HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 

papel
20/07/2004
Brasil recicla 3 milhões de toneladas e garante emprego a jovens

O Brasil consome, anualmente, cerca de 6,5 milhões de toneladas de papel. Deste total, quase a metade já é reciclada: três milhões de toneladas. E são crescentes tanto o número de indústrias que trabalham com a reciclagem, paralelamente à produção tradicional, quanto as organizações não-governamentais (ONGs) que realizam a reciclagem junto com ações sociais.

A professora Thérèse Hofmann, da Universidade de Brasília (UnB), decana de assuntos comunitários, defende a aplicação de outras medidas ainda antes da reciclagem, seguindo a política dos três Rs, que significam primeiro reduzir o consumo, depois reutilizar o material consumido e por fim criar consciência para a reciclagem.

“Os governos devem contribuir na formação desta cultura. Com a conscientização integrada da população e do sistema público, o retorno é imediato”, afirma a professora, que aponta a falta de freqüência na coleta seletiva de lixo como um dos problemas para a conscientização da população.

Mas ela insiste que, antes de reciclar, sempre é possível diminuir a quantidade de papel utilizado. “Quando surgiu a internet e os computadores, houve uma idéia de que tudo seria informatizado e o consumo de papel diminuiria. Ao contrário, quadruplicou. As pessoas precisam se habituar a imprimir nos dois lados do papel, por exemplo”, explica Thérèse Hofman.

A professora lembra que diminuir o gasto de papel não envolve apenas derrubar menos árvores: “É preciso dimensionar todos os custos ambientais envolvidos, como asfalto, combustível, água, energia e outros bens necessários à produção de papel.”

E, na hora de reciclar, Thérèse não tem limites. Até guimbas de cigarro já se transformaram em papel na UnB. A idéia foi do estudante de biologia Marco Antônio Duarte e o projeto foi o início de uma série de experiências com outros materiais que podem ser convertidos em fibras de celulose, como filtros de ar e refil dos repelentes utilizados em tomadas elétricas.

Outra experiência realizada pela UnB utilizou cédulas de dinheiro. Em um convênio com o Banco Central, a universidade recebe e recicla papel-moeda, que se transforma em papel comum. Atualmente, a professora Thérèse estuda a possibilidade de utilizar resíduos de colheita para a fabricação de papel artesanal. “O foco do pensamento sobre cidadania tem que estar na integração das ações. Utilizar resíduos da colheita de soja pode contribuir para aumentar a renda do agricultor”, observa.

Em termos de produção em escala industrial, a Companhia Suzano foi a primeira a lançar no Brasil um papel off-set 100% reciclado. O Reciclato existe desde 2001 e teve uma produção de mais de duas mil toneladas nos três primeiros meses de 2004, o que significou um crescimento de cerca de 200% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

Produção
De acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), em 2003 a produção de papel foi de 7,8 milhões de toneladas e o consumo interno foi de 6,6 milhões. Mesmo assim, dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que, no mesmo ano, o país importou 578 mil toneladas de pasta de celulose e papel.

Apesar de o consumo interno ser menor que a produção, é necessário importar, porque se trata de tipos diferentes de papel. Thérèse Hofman explica que o produto brasileiro é feito a partir do eucalipto, enquanto o europeu, por exemplo, vem do pínus. Esta diferenciação resulta em papéis de qualidade diferente, com variados níveis de resistência.

“O papel usado em trabalhos de restauração é totalmente importado do Japão, porque é uma fibra que tem excelência para isso”, analisa a professora. O papel utilizado para a impressão de jornais também é quase todo importado e nunca reciclado. Isto porque a força das rotativas que imprimem os jornais exige um papel de fibras longas e com grande resistência.

Assim, o Brasil importa papel, mas exporta o excedente produzido e não consumido internamente, tendo ultrapassado a marca de US$ 1 bilhão em 2003, ao exportar 1,777 milhões de toneladas de papel e pasta de celulose.

Perspectivas de vida
Se a produção cresce é preciso também pensar na reciclagem. Em São Paulo, a ONG RECICLAR - Instituto de Reciclagem do Adolescente ensina jovens de 16 a 19 anos a trabalhar com reciclagem enquanto são preparados para assumir o papel de cidadãos na sociedade.

A ONG trabalha com moradores da favela do Jaguaré, na zona oeste da capital. Quem participa aprende a fazer objetos com o papel reciclado e trabalha com registro em carteira, recebendo um salário mínimo mensal para cumprir uma jornada de 30 horas semanais.

Além da oportunidade de emprego, os adolescentes têm acompanhamento escolar, aulas de arte e informática, assistem a ciclos de palestras sobre profissão e visitam exposições. Para participar do programa, só há uma exigência: estar matriculado na escola e freqüentar as aulas regularmente, com boas notas, bom comportamento e interesse em aprender.

Ao todo, 95 jovens já passaram pelo RECICLAR desde que ele foi fundado, em julho de 1995, pelo atual presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, juntamente com a empresária Isabel Gianotti. Atualmente, 40 adolescentes estão contratados.

Os jovens produzem artigos de papelaria, como folhas dos tipos ofício e A4, envelopes, cadernos, risque-rabisque, agendas, blocos, pastas, índices telefônicos e cartões de visita, além de convites, cartões de Natal personalizados e revestimento de objetos – porta-retratos, porta-chaves, porta-lápis, álbuns.

Mensalmente, uma tonelada de papel doado por empresas parceiras do projeto é reciclada pelos jovens do instituto. Este volume corresponde ao produto de 15 a 20 árvores adultas, de acordo com o gerente administrativo-financeiro do RECICLAR, Paulo Roberto de Carvalho.

Aos 19 anos, com o ensino médio completo, os jovens estão aptos a fazer papel artesanal, têm noções de administração e estrutura psicológica adequada para enfrentar desafios profissionais e ocupar seu espaço na sociedade como cidadãos participativos. Neste momento, a ONG auxilia no encontro de uma nova colocação no mercado de trabalho, em parceria com departamentos de recursos humanos de várias empresas.

Carvalho destaca três ex-participantes que são um incentivo para a continuidade do projeto: Alda, Edmar e Marcos Paulo, que passaram pelo RECICLAR e hoje cursam as faculdades de psicologia, administração e turismo, respectivamente.

“É bom ver que eles tomaram estes caminhos, porque nós incentivamos muito a educação. O curso de um deles, inclusive, está sendo pago por um voluntário do instituto. O objetivo da ONG não é só ensinar um ofício: a idéia é que eles tenham aqui a experiência do primeiro emprego”, afirma Carvalho.

Entusiasta do trabalho que realiza, Carvalho está no RECICLAR há quatro anos e sempre faz o monitoramento dos jovens que passaram pelo projeto. “Inclusive, eles voltam depois de seis meses, para contar para os que ficaram o que encontraram lá fora e como é o trabalho em outras empresas”, orgulha-se.


As informações são do site Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIORES
20/07/2004 Voluntários promovem ações de saúde para famílias carentes
19/07/2004 Bomba-gangorra abastece aldeias indígenas com água potável e diversão
19/07/2004
Dona-de-casa organiza feiras solidárias e ajuda 25 famílias
19/07/2004
Professora usa música para conscientizar estudantes sobre doenças sexuais
16/07/2004
Prefeitura do Rio de Janeiro oferece pernoite gratuito
16/07/2004
Projeto promove inclusão digital em comunidades de Minas Gerais
16/07/2004
Computador dá 'empurrãozinho' à cidadania
15/07/2004 Militantes propõem melhoria da situação de estrangeiros
15/07/2004
Adolescentes dão exemplo de transformação através da arte
14/07/2004
Barco e moradia recicláveis facilitam a vida de pernambucanos