REFLEXÃO


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urbanidade
17/09/2008

Qual é a origem?

Para protestar contra a elitização da moda, o estilista Jum Nakao ordenou a suas modelos que rasgassem a roupa na frente da platéia (veja fotos abaixo) durante um desfile da São Paulo Fashion Week. Preparada sigilosamente -as modelos só foram informadas poucos momentos antes do desfile-, a cena teve impacto mundial porque as roupas eram feitas de papel vegetal, provocando uma mistura de sons e cores aos corpos nus. Nakao prepara-se agora para mais uma rebeldia contra a moda de elite, e dessa vez as passarelas são as estações de metrô. "O mundo não precisa de pessoas obcecadas pela estética do corpo, precisa de pessoas melhores."

Durante a semana dedicada ao design, prevista para novembro, em São Paulo, Nakao vai dispor roupas em 30 estações do metrô -são roupas normalmente inacessíveis para quem, por exemplo, anda de transporte público. Mas, ali, serão acessíveis porque o estilista vai distribuir os moldes e os manuais para quem quiser copiá-las. "Cada um deveria se sentir o próprio estilista."

Esse prazer pela rebeldia deu ao estilista um estranho apelido nos tempos de estudante: "Qual é a Origem". Era assim que seus colegas, na escola técnica de informática, o chamavam, incomodados com o hábito de Nakao de ficar sempre questionando o professor. "Eu queria mesmo saber qual era a origem das fórmulas. Eu, na verdade, queria criar minhas próprias fórmulas." O problema é que as aulas demoravam mais do que o previsto e os colegas de classe ficavam irritados.

A vingança, em forma de deboche, veio no apelido "Qual é a Origem". A informática ajudou-o apenas a dominar melhor as novas tecnologias de informação, mas seu caminho foi se dirigindo para a moda. Aproveitou os conhecimentos que obteve no curso de artes plásticas da Faap ou trabalhando numa joalheria e numa alfaiataria para abrir sua grife. "Cansei desse mundo das passarelas. É bonito por fora, mas muito feio por dentro." Após a rasgação de roupas do desfile, Nakao rasgou sua carreira e resolveu dar novo uso para seu ateliê.

Deixou a confecção, mas não deixou a moda. Enveredou para o ensino. Dá aula na pós-graduação e viaja pelo Brasil, contratado pelo Sebrae, para dar assessoria a artesãos. Convidado a participar da semana do design, em novembro, pensou em transformar o metrô num misto de passarela com ateliê, onde acharia pessoas que jamais teriam condições de comprar certo tipo de vestido, desses que se vê na passarela. Ao lado dos modelos expostos, haverá monitores para dar as orientações sobre como usar os moldes e os manuais. " Acredito que cada um pode e deve cultivar seu estilo. Isso é o verdadeiro glamour."

Modelos rasgam as roupas de Jum Nakao durante o SPFW


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
   
 
 

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