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REFLEXÃO


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urbanidade
08/09/2005
A invenção do psiquiatra-palhaço

Frederico (Fred) Galante Neves tem uma inusitada trajetória profissional. Depois de passar nove anos na Universidade de São Paulo, formou-se em psiquiatria e começou a tratar pacientes internados em hospitais públicos. Desde julho passado, aposentou por algumas horas os antidepressivos ou ansiolíticos e passou a receitar risadas. Tornou-se palhaço para uma platéia de psicóticos, deprimidos, alcoólatras, esquizofrênicos. "Acho que, enfim, me encontrei."

Quando ainda era estudante de faculdade, Fred tinha uma forte atração pelos palcos do teatro. Nas suas crises existenciais, pensava que talvez fosse mais feliz se seguisse a carreira de ator. "Mas também gostava da idéia de ser médico." Ao optar pela psiquiatria, procurou atalhos entre a saúde mental e o teatro. Testou o psicodrama. "Não gostei." Sem maiores pretensões, iniciou no ano passado um curso de formação de palhaço. "Foi uma paixão fulminante."

Passou-lhe pela cabeça não a idéia de trocar a psiquiatria pelo circo, mas a possibilidade de conciliar as duas atividades -o que, para alguns de seus colegas, sugeria que aquele psiquiatra talvez precisasse de tratamento psicológico. Fred sabia da existência de um movimento de palhaços que fazem intervenções nos hospitais. "Fui procurar exemplos de psiquiatras-palhaços que trabalhassem com pacientes com distúrbios mentais." Não encontrou exemplos.

Montou uma dupla com um palhaço que já tinha trabalhado em hospitais -Luis Fernando Bolognesi- e começou a visitar as vítimas de distúrbios mentais internadas no Hospital João Evangelista, em São Paulo. Desde então, ele está escrevendo relatos sobre sua experiência. "Estou aprendendo que a figura do palhaço abre um canal de comunicação, capaz de facilitar o tratamento." Essa abertura, segundo ele, facilitaria a atuação dos médicos e psiquiatras que tratam daqueles pacientes.

Por onde vai e conta a experiência, Fred ouve a seguinte pergunta: os pacientes não vêem naquela figura de nariz vermelho, pintada, que faz brincadeiras uma espécie de delírio? Ou então mais um paciente internado para se tratar? Em muitos casos, segundo Fred, talvez. Para a maioria, conta, o palhaço é uma figura universal, que sempre, ao brincar com a imaginação, esteve acima da realidade.

Primeiros Resultados da Intervenção de Palhaços em Hospital Psiquiátrico

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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