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Homem é o sexo frágil

O assaltante Marcos Meneses deu um soco na cara de Ana Cláudia Rufino, jogou-a no chão e tentou roubar-lhe a bolsa. A cena não teria virado notícia de jornal, na semana passada, em São Paulo, se a vítima tivesse permanecido caída, desamparada, no chão.

Agarrada à bolsa, Ana Cláudia não chorou nem pediu socorro. Levantou-se e esmurrou o ladrão. Diante da platéia indignada, Marcos quis disfarçar, disse que se tratava de uma briga de casal, ninguém metesse a colher em briga de marido e mulher. Foi aí que ela ficou ainda mais enfurecida e voltou a distribuir socos para ele deixar de ser mentiroso. Jamais teria uma relação amorosa com gente daquele tipo.

No final, Ana Cláudia, faixa verde de judô, soube fazer piada. Na delegacia, onde foi tratada como heroína, perguntaram-lhe se continuaria reagindo com murros a futuras tentativas de assalto.""Só se eu estiver com TPM", ironizou.

Será que não é puro preconceito tratar as mulheres como frágeis, a ponto de conceder-lhes, como fez o relatório da reforma de Previdência, tratamento vantajoso em relação aos homens?

Ainda vai demorar muito tempo - se é que isso algum dia vai acontecer- para as mulheres derrubarem os homens no muque. Mas, apesar de todas as discriminações, é bobagem classificá-las de "sexo frágil". Não há nenhum político (vamos repetir, nenhum) discutindo se é apropriado ou não o direito da mulher de aposentar-se mais cedo. Por quê?

Todos sabem que a mulher tem expectativa de vida maior que a do homem. Sabedoria da natureza. Não raro, passado o luto, a viúva sente-se incofessavelmente até melhor, livre de tantas obrigações domésticas. Já o homem viúvo, se estiver velho, tende a virar um abandonado irremediável.

Mas a força do sexo feminino está menos na natureza que nos avanços sociais.
As estatísticas estão mostrando que, no Brasil, a exemplo do que ocorre na maioria dos países, a mulher é maioria nas escolas, tira as melhores notas e vai aumentando sua participação no mercado de trabalho. De cada 10 novos empregos gerados na região metropolitana de São Paulo, 7 são ocupados por mulheres.

Para descobrir a alma e, principalmente, o bolso feminino, a Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa) realizou uma pesquisa com mulheres de nove regiões metropolitanas brasileiras, comparando seus anseios e comportamento com as expectativas e hábitos masculinos. A pesquisa detectou que elas lêem mais livros do que eles e apostam mais no valor da educação.

Indagadas sobre o que tem feito a vida melhor do que há dez anos, elas apontaram, entre outras coisas, a evolução no emprego e no salário, além de mais facilidade para abrir o próprio negócio.

Se a regra da sociedade do conhecimento não mudar -o valor do profissional está em seu apego à educação permanente-, os homens se tornarão o sexo frágil. Além de viverem mais, as mulheres vão eliminar as inaceitáveis disparidades de renda, conquistar os melhores empregos e abocanhar os salários mais altos pela simples razão de que estão mais preparadas para os desafios do mundo moderno.

É apenas uma questão de tempo elas ocuparem, no Brasil, a Presidência da República. Na eleição passada, não fosse um tropeço, Roseana Sarney teria, pelo menos, estado no segundo turno. Para se eleger, Lula teve de investir, como nunca um candidato investiu, no eleitorado feminino, distribuindo em cima do palanque juras de amor a Marisa; Ciro Gomes descambou de vez, no pleito, depois que fez piadas de mau gosto sobre Patrícia Pillar, sua mulher.

Luiza Erundina ainda não aparece nas pesquisas, mas é, até agora, a candidata de maior viabilidade para eventualmente derrotar Marta Suplicy - a maior cidade brasileira seria disputada por duas mulheres.

Dizem os especialistas que o perfil do futuro profissional se encaixa melhor nas habilidades femininas: intuição, capacidade de trabalhar em grupo, sensibilidade e percepção das emoções.

Qual o motivo, então, de todos os legisladores e dirigentes sindicais nem sequer questionarem a aposentadoria privilegiada destinada às mulheres? Só o preconceito explica esse silêncio.

Ocorre, então, duplo privilégio. Os servidores em geral ganham na aposentadoria o que nenhum trabalhador ganha -e, entre os já privilegiados funcionários públicos, as mulheres são as grandes privilegiadas. Isso significa querer bater como homem -ou seja, ganhar todos os direitos- e apanhar como mulher, recebendo deferência especial com base em uma preconceituosa fragilidade.

PS - Permaneceram tantos privilégios para os servidores pelo simples motivo de que o contribuinte brasileiro não tem lobby organizado. É quem paga a conta, mas nem de longe consegue se articular politicamente e pressionar os legisladores, como fazem os magistrados, por exemplo. Ainda vai chegar o dia (e não está longe) em que se vai encarar com estranheza e perplexidade o fato de um indivíduo trabalhar quase quatro meses num ano apenas para manter o poder público e pouco receber em troca. Será bem mais estranho do que ver uma mulher na rua surrando um assaltante diante de homens acovardados.

 
 
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