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O
mito USP está chegando ao fim?
Considerada
um dos mais importantes centros de excelência da América
Latina, a Universidade de São Paulo aparece menos nos
jornais pelas suas pesquisas acadêmicas do que pelas
manifestações de professores e de alunos, inconformados
com o salário e com o nível de ensino.
Na semana
passada, por exemplo, os professores anunciaram uma paralisação
por melhores salários, enquanto os alunos da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), em
greve, chamavam a atenção para as sofríveis
condições de ensino da USP -entre os problemas,
a falta de professores.
Para quem
viveu altas doses de estresse para entrar na USP, a falta
de professores é uma decepção monumental.
Diante desses comentários boca a boca dos estudantes
e da rotina do noticiário sobre a crise, o mito da
USP sofre abalos diante dos vestibulandos? Ou seja, eles começam
a pensar em alternativas?
Para responder
a essa questão, fiz uma pesquisa com coordenadores
e professores de 15 escolas de elite de São Paulo,
entre elas Santa Cruz, Dante Alighieri, Santo Américo,
Santa Maria, Bandeirantes, Lourenço Castanho, Augusto
Laranja, Equipe e Nossa Senhora das Graças. São
escolas cujos alunos têm mais condições
de entrar nas melhores faculdades -e a maioria deles de pagar
altas mensalidades.
O fato
inequívoco: a USP ainda inspira respeito, especialmente
nas áreas de exatas e de biológicas, mas o mito
está abatido. Uma fatia expressiva dos candidatos vindos
dessas escolas, especialmente os que optam pela área
de humanas, nem sequer coloca a USP como primeira opção
-prefere faculdades privadas.
Coordenador
pedagógico do terceiro ano do ensino médio do
colégio Lourenço Castanho, Wagner Borja diz:
"Poucos alunos nossos ainda alimentam a idéia
de que a USP é um centro de excelência".
Eles fazem visitas monitoradas à Cidade Universitária
e sentem-se incomodados. "Muitos desaprovam as instalações.
Os prédios estão em péssimas condições
de conservação, há bibliotecas abandonadas
e vazamentos de água em diversos pontos", lamenta.
"Os
estudantes que querem cursar arquitetura ficaram decepcionados
com o estado do prédio da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo", informa Onofre Rosa, coordenador pedagógico
do Colégio Bandeirantes, onde, entre os que vão
seguir carreira na área de humanas, foi detectada a
tendência de deixar a USP como segunda opção.
"Professores da USP se aposentam e dão aulas nas
faculdades particulares. Isso sugere a possibilidade de excelência
fora das instituições públicas",
acrescenta o coordenador pedagógico.
Em uma
pesquisa com 77 estudantes, Eduardo Roberto Castor, diretor
do colégio Nossa Senhora das Graças, constatou
que a fama da universidade pública ainda pesa e faz
com que ela permaneça sendo a primeira opção.
Mas o mito está abalado. Estudantes que sonham em fazer
um curso de humanas chegaram a sugerir, na pesquisa, a possibilidade
de adiar o ingresso na USP até a situação
melhorar.
Thomas
Gaia, 17 anos, é presidente do grêmio do colégio
Santa Maria. Ainda não sabe se vai cursar relações
internacionais ou jornalismo. "Sei que, se me der bem
no vestibular, vou para a USP", disse, ressalvando que,
não fosse pelo dinheiro, optaria por uma faculdade
privada. "Nós ficamos assustados com a quantidade
de greves e de paralisações."
Faculdades
privadas, de olho no competitivo mercado, estão pagando
bons salários aos professores e desfalcam as instituições
públicas. Oferecem melhores condições
de ensino e adaptam-se mais rapidamente às exigências
do mercado.
É
o que já se vê com nitidez em áreas como
administração de empresas, economia, direito,
psicologia, jornalismo, marketing e publicidade. Estão
surgindo núcleos de excelência em arquitetura
e odontologia fora da universidade pública, além
de uma série de cursos sequenciais, de curta duração,
voltados à profissionalização: gastronomia,
informática, moda e webdesign, por exemplo.
O estudante
pensa o óbvio: quer a faculdade que mais o ajude a
colocar-se no mercado de trabalho. Se tiver como bancar a
mensalidade -caso da elite que já paga muito pela escola
de ensino médio-, vai optar por uma instituição
privada.
O ensino
fundamental e médio piorou por vários motivos.
Entre eles, o afastamento da elite, que foi parar nas escolas
privadas. Salvo raras exceções, somente vai
para uma escola pública quem não tem dinheiro
para pagar a mensalidade de uma particular. O afastamento
da elite também provocou o afastamento da educação
pública das prioridades nacionais.
A questão
é tão simples como dolorosa: essa tendência,
ainda engatinhando, revela o risco de desmoralização
da universidade pública, onde se faz pesquisa, e o
fortalecimento das faculdades privadas, voltadas basicamente
para o ensino. Colocar em risco centros de produção
científica é, como todos sabem, colocar em risco
o desenvolvimento de uma nação.
A verdade
é que a própria universidade pública
está sendo uma das colaboradoras da privatização
do ensino.
Leia
integra da pesquisa
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