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REFLEXÃO


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urbanidade
07/06/2006
Ritmo "soteropaulistano"

Marcos Magalhães está criando uma rede de escolas públicas de tempo integral, onde o professor tem bônus

Formado em administração, com especialização na Inglaterra, Reinaldo Pomponet, de 32 anos, já trabalhou em banco (Citibank), empresa de alta tecnologia (Microsoft) e, agora, dedica-se ao aprimoramento genético de peixes. A junção dessas habilidades em administração e tecnologia o levou a desenvolver, nas horas vagas e voluntariamente, uma experiência para a turma dos "sem-CD", artistas desconhecidos sem capacidade de produzir e lançar suas músicas. "É necessário preparar os músicos a saber tirar proveito das novas tecnologias", diz Reinaldo, um baiano nascido em família de músicos e há 12 anos em São Paulo.

O que toca Reinaldo é a incapacidade de os blocos afros tradicionais, na Bahia, enfrentarem o mercado e gravarem suas composições, além da falta de oportunidade de talentos entre os jovens, especialmente aqueles que não entram na onda do axé. "É um monumental desperdício." Reinaldo saiu atrás de apoiadores para montar um misto de escola, estúdio e cooperativa -ali, jovens receberiam orientação para se aprimorar e gravar, sem custo.

Bateu pelo menos numa porta certa. Descobriu que um executivo nordestino que vive em São Paulo gosta de música e, acima de tudo, cultiva o prazer de fazer experimentos educacionais. Marcos Magalhães, da Philips, está criando, em Pernambuco, uma rede de escolas públicas de tempo integral e currículo baseado no cotidiano, envolvendo governo, empresários e comunidade. Nessas escolas, o professor recebe um bônus com base nas notas dos alunos - o que é uma raridade na rede pública.

Patife descobre raízes
Desse encontro com a Philips, nasceu, em Salvador, a "Eletrocooperativa", que, a cada ano, vai lançando os CDs e aprimorando os artistas. "Com as aulas de música, eles aprendem como gravar e colocar seu trabalho na internet [www.eletrocooperativa.art.br]."

Na festa de lançamento da experiência, em 2004, mesclaram-se os mundos paulistano e soteropolitano. Dois DJs paulistanos, renomados dentro e fora do país - Patife e JD CIA-, embrenharam-se, em Salvador, entre os blocos afros e terreiros de candomblé. Os dois têm raízes baianas, mas que nunca levaram em consideração. "Eles sentiram que estava ali uma dimensão viva, forte, que nunca tinham percebido." Patife ficou a tal ponto tocado que decidiu gravar uma música misturando música eletrônica com a percussão de 30 percursionistas de diferentes bandas afros de Salvador.

A partir deste ano, a idéia é fazer uma ponte digital, por meio da Eletrocooperativa, entre jovens paulistanos e os de Salvador."Poderão contar suas experiências e, quem sabe, à distância, gravar juntos." Nos seus projetos, está a idéia de fazer um encontro, transformado em show, em alguma praça. Gente disposta não falta. Nem falta identificação regional. Não só porque Sampa, o hino informal da cidade, é de autoria de Caetano Veloso. Ou porque aqui tenha sido a plataforma de lançamento do tropicalismo. "São Paulo, como sabemos, é a maior cidade baiana do Brasil."
O que ainda não existia era a possibilidade de experimentar, nessa ponte digital, um ritmo "soteropaulistano".


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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