Alunos,
pais e professores fizeram alianças para evitar o fechamento
da Escola Estadual Carlos Maximiliano
Tudo levava a crer que o final deste ano seria um fracasso
para um grupo de alunos. É que a escola pública
em que eles estudam tinha data marcada para fechar, devido
ao seu contínuo esvaziamento, provocado por uma crônica
crise.
A diretora já preparava a sua aposentadoria, os professores
não sabiam onde seriam recolocados e os estudantes
buscavam outra escola. O abandono traduzia-se em salas sujas,
com vidros quebrados, cadeiras empilhadas, vazamentos escorrendo
pelas paredes -o auditório servia de depósito.
Aliados a um grupo de pais e professores, os alunos receberam,
neste Natal, uma lição de solidariedade, mas,
antes, tiveram de transformar sua comunidade numa sala de
aula.
Um grupo de alunos, pais e professores da Escola Estadual
Carlos Maximiliano, em Pinheiros, todos inconformados com
o iminente fechamento da instituição, fez uma
série de alianças para atrair mais alunos e
conter o esvaziamento. Com base nessas alianças, cuidou-se
da limpeza e da pintura, criaram-se programas de reforço,
bem como diversas oficinas, entre as quais a de moda, a de
literatura, a de comunicação, a de cinema, a
de música e a de teatro. Para o próximo ano,
começam as oficinas para a formação de
DJs. Uma sala será ocupada por um cursinho pré-vestibular
mantido pela FIA (Fundação Instituto de Administração),
da USP. Áreas abandonadas, a começar do auditório
que virou um depósito, transformaram-se num centro
cultural, onde, além das apresentações,
são realizadas as oficinas. Em outubro, aquele grupo
de resistência, munido de folhetos e cartazes, lançou
uma campanha de marketing para o aumento do número
de matrículas, uma das condições para
evitar o desfecho trágico.
Na semana passada, o movimento já se traduzia em números,
criando, desta vez, um novo problema -o excesso de procura.
Teve de ser feita uma lista de espera. Afinal, com as oficinas,
os estudantes do ensino fundamental passaram a desfrutar de
tempo integral focado na experimentação.
Aquele punhado de resistentes acabou criando, por acaso,
uma escola experimental. Como havia abundância de salas
vazias e era necessário ocupá-las, começam,
no próximo ano, cursos técnicos de informática
gratuitos, oferecidos pelo Centro Paula Souza. É a
primeira escola regular que mescla a sua grade curricular
com a de cursos profissionalizantes, o que é visto,
no governo estadual, como algo a ser replicado para melhorar
a educação pública.
Com a agitação, a idéia do fechamento
foi, pelo menos, postergada. Isso, entretanto, ainda não
significa nem sucesso nem vitória. O sucesso mesmo
só vai ser auferido, mais do que com o número
de matrículas, com as notas dos testes. Ainda é
cedo para saber quais os resultados dessa iniciativa, mas,
por enquanto, já valeu a aula de solidariedade.
Coluna originalmente publicada
na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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