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Nessa última semana, ocorreu
um incidente envolvendo o jornal “A Gazieta”,
publicado pelo grupo “escória”, que consistiu
em uma ofensa gratuita e altamente Racista aos alunos desta
Faculdade. A ofensa, a qual foi dado o título de “tese
da escória”, versava do seguinte modo:
“Tese 8: A escravidão como salvação
dos negros africanos.
Se não fossem escravizados, não seriam trazidos
ao continente americano. Por pior que estejam aqui atualmente,
estão melhores do que estariam na África dos
dias de hoje.”
Desde então, viu-se ao longo da semana um intenso debate
sobre o despautério. A indignação foi
geral, assim como os pedidos de explicação e
retratação pública dos responsáveis
pelo insulto.
Apesar de terem sido inúmeros os argumentos de quem
se indignou, como aluno e como ser humano, e, principalmente,
os argumentos de quem, dada a sua origem étnica, se
sentiu diretamente ultrajado pela afirmação,
o grupo “escória” omitiu-se quanto à
retratação. O próprio presidente do Centro
Acadêmico XI de Agosto limitou-se a tratar a questão
(por e-mail) com evasivas, tentando, no cume do absurdo, justificar
a frase por meio de ironias e novas “piadinhas”.
O presidente do CA, Fernando Borges Filho, vulgo “Purunga”,
chegou mesmo a perguntar se nós, alunos, seríamos
“ANALFABETOS” e, com a destreza argumentativa
que lhe é peculiar, asseverava inflamado: “Essa
frase não é racista - não é racista!”.
Não é novidade alguma a veiculação
de intolerância e preconceito por meio do jornal da
escória da São Francisco. O jornal ostenta,
costumeiramente, um tom explícito de homofobia e machismo,
dissimulado pela máscara covarde da pretensa anedota.
Escondidos, qual ratos, atrás desta máscara
anônima, os membros da escória da São
Francisco entendem-se no direito de destilarem todo o seu
preconceito, arcaísmo, conservadorismo e burrice, que
se dá por diversas formas, passando pelas mais sérias
injúrias e achincalhamento pessoal até desembocar
em “teorias” da mais pura intolerância,
como esta contra qual nos insurgimos.
A infeliz “teoria” desrespeita não apenas
os negros e afro-descendentes, mas toda a sociedade brasileira
visto que, dado o processo histórico, o Brasil é
um país intensamente miscigenado. Levando-se em conta
que todos os alunos desta Faculdade, para aqui estarem matriculados,
passaram pelo mesmo processo de seleção, cremos
serem dispensáveis delongas acerca do referido processo
histórico e elucidações sobre o quão
triste foi o período da escravidão e a inesgotável
luta dos nossos ascendentes negros pela liberdade e, posteriormente,
pela dignidade e igualdade. É também dispensável
qualquer ênfase ao fato de que esta luta perdura até
os dias de hoje e que a grande massa descendente de escravos
encontra-se ainda marginalizada, compondo o coro dos desgraçados,
nas favelas, sem trabalho, sem educação, sem
condições mínimas de saúde e,
muitas das vezes, na mais pura indigência.
Ouvir que a escravidão foi benéfica aos negros
é o mesmo que ouvir as risadas da “orquestra
irônica e estridente” de que fala Castro Alves,
em seu Navio Negreiro. Sabendo que a população
africana está, atualmente, nas condições
em que está devido aos séculos e séculos
de exploração branca, dizer que a escravidão
salvou os negros é, além de um descaramento
sem medida, uma das muitas e vis maneiras que o Racismo encontra
para mostrar os seus dentes, sendo que, desta vez, os autores
da “teoria” sequer fizeram uso das “sutilezas”
do Racismo velado, isto porque, como dissemos, estão
protegidos atrás da máscara própria dos
covardes – a piada.
É justamente o tom de “brincadeira” que
divide opiniões, fazendo com que alguns, os mais desprevenidos,
achem inofensiva a afirmação e mantenham-se
indiferentes ao perigoso revólver da intolerância.
A estas pessoas alertamos: CUIDADO. O próximo tiro
pode ser contra você.
Há ainda outra tese esdrúxula, na mesma edição
do aludido jornal, em que a escória da SanFran diz
que eram BONS aqueles tempos em que “a AIDS se restringia
à África e a alguns ânus homossexuais”,
o que apenas nos faz reiterar todo o sobredito acerca do extremismo
homofóbico, intolerante e alienado de suas “teorias”,
que ela, a escória, chama de “irrepreensível
ideologia”.
O presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, aludindo
a um certo “sarcasmo libertador”, diz: Não
vou perder meu tempo explicando o que uma estrita interpretação
de texto pode fazer. Tentem se lembrar da Fuvest e de como
era difícil no começo aquelas provas de literatura
e interpretação, que sempre envolviam um CONTEXTO,
uma LINGUAGEM e por vezes um HUMOR SARCÁSTICO. Que
eu me lembre, as passagens sarcásticas quase sempre
coincidiam com as mais LIBERTADORAS. Quem tem a capacidade
de se libertar dos estigmas e da superficialidade aparente
dos símbolos são os poucos privilegiados, que
são realmente livres, que riem de tudo como bebês
(...).
Ocorre que a maior parte dos negros brasileiros não
pode rir de tudo como bebês, muito menos se “libertar
dos estigmas e da superficialidade aparente dos símbolos”,
pois não tem o privilégio, ao contrário
de muitos membros da escória, de não se preocuparem
com dificuldades financeiras e sociais de suas famílias,
além de ter que enfrentar todos os dias o Racismo disfarçado,
ou mesmo descarado, como o que aqui se demonstrou. E quanto
à interpretação, cada indivíduo
recebe um texto de uma maneira e, ainda que o teor Racista
do texto residisse tão-somente em sua literalidade,
tanto pior, pois ninguém é obrigado a ter o
“humor sarcástico” e a inteligência
soberana que têm os membros da escória.
EXIGIMOS, portanto, RETRATAÇÃO PÚBLICA
e IMEDIATA, por todos os meios, da escória, como gestão,
e do Centro Acadêmico XI de Agosto, como instituição
representativa discente, assumindo, os dois, que cometeram
uma AFRONTA RACISTA. Aceitaremos a retratação
sincera com muito respeito e, principalmente, satisfação
em saber que há esperança de que violações
como esta não mais se repitam contra minorias, em nenhum
lugar do Brasil, e, principalmente, dentro da Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo.
Júlio César Pereira (4NI)
Boris Calanzas (4DP)
O Largo está doente!
A velha Casa onde outrora caminharam vultos que construíram
a Justiça deste país no decurso de suas vidas
assiste hoje ao fomento da discórdia. O corpo estudantil
está em sério estado patológico. Usando
metáforas clínicas eu diria que há uma
cepa de fungos alojada na Rua Riachuelo 194. E o produto desta
é uma infecção que cresce e polui as
centenárias Arcadas com toda espécie de asco
e imundícies.
Certamente todos já devem ter lido as sujas folhas
que circularam por esta honrada Academia, sob o título
de “Jornal da Escória”. Infelizmente também
as li, e confesso, gostaria de não ter feito isso.
Não tivesse lido não estaria agora enojado com
alguns colegas que acreditam ser a ESCRAVIDÃO a SALVAÇÃO
dos NEGROS AFRICANOS. Sim, há entre nós "miseráveis
de espírito" capazes de acreditar que a maior
vergonha desta nação é algo a ser exaltado!
Há dentre esta faculdade ainda aqueles que no torpor
de sua ignorância defendem que o homossexualismo é
uma doença e que a AIDS é a cura para tal. Pergunto:
o que difere estes franciscanos das famigeradas maltas de
skinheads que assassinam, violentam, e destroem a dignidade
de tantos indefesos? Não se encontram os autores do
periódico também em grupo? Não determinam
também estes alunos o que deve (segundo as crenças
pessoais dos mesmos) e o que não deve haver na sociedade?
Excetuando-se os cortes de cabelo, os coturnos e os suspensórios
como poderíamos distinguir entre os citados uspianos
e as facções “White Power” tão
noticiadas ultimamente?
Se for esta a realidade de nossa tradicional Casa, não
há mais o que ser feito. É hora de dinamitar
estas paredes, aterrar o velho Porão, jogar uma pá
de cal sobre a Pedra Fundamental e construirmos um circo onde
se encontra a centenária instituição
voltada a educar e construir a ELITE do Brasil.
Chega.
É hora de extirpar a doença que está
se alojando neste corpo acadêmico.
Um grupelho de meia dúzia de boçais não
pode macular tamanha instituição. É inconcebível
que uma vaga na melhor universidade do Brasil seja ocupada
por pessoas de tamanho vazio moral. Esta é uma Universidade
pública, e deve, portanto satisfações
à sociedade! Que se expliquem agora perante esta os
ilustres acadêmicos defensores da escravidão!
Que se torne público que na USP se formam defensores
da mais vexante condição social já concebida...
Que aqui se formam doutores defensores da causa homofóbica...
Que aqui se formam parasitas sociais com o dinheiro público!
Os autores da “Gazieta” merecem punição,
não o privilégio de estudar na Faculdade de
Direito do Largo São Francisco.
Pessoas assim não podem e nem merecem ser operadores
do direito.
Por fim quero que o senhor (a) leitor pense e responda: qual
a empresa que contratará um indivíduo desses?
E ainda: será que estas “infelizes declarações”
prejudicam só esses alunos, ou a faculdade como um
todo ?
Racismo é crime e exige punição.
Odair Eduardo Ivasco
1O NP (178NP)
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