A faixa
que, percentualmente, vem demonstrando melhor desempenho na
ocupação de vagas é a de 50 a 64 anos
Uma das informações mais relevantes sobre o
futuro do Brasil aparece sem maior destaque num relatório
sobre novas tendências do emprego no país, elaborado
pelo Ministério do Trabalho: o "tiozão"
está em alta. A faixa etária que, percentualmente,
vem demonstrando melhor desempenho na ocupação
de vagas é a de 50 a 64 anos -um segmento que, até
pouco tempo atrás, seria considerado o fim da linha.
Enquanto a expansão do número de trabalhadores
entre 16 e 17 anos de idade caiu 2% neste ano, em comparação
com 2006, os "tiozões" avançaram em
9,77%. Acima dos 65 anos, o crescimento foi de 6,1%, o dobro
do verificado na faixa etária dos 18 aos 24 anos. Esses
números revelam que o mercado de trabalho se abre a
indivíduos com maior experiência e escolaridade,
deixando um pouco de lado preconceitos sobre a idade.
O emprego do "tiozão" vale mais do que todos
os discursos sobre a importância, tão repetida
e tão pouco considerada, de investir em qualidade da
educação. É um dos impulsos para que
se alcance melhor posição no ranking de desenvolvimento
humano, divulgado na semana passada, no qual, apesar de todos
os avanços (e não foram poucos, vamos reconhecer),
estamos atrás de nações mais pobres.
O desempenho negativo dos mais jovens se deve a pelo menos
dois motivos: 1) mais adolescentes preferem concluir o ensino
médio e retardar a procura por uma vaga; 2) os empregadores
estão cada vez mais seletivos.
Essa tendência explica a crescente atenção
à tragédia do ensino médio público,
do qual apenas 5% dos estudantes saem com conhecimentos apropriados
em língua portuguesa e onde existe um apagão
de professores, especialmente na área de ciências,
traduzido na péssima posição que o país
ocupou no Pisa, um teste internacional de educação,
divulgado na semana que passou. Para piorar, dias depois,
outro ranking, o da Unesco, coloca-nos depois do Paraguai
e da Bolívia.
A debilidade educacional fez com que o apagão de trabalhadores
qualificados entrasse no topo das preocupações
sobre o crescimento econômico, comparável, para
muitos, a uma eventual escassez de energia.
Há carências por todos os lados e nas mais diferentes
profissões. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
faltam profissionais de todas as áreas, de engenheiro
a manicure, passando por advogados especialistas em fusões.
A bilionária corrida por ações da BM&F,
na sexta-feira, reproduzindo o que já tinha ocorrido
com a Bovespa, traz toda uma série de demandas de novos
profissionais nas mais diversas áreas em torno do mercado
de capitais.
Quando olhamos para o que sai das escolas públicas,
vemos a disparidade com o mercado. Por isso, entre outras
razões, vemos com desconfiança e sem muitos
motivos para comemorar o fato de o Brasil estar, conforme
foi divulgado na semana passada, na lista dos países
com alto desenvolvimento humano.
Mas o emprego do "tiozão" indica que também
existem inúmeros motivos para um cauteloso otimismo:
a educação do brasileiro terá de crescer
na marra por uma questão econômica. Assim como
terão de, na marra, evitar a crise de energia.
Meu cauteloso otimismo é motivado porque, além
das pressões econômicas, o país está
aprendendo a se guiar por indicadores de qualidade. Só
nas últimas semanas, os alunos da cidade de São
Paulo passaram por três testes, ministrados pelos governos
municipal, estadual e federal.
Cria-se uma pressão da opinião pública
e captura-se a atenção dos meios de comunicação.
Note-se que os resultados do Pisa foram as principais manchetes
dos mais importantes jornais brasileiros. Até pouco
tempo atrás, o assunto não teria nem chamada
na primeira página.
Está quase se tornando um consenso a idéia de
que é necessário implantar a jornada de aulas
em tempo integral, coisa que já vem ocorrendo em algumas
cidades, com resultados promissores tanto na atitude dos alunos
como em suas notas. Inventam-se novas fórmulas para,
com pouco dinheiro, deixar as crianças mais tempo estudando.
A cidade de São Paulo prepara-se para lançar
a escola de sete horas, com direito a almoço. O Ministério
da Educação decidiu, neste ano, disseminar a
educação em tempo integral e já reservou
verba para estimular prefeitos e governadores a ampliar o
número de aulas.
O emprego do "tiozão", além do melhor
desempenho dos trabalhadores com mais de 65 anos, não
é resultado de nenhuma consideração especial
para com a terceira idade. É apenas um recado: valemos
o quanto sabemos.
PS - Como o "tiozão", a mulher é
um bom indicativo das mudanças do mercado de trabalho.
Nos últimos relatórios, vemos que cresceu ainda
mais o emprego feminino, o que se explica pela crescente superioridade
delas em relação aos homens. Coloquei em no
site
um dossiê sobre as tendências do emprego, no qual
se nota que, depois de muito tempo, devido à demanda
por trabalhadores qualificados, expande-se a classe média.
É surpreendente como o ensino superior, particularmente
o privado, vem oferecendo os mais diversos cursos de olho
na sofisticação do mercado.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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