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REFLEXÃO


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urbanidade
31/08/2005
A alquimia do cemitério

Na busca de inspiração , o artista plástico Paulo Von Poser ficou na manhã de domingo passado no cemitério do Araçá, na avenida Dr. Arnaldo. Em diferentes ângulos, observou por horas seguidas as bancas de flores. "É apenas o início da observação." O ponto alto da experiência, porém, acontecerá distante dali: munido com suas fotos e esboços, além das flores vivas, vai percorrer salas de aulas e estimular estudantes a fazerem arte a partir daquelas imagens. "Dessa mistura, vamos ter uma obra coletiva."

A obra coletiva serão arranjos feitos em diferentes materiais colocados nos muros do cemitério do Araçá como se fossem uma continuação das cores e formatos das flores das bancas. Para Paulo Von Poser, esse tipo de intervenção tem um significado íntimo especial.

Desde 1985, ele desenvolve uma obsessão especial por desenhar rosas, cujo significado pesquisou nas mais diferentes culturas. "Entre os alquimistas, elas representam regeneração e cura", explica. Por isso decidiu tê-las sempre em casa. "Mesmo quando estão murchando, são belas. São uma ótima companhia." Os significados não param aí. Desde os seus tempos de faculdade de arquitetura na USP, ele desenha -e lamenta- São Paulo. Sua mais recente exposição, na Pinacoteca, são os museus da cidade. "Impossível não se incomodar com a deterioração." Esse incômodo é uma das razões que o levaram a ajudar artistas plásticos iniciantes, residentes no chamado "Ateliê Amarelo", instalado em frente à Estação Pinacoteca, coração da "cracolândia". Uma das tarefas desses artistas é registrar toda aquela região que, para muitos, virou tão assustadora, que, de símbolo da riqueza, no século passado, ganhou status de símbolo da degradação paulistana -uma espécie de cemitério a céu aberto.

Fazer uma obra coletiva num cemitério com alunos das escolas do centro, pareceu a Paulo Von Poser uma síntese do que gostaria ver na cidade. Um cemitério ganha vida e transforma-se, assim, em obra de arte. A obra será coletiva, mas é natural que, naquela alquimia urbana, ele coloque suas rosas.

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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