Das andanças
pelo mundo, saiu a inspiração de criar, em São
Paulo, a Orquestra de Músicos das Ruas
Lívio Tragtenberg está desenvolvendo uma inusitada
parceria cultural entre Brasil e Estados Unidos: o intercâmbio
de músicos de rua. Além de se conhecerem, os
artistas farão apresentações conjuntas.
"Sempre me encantei com a criatividade de quem tocava
nas calçadas e nos parques."
Ele também fez das ruas sua escola - concluiu o ensino
médio no Colégio Equipe, mas não quis
cursar uma faculdade. Aprendeu sozinho a tocar piano e saxofone.
Produziu trilhas para cinema, vídeo, dança e
teatro, misturando jazz, MPB e música contemporânea.
Ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim, em
Nova York, para compor ópera, o que o projetou na Europa,
especialmente na Alemanha. O autodidata acabou dando aulas
na Unicamp.
Dessas andanças pelo mundo, saiu a inspiração,
em 2004, de criar, em São Paulo, a Orquestra de Músicos
das Ruas. Caminhando pelo Brás, Pari e imediações
da praça da Sé, ele encontrou tocadores nordestinos,
paraguaios, bolivianos e até japoneses. Para completar
a arregimentação, Lívio começou
a freqüentar a feira dos bolivianos, no Pari, e as associações
de imigrantes. "A orquestra foi criada em dez dias."
De mosaico de raízes culturais, brotaram composições
misturando samba com harpa paraguaia, forró com flauta
boliviana e baião com instrumentos japoneses de percussão.
"É uma experiência muito profissional trabalhar
com eles. São muito mais profissionais do que muitos
profissionais de formação acadêmica."
Como eles gravaram, graças ao Sesc, um CD, começaram
a fazer shows, garantindo sua sobrevivência além
das ruas. Lívio resolveu, então, desenvolver
a mesma experiência em Miami, com músicos latinos
de rua, todos vivendo como se estivessem numa diáspora
- e assim surgiu a Nervous City Orchestra.
Rapidamente, veio-lhe o desejo de embolar os dois grupos,
criando esse intercâmbio entre Miami e São Paulo.
"Só fico imaginando juntos, no palco, o repentista
do Maranhão com o cantor de rap latino." Lívio
tratou, então, de vender a idéia para eventuais
parceiros no Brasil e nos Estados Unidos. Como o Sesc já
tinha ajudado a lançar a orquestra, topou entrar no
projeto- e, agora, fundações americanas captam
recursos. "Em breve, vamos nos apresentar." O nome
provisório do espetáculo é "Diáspora
Mix".
No seu autodidatismo, Lívio aprendeu, nas ruas, noções
de psicopedagogia. Muitos daqueles músicos de São
Paulo e de Miami, desprezados, solitários, sentiram-se
reconhecidos. Passaram a batalhar para obter contratos. E
conseguiram. Daquela orquestra, por exemplo, já nasceu
um conjunto, batizado com o nome de "O som do meio-fio".
Lívio viu como a arte serve para gerar pessoas melhores,
aumentando a auto-estima. "Esse arranjo humano foi a
minha melhor sinfonia."
PS- Para ouvir as músicas, entre nos seguintes endereços:
www.myspace.com/somdomeiofio
www.myspace.com/orquestrademusicosdasruas
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|