REFLEXÃO


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pensata
15/10/2007

"Tropa de Elite" deveria ser obrigatório nas escolas

A exibição do filme "Tropa de Elite" deveria ser obrigatória nas escolas. Mais do que a envolvente denúncia da banalização do mal no Brasil, na qual policiais e bandidos se transformam em animais e criminosos, o filme provoca uma reflexão sobre a responsabilidade individual.

O inocente consumidor de maconha, sentindo-se conectado com a natureza ou com a leveza espiritual, ou o alto executivo que consome cocaína são apresentados também como sócios do tráfico - e com razão.

É fácil culpar apenas o governo, a polícia, os traficantes e assim por diante. Mais difícil é nos culparmos - e aí está um dos problemas brasileiros. A culpa é sempre dos outros. Vejamos alguns exemplos disso.

Muito mais do que o consumo de drogas, o que mais mata no Brasil é a ingestão de álcool, uma das causas das cem mortes diárias e dos mais de 100 mil feridos por ano no trânsito. Nem os publicitários nem os veículos de comunicação que exibem os anúncios de cerveja, com sedutores apelos, se sentem minimamente responsáveis por essa tragédia. A culpa? Só do governo.

Só nas ruas da cidade de São Paulo morre um motoboy diariamente (e mais 25 deles ficam feridos também a cada dia). Isso porque se contratam empresas de entrega irresponsáveis, mesmo sabendo que já existe um selo de qualidade para motofrete. A culpa? Só do governo.

As pessoas emporcalham as ruas com lixo apenas porque não têm paciência de jogá-lo em algum lugar apropriado. Madames não se incomodam que seus cachorros façam das calçadas banheiros. A culpa? Só do governo, que não limpa as ruas.

O governo sobe os impostos sem parar, assim como contrata novos funcionários públicos sem parar. Pouco se faz contra essa extorsão. Nem mesmo sabemos como o orçamento é feito. De quem é a culpa? Do governo.

Deputados, senadores, vereadores cometem crimes e fazem negociatas, mas pouco acompanhamos seus mandatos. Durante a campanha, preferimos o show do marketing à análise de propostas. Até esquecemos em que votamos. De quem é a culpa? Dos políticos.

Não quero deixar, é claro, de responsabilizar os governos. É preciso, porém, dizer que, num mundo civilizado, todos deveriam saber não apenas quais são seus direitos mas também quais são seus deveres. Isso é o básico de cidadania, cuja discussão o filme, através da droga e da violência, lança com alto teor pedagógico - portanto sua exibição deveria ser obrigatória na escolas.

É um bom debate para que saiamos dessa adolescência da cidadania, que pensa ter muitos direitos e poucos deveres.

***
Da mesma maneira, é obrigatório pensarmos que, no futuro, a droga será um problema não de polícia, mas apenas de saúde pública. Não sei se a repressão não acaba fazendo mais mal do que bem no combate ao vício.

Coluna originalmente publicada na Folha Online, editoria Pensata.

   
 
 
 

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