Analfabetismo
funcional custa U$ 6 bi a empresas brasileiras
O analfabetismo
funcional pode ser muito mais do que se costuma imaginar dentro
das empresas brasileiras. "Ele significa a incapacidade da
pessoa em compreender a palavra escrita", explica o professor
Daniel Augusto Moreira, coordenador do mestrado em administração
de empresas da Fundação Escola de Comércio
Álvares Penteado (Fecap) e professor convidado da Faculdade
de Economia e Administração (FEA) da USP.
Moreira está
terminando um livro sobre o assunto e esta semana finalizou uma
pesquisa inédita em uma importante companhia siderúrgica
brasileira, com quase 6 mil funcionários, que comprova o
quanto esta disfunção está presente nas empresas
em nosso país. Dos 581 funcionários testados, pelo
menos 110 acusaram alguma insuficiência na sua alfabetização
funcional.
E este talvez
seja um dos maiores problemas relacionados ao analfabetismo funcional.
Gasta-se fortunas em treinamentos, que podem muito bem estar sendo
subaproveitados pelos empregados, sem que os chefes se dêem
conta do problema. No Brasil calcula-se, segundo Moreira, que a
queda na produtividade provocada pela incidência de analfabetismo
funcional, seja traduzida em uma perda equivalente a US$ 6 bilhões
anuais.
Em tempo: estudo
realizado em 1999, pelas agências americanas National Alliance
of Business e National Institute for Literacy estimou que a deficiência
de habilidades básicas dos empregados resultava em uma queda
de produtividade, de US 60 bilhões.
Leia
mais:
- As "perdas invisíveis" provocadas
pelo analfabetismo funcional nas empresas
Leia
também:
- Estudo mostra que no Brasil o índice é
preocupante
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As
"perdas invisíveis" provocadas pelo analfabetismo
funcional nas empresas
Na hora de aprender
um novo procedimento de trabalho, ele prefere sempre ouvir a explicação
da boca de algum colega a ter que se debruçar sobre um manual.
Na hora que o supervisor chega com as apostilas do treinamento,
ele finge que entende, depois pergunta tudo de novo para os outros.
O computador quase sempre costuma lhe causar calafrios. O melhor
jeito que encontrou para sobreviver no mundo corporativo foi decorando
instruções ou imitando o companheiro do lado.
As atitudes
deste trabalhador fazem parte de um comportamento muito mais comum
do que se costuma imaginar dentro das empresas brasileiras e identificam
uma doença crônica no universo do trabalho, o analfabetismo
funcional. "Ele significa a incapacidade da pessoa em compreender
a palavra escrita. Ela consegue ler, mas não entende o que
aquilo significa", explica o professor Daniel Augusto Moreira,
coordenador do mestrado em administração de empresas
da Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado (Fecap) e professor convidado da Faculdade de Economia
e Administração (FEA) da USP.
Moreira está
terminando um livro sobre o assunto e esta semana finalizou uma
pesquisa inédita em uma importante companhia siderúrgica
brasileira, com quase 6 mil funcionários, que comprova o
quanto esta disfunção está presente nas empresas
em nosso país. Dos 581 funcionários testados, pelo
menos 110 acusaram alguma insuficiência na sua alfabetização
funcional. "Provavelmente o rendimento deles em programas de
treinamento deixará a desejar", explica o professor.
E este talvez
seja um dos maiores problemas relacionados ao analfabetismo funcional.
Gasta-se fortunas em treinamentos, que podem muito bem estar sendo
subaproveitados pelos empregados, sem que os chefes se dêem
conta do problema. "As pessoas procuram esconder suas deficiências
a qualquer custo", diz Moreira. "Chegam a criar alguns
vícios para sobreviver no trabalho e vivem inventando desculpas
para não fazer algo que não compreendem".
O efeito psicológico
dessa doença é tão devastador, que o analfabeto
funcional pode até recusar uma promoção por
não se sentir capaz de admitir que tem problemas em entender
o que está fazendo. Para as empresas, as perdas podem ser
enormes. "O fato do trabalhador não entender, por exemplo,
um manual de informações, pode provocar um desestímulo,
significar jogar tempo fora e causar uma queda na produtividade",
diz o professor. São as chamadas "perdas invisíveis".
No Brasil calcula-se,
segundo Moreira, que a queda na produtividade provocada pela incidência
de analfabetismo funcional, seja traduzida em uma perda equivalente
a US$ 6 bilhões anuais. Um estudo realizado em 1999, pelas
agências americanas National Alliance of Business e National
Institute for Literacy estimou que a deficiência de habilidades
básicas dos empregados resultava em uma queda de produtividade,
de US 60 bilhões.
A diferença
do analfabeto funcional para o analfabeto clássico, segundo
o professor, é que o primeiro sabe ler mas é despreparado
para a vida na sociedade da palavra escrita. Pode-se considerar
pertencentes a esse grupo também aqueles que possuem menos
de quatro anos de escolarização. O professor diz que
dentro deste universo existem 900 milhões de pessoas no mundo
que não possuem habilidades de leitura, escrita e cálculo
e, com isso, têm dificuldade em cumprir tarefas simples e
corriqueiras da vida pessoal como entender sua conta de luz ou seguir
um livro de receitas.
O conceito de
analfabetismo funcional surgiu nos Estados Unidos em 1985, mas só
ganhou popularidade em 1992, quando foi realizada uma pesquisa chamada
"Young Adult Literacy Survey ", com 26 mil jovens. Posteriormente,
foram realizados levantamentos em mais de 20 países.
Para começar
a solucionar o problema, segundo o professor, a empresa em primeiro
lugar precisa admitir que ele existe. "É preciso medir,
ver quais grupos fazem o quê e classificá-los em vários
níveis", diz. "Não adianta pedir mais para
quem não pode ir além. Quem precisa de ajuda, deve
ter o dobro de horas de treinamento, seu limite deve ser respeitado".
(Valor Econômico)
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Estudo mostra que no Brasil
o índice é preocupante
No Brasil, 74%
das pessoas teoricamente alfabetizadas ,não compreendem o
que lêem e podem ser, genericamente, consideradas analfabetas
funcionais. Apenas 26% dos brasileiros alfabetizados sabem exatamente
o que estão lendo.
Esses dados
preocupantes fazem parte de uma pesquisa realizada no final do ano
passado em parceria pelo Instituto Paulo Montenegro (entidade criada
pelo Ibope) e pela ONG Ação Educativa. O levantamento
foi feito com base em questionários distribuidos a 2000 pessoas,
com idades entre 16 e 64 anos, pertencentes a várias classes
sociais. "Agora estamos aprofundando esse estudo para analisar
o uso da leitura nos diversos ambientes ", diz o secretário-executivo
do instituto, Fábio Montenegro.
A entidade também
está se reunindo hoje com representantes do governo do estado
do Rio de Janeiro, para discutir a realização de uma
pesquisa estadual sobre o índice de analfabetismo funcional.
A intenção
do Instituto também é sair a campo novamente até
o fim do ano para realizar um novo estudo enfatizando, desta vez,
as habilidades de cálculo da população brasileira.
E, em 2003, retomar o estudo sobre a habilidade de ler e escrever,
para que se possa comparar os novos dados com os coletados na primeira
pesquisa.
(Valor Econômico)
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