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REFLEXÃO


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urbanidade
05/10/2005
Bem na foto

Fotógrafo especializado em moda, Guy Paganini acostumou-se a ver mulheres deslumbrantes tremerem de insegurança diante das lentes. "Temos de relaxá-las, fazê-las sentirem-se à vontade e autoconfiantes para que percam o medo de saírem feias. A distância entre uma ótima e uma péssima foto é de um milímetro. Basta uma expressão tensa e nada dá certo", ensina.

Se já é difícil uma profissional relaxar no estúdio, imagine senhoras, todas com neto, posando pela primeira vez na vida. No mês passado, Guy enfrentou a tarefa de fazer 12 avós sentirem-se naturais, seguras e belas diante de sua câmera. Isso apesar de estarem nuas. "Acho que eu estava mais inseguro do que elas." Um delas estava tão tensa que segurava as rosas que lhe cobriam o corpo como se estivesse agarrada a uma corda no desfiladeiro.

Inspiradas no filme inglês "Garotas do Calendário", baseado na história de mulheres acima dos 50 anos que posaram nuas para arrecadar recursos para um hospital, voluntárias de um centro de tratamento de câncer infantil (Graac) também decidiram tirar a roupa para ilustrar os meses do ano. O escolhido foi Paganini, um autodidata da fotografia, que tentou engenharia e publicidade, mas acabou fazendo sucesso clicando mulheres sem rugas, celulites ou pneus em volta dos quadris, como Naomi Campbell e Gisele Bündchen. Neste momento, está realizando um ensaio com Fernanda Lima.

Para relaxar o ambiente, Paganini diminuiu a luz do estúdio e colocou uma suave trilha sonora de fundo. Sem pressa, ajeitava arranjos de flores que contornavam a força do tempo em seus corpos. Para dar-lhes segurança, mostrava como as imagens tornavam-se elegantes e até sensuais. "Lentamente, elas ganham mais confiança, e a expressão tornava-se mais bela."

Naquela experiência, ele percebeu que, além dos truques, tinha algo que as fazia enfrentar as câmeras, apesar da forma física comprometida pela idade. "Todas se imaginavam belas porque batalhavam por uma causa." Para Guy, essa sensação de doação -tanto quanto sua habilidade de jogar a luz adequada- produziu a sensualidade que procurava. "Foi o que me deu o melhor ângulo." Não foram, claro, as modelos mais belas que fotografou, mas, desta vez, teve a chance de produzir um calendário de mulheres nuas que vai ganhar espaço mais nobre do que as paredes de borracharias.

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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