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pará
08/11/2004

Cresce número de iniciativas para evitar desperdício de alimentos

Cresce o mutirão dos paraenses contra o desperdício de alimentos e a favor dos projetos que tentam reduzir a fome de milhares de pessoas pobres. As marcas desse movimento estão na Central de Abastecimento do Pará (Ceasa), na Associação de Distribuidores e Atacados do Pará (Adapa) e em dezenas de empresas. Pessoas e empresas que fazem programas como Feira Solidária, da Ceasa, e Mesa Brasil, do Sesc (Serviço Social do Comércio), beneficiam 93 instituições filantrópicas da Grande Belém. Mesmo assim, mais de seis toneladas de hortigranjeiros ainda vão para o lixo em Belém.

A solidariedade reúne esforços: um dá os legumes, o outro dá a massa, o óleo, a carne... E outro distribui. Um dos mecanismos contra o desperdício de alimentos foi acionado em agosto do ano passado, pela Ceasa. Já era tempo. Goreti Gomes, diretora administrativa e de projetos especiais do órgão, admite que cerca de 12 toneladas de alimentos iam para o lixo, quantidade mais do que suficiente para afrontar qualquer percentual de famintos no Brasil. Pesquisa da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta para 50 milhões deles. Os números dizem também que 40% dos famintos são crianças e adolescentes. Segundo a ONU, 280 crianças morrem diariamente no Brasil antes de completar um ano, em conseqüência de problemas gerados pela fome.

Para combater o desperdício a Ceasa firmou parcerias. Criou a Feira Solidária e com ela o Sopão da Ceasa, em agosto de 2003. Além do sopão, o programa ainda distribui hortigranjeiros “in natura”, beneficiando 44 entidades filantrópicas. Tudo começou com 300 pratos. Passou para 600 e, depois, para mil, alcançando, hoje, a casa dos dois mil.

Nos cálculos da diretora administrativa, os alimentos que antes eram jogados no lixo já produziram 155.200 pratos de sopa de 300 a 600 calorias cada nesses 13 meses de ação efetiva. Foram consumidos 96.646 quilos de alimentos. O número de pessoas beneficiadas é incalculável.

Lucilele Farinha, presidente da Ceasa, lembra que o combate ao desperdício de alimentos só vai ter fim quando o órgão conseguir zerar o que é aproveitável. E faz cara feia quando as estatísticas apontam para as seis toneladas de hortigranjeiros que ainda não são aproveitadas pela Feira Solidária. Ela diz que já tem projetos em andamento para zerar as perdas, mas precisa de mais parceiros para isso A Feira Ribeirinha, que atende aos moradores das margens do Rio Guamá, no entorno da Ceasa, soma no processo de resgate da dignidade dos empobrecidos, através não só da distribuição de alimentos como também na implementações de ações educacionais e de valorização dos meios de sobrevivência dessa gente.

Para colocar os dois mil pratos na rua, Farinha lembra que não basta colocar hortigranjeiros na água quente. Há um processo custoso. O trabalho conta até com serviço de entrega, em vasilhames especiais, ensacolados, nas entidades beneficiadas. Passa pelo acompanhamento de técnicos e profissionais de nutrição. E, não aproveita alimentos estragados. “Os alimentos aproveitados são aqueles ‘in natura’, que possuem perdas em seu valor comercial, ocorridas principalmente durante o transporte, mas que têm boa qualidade nutricional para o consumo humano”, explica.

Todo o Estado
Além do Sopão da Ceasa, que congrega os proprietários dos boxes localizados na área do Utinga e os 110 associados da Adapa, os donos dos supermercados direcionam produtos e mercadorias, nas mesmas condições dos da Ceasa, a entidades filantrópicas.

Os alimentos com perdas de valor comercial viram ingredientes de sopa ou são embalados para distribuição. Na Ceasa, por exemplo, 25 funcionários trabalham na arrecadação juntos aos boxes, seleção, lavagem (com hipoclorito), embalagem ou trituração na cozinha. Para o sopão, a Socipe (Cooperativa de Indústria Pecuária no Pará), outra parceira, doa 350 kg de carne por semana.

Outros ingredientes da sopa, não vendidos na Ceasa, são doados pela Adapa. Segundo a secretária executiva da associação, Gisele Lima de Queiroz, de 15 em 15 dias, os associados doam, em média, 220 kg de arroz, feijão, massas, etc. Os produtos são comprados nos supermercados, com dinheiro do próprio caixa. A Adapa ajuda ainda outras instituições, como a creche espírita Jardim das Oliveiras e projetos como Natal da Solidariedade e Fome Zero, para o qual, num só jantar no final de 2003, a entidade arrecadou 10 toneladas de alimentos.

Para Carlos Limão, presidente da Associação Paraense de Supermercados, a rede paraense adota uma linha independente no processo de evitar desperdício de alimentos. A associação não é parceira do Feira Solidária, mas distribui mercadorias sem valor comercial diretamente à rede de entidades filantrópicas. Ele cita o o exemplo do seu supermercado, o Amazônia, que doa toda semana centenas de quilos de diversos produtos à Casa da Amizade. “Nada que ainda é consumível é desperdiçado nos supermercados paraenses. Tudo, de acordo com decisões tomadas por cada um, é direcionado para o bem comum, contra o desperdício e a favor do combate à fome.

Mesa Brasil - Este programa do Sesc foi implantado em Belém no último dia 18, mas funciona desde julho. Nesse período já arrecadou 200 toneladas de alimentos. Reconhecido pelo Governo Federal, o programa, que também redistribui alimentos excedentes próprios para o consumo ou sem valor comercial, tem perspectiva de se expandir por todo o Pará. “A recepção do empresariado tem sido fantástica”, avalia a nutricionista Nádia Helena Santos, coordenadora.

Hoje, diz Nádia Helena, o Mesa Brasil já está implantado na capital, em Ananindeua, Marituba e Castanhal.No primeiro mês, houve adesão de apenas três empresas, depois passou para oito e, atualmente, congrega 57 empresas, beneficiando 49 instituições.

O programa integra o Sesc à empresas, instituições sociais e voluntários, no esforço de diminuição das carências alimentares e do desperdício de alimentos. A coordenadora lembra que o Mesa Brasil Sesc, como ação emergencial, baseia-se no princípio, já aceito internacionalmente, de que a alimentação é direito fundamental de todo e qualquer cidadão.

O programa do Sesc tem dois modelos operacionais: Banco de Alimentos e Colheita Urbana. O primeiro recolhe o alimento, transportando-o para uma área de armazenamento, onde há seleção e as instituições recolhem a doação. Trabalha com estoques de alimentos, mesmo que por curtos períodos. A Colheita Urbana transporta e seleciona os alimentos, faz a ponte entre empresas que doam e entidades que recebem e não atua com estoques de alimentos.

Contra o desperdício, fique sabendo:
Que uma casa brasileira desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra semanalmente. Isso representa uma perda de 1 bilhão de dólares por ano, ou o suficiente para alimentar 500 mil famílias.

Que se uma família desperdiça 350 gramas de alimentos por dia, em um mês acaba jogando fora pouco mais de 10 quilos de comida, quantidade suficiente para fornecer uma refeição para 30 pessoas.

3. Que no Brasil perto de 50 milhões de pessoas convivem com a fome e a desnutrição, pelos dados da ONU. E que 40% dos famintos têm menos de 15 anos.

4. Que, segundo dados da ONU, 280 crianças morrem diariamente no Brasil antes de completar um ano, em conseqüência de problemas gerados pela desnutrição.

5. Que, se em uma única refeição, você deixar 100 gramas de alimento no prato, ao ano terá desperdiçado 36,5 quilos de alimentos e no decorrer de 60 anos serão 2.190 quilos desprezados, quantidade suficiente para a alimentação de 5.400 crianças com uma refeição de 400 gramas. Ou ainda, para garantir o almoço de 45 famílias de quatro pessoas durante um mês inteiro. Se 20 mil pessoas fizerem o mesmo ao longo de 60 anos, 10 mil crianças terão acesso a meio quilo de alimento durante os primeiros 24 anos de suas vidas.

6. Que você não desperdiça se colocar no prato apenas aquilo que realmente você tem certeza que vai comer.

7. Que se sobrar algum alimento do almoço, você pode reciclar: bem temperadas, as sobras podem se transformar em deliciosos bolinhos, sopas e risotos.

8. Que o Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo, com uma das áreas agricultáveis mais abrangentes do planeta, sem incidentes naturais sérios e com sol o ano inteiro.

As informações são do Instituto Akatu.

 
 
 

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