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urbanidade
18/04/2007
Sinfonia da rua

Das andanças pelo mundo, saiu a inspiração de criar, em São Paulo, a Orquestra de Músicos das Ruas


Lívio Tragtenberg está desenvolvendo uma inusitada parceria cultural entre Brasil e Estados Unidos: o intercâmbio de músicos de rua. Além de se conhecerem, os artistas farão apresentações conjuntas. "Sempre me encantei com a criatividade de quem tocava nas calçadas e nos parques."

Ele também fez das ruas sua escola - concluiu o ensino médio no Colégio Equipe, mas não quis cursar uma faculdade. Aprendeu sozinho a tocar piano e saxofone. Produziu trilhas para cinema, vídeo, dança e teatro, misturando jazz, MPB e música contemporânea. Ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim, em Nova York, para compor ópera, o que o projetou na Europa, especialmente na Alemanha. O autodidata acabou dando aulas na Unicamp.

Dessas andanças pelo mundo, saiu a inspiração, em 2004, de criar, em São Paulo, a Orquestra de Músicos das Ruas. Caminhando pelo Brás, Pari e imediações da praça da Sé, ele encontrou tocadores nordestinos, paraguaios, bolivianos e até japoneses. Para completar a arregimentação, Lívio começou a freqüentar a feira dos bolivianos, no Pari, e as associações de imigrantes. "A orquestra foi criada em dez dias." De mosaico de raízes culturais, brotaram composições misturando samba com harpa paraguaia, forró com flauta boliviana e baião com instrumentos japoneses de percussão. "É uma experiência muito profissional trabalhar com eles. São muito mais profissionais do que muitos profissionais de formação acadêmica."

Como eles gravaram, graças ao Sesc, um CD, começaram a fazer shows, garantindo sua sobrevivência além das ruas. Lívio resolveu, então, desenvolver a mesma experiência em Miami, com músicos latinos de rua, todos vivendo como se estivessem numa diáspora - e assim surgiu a Nervous City Orchestra.

Rapidamente, veio-lhe o desejo de embolar os dois grupos, criando esse intercâmbio entre Miami e São Paulo. "Só fico imaginando juntos, no palco, o repentista do Maranhão com o cantor de rap latino." Lívio tratou, então, de vender a idéia para eventuais parceiros no Brasil e nos Estados Unidos. Como o Sesc já tinha ajudado a lançar a orquestra, topou entrar no projeto- e, agora, fundações americanas captam recursos. "Em breve, vamos nos apresentar." O nome provisório do espetáculo é "Diáspora Mix".

No seu autodidatismo, Lívio aprendeu, nas ruas, noções de psicopedagogia. Muitos daqueles músicos de São Paulo e de Miami, desprezados, solitários, sentiram-se reconhecidos. Passaram a batalhar para obter contratos. E conseguiram. Daquela orquestra, por exemplo, já nasceu um conjunto, batizado com o nome de "O som do meio-fio".

Lívio viu como a arte serve para gerar pessoas melhores, aumentando a auto-estima. "Esse arranjo humano foi a minha melhor sinfonia."

PS- Para ouvir as músicas, entre nos seguintes endereços: www.myspace.com/somdomeiofio
www.myspace.com/orquestrademusicosdasruas


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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