os que comercializavam os produtos do Brasil. Eram assim chamados os que voltaram para Portugal com os produtos daqui extraídos. Não apenas os portugueses, mas quaisquer outros que comercializassem tudo aquilo que aqui encontravam. Com o passar do tempo é que a palavra “brasileiro” passou a designar, também, a pessoa nascida no Brasil.

Os que exploravam o pau-brasil também eram conhecidos como “brasileiros”, assim como os trabalhadores que não faziam parte da elite, como os verdureiros, açougueiros, barbeiros, sapateiros e cozinheiros. Todos eles seguidos do sufixo “-eiro”, muito diferente das profissões dos intelectuais, como médicos, advogados, professores e juízes. Enquanto falamos de trabalho, é de se considerar louvável, mas quando destacamos outras palavras, que são de caráter pejorativo, como trambiqueiro, trapaceiro, maloqueiro, caloteiro, politiqueiro e baderneiro. Tudo isso rima muito bem com “brasileiro”.

Outros termos, agora seguidos do sufixo “-eira”, seguem o mesmo padrão vulgar, como fofoqueira, fuxiqueira, bandalheira, regateira, alcoviteira, bagaceira e barraqueira. Quando se trata de coisas asquerosas, como coceira, frieira, caganeira, sovaqueira, sujeira, zoeira e lezeira encontramos também o sufixo “-eira” empregado e de maneira usual em nossa linguagem cotidiana.

A nova edição do Dicionário Oxford traz um novo significado para a palavra "Brazilian": "Estilo de depilação no qual quase todos os pêlos pubianos da mulher são retirados, permanecendo apenas uma pequena faixa central". O novo verbete, que vem logo abaixo do significado tradicional de nativo ou nacional do Brasil, foi incluído na mais respeitada referência da língua inglesa britânica, oficializando o uso generalizado da palavra pela indústria da beleza.

O curioso é que lugares insalubres e perigosos também foram construídos com os mesmos sufixos, como galinheiro, pulgueiro, pardieiro, chiqueiro, despenhadeiro, lamaceiro e atoleiro. É para se pensar.

Quando nos referimos aos naturais de outros países, utilizamos os sufixos adequados para esta finalidade, como americano, cubano, iraquiano, australiano e mexicano. Seria incoerente tratá-los como “ameriqueiros”, “cubeiros”, “iraquieiros”, “australieiros” e “mexiqueiros”? Seria, da mesma forma para as demais nações que têm outros sufixos empregados por uma questão semântica, como os belgas, ingleses, espanhóis e argentinos.

Toda essa discussão é para levantar um ponto central: por que temos na construção da essência da nossa identidade nacional dois sufixos que concentram a vulgaridade, os comportamentos socialmente inadequados e tudo o que é ruim? Somos uma nação livre e independente e porque deve ser o apelido dado pelos colonizadores lusitanos a forma mais coerente de nos designarmos enquanto filhos de um país?

Para o mundo sempre fomos o país do carnaval, do futebol, das riquezas naturais inesgotáveis e da beleza de suas mulheres, assim como do país da corrupção, da violação de direitos e da desigualdade social. Até quando seremos vistos dessa forma? É para se pensar! Basta!”,
Cavaleiro Solitário -cavaleiro1500@yahoo.com.br

 

CIDADÃO JORNALISTA é um espaço destinado aos leitores e ouvintes que ao relatarem fatos e experiências de sua cidade, comunidade e cotidiano, tornam-se repórteres por um momento.

 
 

Anteriores:
29/09/2006
A desinteligência do voto
29/09/2006
Educação em período eleitoral
22/09/2006
O anel de formatura
15/09/2006
Os destinos da educação e o professor aposentado
08/09/2006
Por uma pedagogia incendiante ou incendiária!
01/09/2006
Errar, e perseverar
25/08/2006
Eu Tenho um Sonho
18/08/2006
Veja a repercussão e opiniões diversas dos leitores a respeito da coluna “Serra foi preconceituoso?”
11 /08/2006
Democracia Já
04/08/2006
Para aqueles que ainda podem pensar em estrelas e galáxias