Ele se
viu seduzido a descobrir fotograficamente o seu entorno, atraído
pelos prédios do "centro velho"
Ronaldo Pereira da Silva Júnior cultiva um inusitado
hobby: fotografar calçadas de diferentes bairros de
São Paulo. "Descobri que é possível
revelar a alma de uma cidade através das suas calçadas."
A fotografia foi o que restou dos sonhos de comunicação
de Ronaldo, que, na adolescência, pensou em ser ator
e, depois, em seguir a carreira de publicitário. Preferiu
trabalhar em banco e, atualmente, estuda gestão financeira.
"Mas sempre mantive aquela vontade de me expressar artisticamente."
Em meio a planilhas repletas de números, ele se viu
seduzido a descobrir fotograficamente o seu entorno, atraído
pelos prédios do chamado "centro velho" -era
a sua deixa para sair do anonimato artístico.
Nas conversas de corredor, descobriu um funcionário
do banco -Anderson Patric Joaquim- que, como ele, gosta de
fotografar e estava interessado em descobrir os segredos do
centro. Nas horas vagas, os dois saíam para tirar fotos.
"Decidimos, então, focar melhor nosso olhar."
Desconfiaram que as calçadas talvez contassem as diversidades
e as desigualdades da cidade. "A calçada é
algo tão corriqueiro, passando por nossos olhos todos
os dias, que nem vemos como elas são o retrato de uma
comunidade." A dupla sentiu isso literalmente na pele
-um deles tropeçou no buraco de uma calçada
e se estatelou no chão.
A dupla buscava os contrastes documentando as calçadas
da periferia -onde um deles tomou o tombo- e a de ruas como
a Oscar Freire. "Lá, elas são todas niveladas,
bem cuidadas, limpas, há lugar para sentar e conversar,
respeito aos portadores de deficiência." Em outros
lugares, simplesmente não há calçadas,
o que os obrigava a caminhar pela rua, em meio aos automóveis.
As diferenças também se registraram pelos personagens.
Em alguns lugares, o que sobressai é uma árvore,
jardim ou até um elegante sapato de salto alto ou,
quem sabe, um cachorrinho todo vestido -em outros, além
dos buracos, crianças ou homens dormindo.
O projeto entra agora numa fase mais ambiciosa. A dupla quer
percorrer linhas de ônibus, saindo dos extremos das
zonas oeste, sul, leste e norte. Vão fotografar as
calçadas nos pontos iniciais e, de novo, na parada
final, para comparar as imagens.
No meio do caminho dessa experiência, a dupla percebeu
que tinha em mãos mais do que um projeto artístico:
imaginaram-se com um material para denunciar a desigualdade
de uma cidade por meio da dificuldade de circulação
de seus pedestres.
E, neste momento, Ronaldo e Anderson estão preparando
um jeito de sair do anonimato. Não sabem como nem quando,
mas colocaram na cabeça que todo esse material vai
virar uma exposição.
PS - Enquanto a exposição não vem, coloquei
abaixo algumas das fotos das calçadas que foram tiradas
por eles.
veja as calçadas
dos seguintes lugares:
Calçadas do centro de São
Paulo:
foto
1
foto
2
foto
3
foto
4
foto
5
foto
6
Rua
Oscar Freire
Vila
Madalena
Metrô
Tucuruvi
Zona
Norte
Avenida
Paulista
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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