Apesar de ter demonstrado um extraordinário
poder de articulação e de ter paralisado a mais
importante cidade brasileira, o PCC é somente um ínfimo
detalhe da insegurança nacional. Pouco adiantará
destruí-lo enquanto não se diminuir a quantidade
de mão-de-obra disponível ao crime organizado
-essa deveria ser uma das principais lições
dessa onda de ataques e mortes.
É uma mão-de-obra sem perspectiva de vida e,
por isso, seduzida a qualquer risco, como vimos nos ataques.
O problema mesmo está no fato de que, na região
metropolitana de São Paulo, existem 3,4 milhões
de jovens entre 15 e 24 anos de idade, dos quais 950 mil nem
estudam nem trabalham. Estimativas oficiais indicam que, em
todo o país, esse número subiria para 7 milhões.
A taxa média de desemprego no Brasil é alta.
É maior ainda entre os jovens e especialmente elevada
entre aqueles das regiões periféricas. Juntem-se,
então, a energia de sobra e o emprego de menos para
que resulte na combustão da criminalidade.
Para piorar, somem-se a desestrutura familiar, o pouco acesso
a lazer e a cultura, além da escassez e da péssima
qualidade dos serviços de saúde. Temos assim
os guetos, nos quais, muitas vezes, a polícia é
vista como corrupta e violenta e os líderes de gangues,
exemplos de sucesso.
O crime organizado do PCC é somente conseqüência
da sociedade desorganizada dos guetos. Se acabarem com o PCC,
surgirá um outro bando -com líderes tão
ou mais articulados e ferozes-, pela simples razão
de que se estaria atacando a conseqüência e não
a causa.
Qualquer indivíduo com um mínimo de vivência
nos morros e favelas sabe disso. Também de pouco adiantará
apostar apenas no crescimento econômico. A imensa parte
daquela mão-de-obra terá dificuldade, devido
à baixa escolaridade, para se colocar no mercado de
trabalho. A esta altura, não existe solução
ideal, mas apenas a redução do dano, e isso
significa fazer o que deu certo em muitos lugares. Focar as
áreas conflagradas, numa combinação de
repressão e policiamento comunitário com ações
dos mais variados níveis de governo (federal, estadual
e municipal), para promover qualificação educacional
e profissional.
Tal obra de engenharia social dá trabalho, leva tempo,
exige a formação de uma liderança comunitária,
mas é a única resposta consistente ao crime
organizado.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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