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garrafas pet
08/09/2004
Camisetas ecológicas geram renda para catadores

Um tecido macio e agradável ao toque está sendo largamente usado para fazer camisetas, camisas pólo, bonés e roupas em geral. Quem os compra, além de adquirir um produto de alta qualidade, está contribuindo para diminuir a poluição do meio ambiente. Isto porque o tecido é um poliéster feito de garrafas PET recicladas.

A primeira utilização do PET (Polietileno Tereftalate) é destinada principalmente para a fabricação de embalagens para refrigerantes, sucos de fruta, água mineral, óleo de cozinha e produtos de limpeza. Mas depois que utilizamos seu conteúdo e jogamos estas embalagens no lixo, muitas coisas ainda podem ser feitas com elas. Cordas, cerdas de vassouras e escovas, carpetes, enchimento de travesseiros, pelúcia, cortinas, lonas, rolos de pintura e adesivos são apenas alguns dos exemplos.

“De 35 a 40% da resina reciclada são utilizados na fabricação de tecido”, calcula André Vilhena, diretor-executivo do Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, uma associação que promove a reciclagem no Brasil e busca promover a conscientização sobre a importância deste ato.

O resultado desta fabricação é o mesmo dos produtos convencionais. “O tecido feito a partir de PET reciclado tem qualidade equivalente a do tecido comum. A respiração, por exemplo, é normal”, destaca o gerente industrial Edvaldo Peres, da Krimpp, empresa que produz o tecido e camisetas a partir de fibra de PET reciclado.

A Krimpp produz atualmente 20 mil peças, além de tecido, que é vendido para outras confecções. Com a sua produção, a Krimpp tira do meio-ambiente cerca de 80 mil garrafas por mês. “A preocupação da empresa é justamente ter uma alternativa de produto de boa qualidade, ao mesmo tempo em que diminuímos a poluição do meio ambiente”, afirma Peres.

“O público tem mesmo tendência a achar que os produtos feitos a partir de material reciclado são de baixa qualidade. Ao contrário, o tecido de PET reciclada, por exemplo, é de alta qualidade”, complementa André Vilhena, lembrando que, proporcionalmente ao maior espaço que estes produtos vêem encontrando no mercado, há também um avanço tecnológico.

Reciclar e fazer moda
O estilista Mario Queiroz, um dos mais cultuados em São Paulo, já trabalhou com este tipo de tecido e lembra que “quando se busca um novo desenvolvimento têxtil, seja ele qual for, a questão do conforto e de um bom toque é uma das exigências”. Queiroz ressalta, no entanto, que mesmo se o produto apresentasse qualquer desvantagem, isso seria menor diante da possibilidade de reciclar e fazer Moda ao mesmo tempo.

O Social Web – site de comercialização de produtos de organizações não governamentais – é um dos espaços em que podem ser encontradas à venda camisetas produzidas com tecido feito a partir de PET. “Para fazer cada camiseta são utilizadas duas garrafas PET recicladas”, revela Alexandre Moraes, administrador do site.

A fabricação destes artigos, além de empregos diretos, gera renda para os catadores, sucateiros e outros trabalhadores que atuam na reciclagem. Com o desenvolvimento deste mercado, em todo o Brasil têm sido criadas muitas cooperativas e associações de catadores de embalagens descartadas. O material recolhido é selecionado e vendido para as indústrias de reciclagem.

“As cooperativas de catadores vivem basicamente de papelão, alumínio e PET. Falta a sociedade se sensibilizar e encaminhar este material para as cooperativas. E o poder público deve contribuir também, porque em todos os lugares há esforços por parte dos catadores”, defende Vilhena.

Além da geração de emprego e renda, a reciclagem do PET tem diversos outros benefícios – entre eles, a redução do volume de lixo nos aterros sanitários e uma melhora no processo de decomposição da matéria orgânica: o plástico é impermeabilizante e sua presença nos aterros prejudica a circulação de gases e líquidos. E ainda tem a vantagem de requerer, em média, apenas 30% da energia necessária para a transformação da matéria-prima. Por este e outros fatores, o produto feito a partir do PET reciclado é cerca de um terço mais barato que o fabricado com matéria-prima virgem.

Mario Queiroz gosta de lembrar o que tem por trás de uma peça feita com material reciclado. “Participei do projeto Carência Zero, onde as camisetas eram feitas com o tecido de PET. O resultado é muito bom e fica ainda melhor quando chegam as informações de como é o processo de produção deste tecido”, observa.

O Carência Zero é promovido pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e visa incentivar a inclusão social por meio do Primeiro Emprego na Cadeia Têxtil e de Confecção e pela organização de cooperativas de coleta e reciclagem. Para arrecadar fundos são vendidas camisetas feitas com fibras de garrafas PET reciclada.

Confecção do fio em três tempos
A reciclagem de garrafas PET e a sua transformação em tecido têm três fases. A primeira é quando as garrafas e outras embalagens usadas são recolhidas pelos catadores, lavadas e separadas por cores. Nesta fase, são retirados a tampa e o rótulo e a embalagem passa por um processo de secagem. Então o PET é moído, reduzido a pedaços pequenos.

Na segunda fase, é feita a fusão a uma temperatura de 300 graus, a filtragem e a retirada de impurezas. Na fábrica onde é feita a fibra, repete-se o processo de fusão a 300 graus e o material é passado por equipamentos que o separam em filamentos. O resultado é uma fibra cerca de 20% mais fina que o algodão.

A terceira e última fase é a da estiragem, quando a fibra é transformada em fio. As fibras feitas a partir da garrafa PET reciclada podem ser usadas sozinhas ou associadas a outro tecido, como a seda ou o algodão. Peres, da Krimpp, observa que, normalmente, para peças do vestuário, o poliéster é mesclado com algodão. Mas isso acontece tanto com o poliéster feito a partir de matéria-prima reciclada, como o feito a partir de matéria-prima virgem. Isso porque o tecido 100% poliéster pode dificultar a transpiração.

Um pouco de história
A resina PET foi desenvolvida pelos químicos ingleses Whinfield e Dickson, em 1941, para ser usada na fabricação de fibras sintéticas. Somente na década de 1970 ela foi empregada como matéria-prima de garrafas, hoje a sua principal utilização.

Algumas décadas depois, a preocupação com o meio ambiente inspirou pesquisas que concluíram que a resina pode ser completamente reciclada, e até mais de uma vez, sem prejudicar a qualidade do produto final. Atualmente, 1,5 litro de embalagem PET pode ser feito com apenas 35 gramas de material virgem.

Quando o mercado de fibras descobriu a verdadeira fonte de matéria-prima contida no PET, a resina reciclada passou a ser empregada na indústria têxtil. No Brasil, as embalagens PET começaram a ser usadas em 1988, o que trouxe vantagens para o consumidor, mas também a necessidade de se aprender sobre a reciclagem deste material.

Nosso conhecimento vem se desenvolvendo e a reciclagem, ganhando espaço. De acordo com dados do Cempre, em 2003 quase a metade das embalagens utilizadas no país já era reciclada. Foram consumidas 300 mil toneladas de PET e 120 mil, ou seja, 40% do total, eram recicladas.

Vilhena informa que, no Brasil, a reciclagem do PET teve um grande crescimento nos últimos cinco anos. O valor da tonelada de resina para reciclagem, por exemplo, subiu de R$ 400 para R$ 1.200 desde 2001.


As informações são do site da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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