Benefícios
trabalhistas não são incluídos nos acordos
coletivos
Ao assinar acordos
coletivos, os trabalhadores começam a abrir mão de
uma série de benefícios garantidos por lei. Esse movimento
começou a ser visto nas negociações coletivas
do primeiro semestre e é encarado como tendência para
o ano, segundo analistas e sindicalistas.
Com a insegurança
econômica e política, a discussão deve restringir-se
à mera reposição da inflação.
E, com isso, as chamadas cláusulas sociais são postas
de lado. Pesquisa realizada pelo Dieese apontou que apenas 42% dos
sindicatos que negociaram no primeiro semestre conseguiram fechar
convenção coletiva com reposição do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
A notícia
cai como uma bomba. Afinal, sem benefícios, o trabalhador
vê sua renda indiretamente achatada. Some a isso a retração
do mercado de trabalho que impõe ao salário dos brasileiros
a quinta queda anual consecutiva, tal como previram ontem economistas,
de maneira unânime, ao comentar o desemprego de 7,5% em junho
divulgado pelo IBGE. Com isso, reduziram a 14% os ganhos salariais
produzidos pelo Plano Real. O que já é alto. Pesquisa
do Dieese aponta que não houve ganho. Ao contrário,
esse dado foi negativo em mais de 30%.
Leia
mais:
- Trabalhador perde benefícios nos acordos coletivos
Leia
também:
- Retração do emprego derruba os salários
- GM suspende demissões até 28 de fevereiro
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Trabalhador perde benefícios
nos acordos coletivos
A insegurança econômica e política deve esvaziar
a campanha salarial das categorias profissionais com data-base no
segundo semestre. A discussão deve restringir-se à
mera reposição da inflação. As chamadas
cláusulas sociais podem ficar de lado. Isso deve representar
uma perda na renda indireta do trabalhador.
Esse movimento começou a ser visto nas negociações
coletivas do primeiro semestre e é encarado como tendência
para o ano, segundo analistas e sindicalistas.
Nem mesmo as campanhas salariais da região Sul, onde grande
parte das empresas exportadoras foi favorecida pelo câmbio
desvalorizado, fugiram muito à regra. "A negociação
está se centrando em duas cláusulas, reajuste e piso
salarial", afirma o supervisor técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
(Dieese) do Rio Grande do Sul, Ricardo Franzoi.
Entretanto, o setor industrial gaúcho apresentou resultado
melhor que o comércio. Dos 54 acordos fechados até
junho pela indústria , 77% repuseram as perdas inflacionárias
acumuladas nos doze meses precedentes, contra 50% dos acordos no
comércio.
Na média, o balanço preliminar mostra que cerca de
75% delas fecharam com reajuste salarial igual ou superior ao Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que baliza a maioria
dos acordos. Um desempenho bem pior que o registrado no mesmo período
de 2001, quando 92% das convenções repuseram a inflação.
Em Santa Catarina, os sindicatos também têm dificuldade
para negociar benefícios. "Há resistência
brutal em discutir piso salarial, reajustar valor de ticket alimentação
ou plano de saúde", diz Daniel Passos, do Dieese local.
A expectativa do coordenador técnico da entidade em São
Paulo, Wilson Amorim, é de que a safra de acordos pelo país,
que contemple a inflação, diminua para algo perto
de 50%. No ano passado, ficou em 64%. "Há espaço
restrito para campanha, que se concentra em reposição
salarial", afirma. "As negociações são
tensas e se prolongam além do prazo normal".
O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
João Vaccari Neto, lembra que no ano passado a campanha estendeu-se
por quatro meses. Neste ano, a pauta de reivindicação
já foi entregue à entidade patronal, mas a primeira
reunião deve ocorrer apenas em agosto, ou seja, na data-base.
Já o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, Eletroeletrônicos,
Duas Rodas e Construção Naval do Amazonas realizou
quatro reuniões com as representações patronais
e o impasse continua. Hoje tem mais uma rodada de negociação.
Os empresários estão resistindo até mesmo em
repor, de forma integral, as perdas salariais", comenta o presidente
da entidade, Agostinho Pereira Corrêa. "E isso porque
estão contratando e o setor têm apresentado resultados
em média 7% superiores aos de 2001".
A estratégia do sindicato para pressionar o fechamento de
um bom acordo são paralisações de uma hora
na produção, cada dia em empresas diferentes. Ontem
foi a vez de atrasar o primeiro turno na LG e na Gradiente.
A Federação dos Químicos de São Paulo
decide hoje, em seminário com os 32 sindicatos filiados,
o rumo da campanha salarial. Segundo o presidente da entidade, Danilo
Pereira da Silva, uma pesquisa realizada com o Dieese apontou que
apenas 42% dos sindicatos que negociaram no primeiro semestre conseguiram
fechar convenção coletiva com reposição
do INPC. "As negociações desse semestre serão
ainda piores e, por causa dessa expectativa, pensamos em antecipar
a campanha para agosto", adianta Danilo. A data-base é
em novembro.
Já o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo,
que representa grande parte das autopeças do Estado, está
à espera de um quadro mais claro. Segundo seu vice-presidente,
Ramiro de Jesus Pinto, se a entidade iniciar campanha antecipadamente,
como em 2001, "vai apanhar". "Vamos deixar o país
e as montadoras se acalmarem, provavelmente após as eleições".
A campanha das autopeças será difícil, pela
disposição do negociador patronal pelo Sindipeças,
Drausio Rangel. "No momento, se os acordos ficarem como estão,
será bom negócio para a categoria".
Apenas os trabalhadores das montadoras de São Bernardo do
Campo, representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
podem ficar tranqüilos. A convenção coletiva
fechada no ano passado foi bienal, o que garante reposição
integral da inflação e manutenção dos
benefícios.
Luiz Marinho, presidente da entidade na época, hoje licenciado
para concorrer a vice-governador de São Paulo na chapa de
José Genoino (PT), diz que o acordo de 2001 tem conceitos
do contrato coletivo. "Com inflação controlada,
não faz mais sentido negociar todo ano, dispersa questões
mais relevantes".
O presidente da CUT, João Felício, reconhece não
haver espaço nessa campanha para entrar em detalhes. "Nossa
orientação aos sindicatos tem sido a de não
deixar para negociar no auge do processo eleitoral, abrindo espaço
para maior mobilização caso haja resistência
patronal."
(Valor Econômico - 25/07/02)
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Retração
do emprego derruba os salários
A retração do mercado de trabalho deverá impor
ao salário dos brasileiros a quinta queda anual consecutiva,
previram ontem economistas, de maneira unânime, ao comentar
o desemprego de 7,5% em junho divulgado pelo IBGE.
Em maio, na 17ª redução consecutiva, os rendimentos
ficaram 1,8% menores do que os de maio do ano passado. Com isso,
reduziram a 14% os ganhos salariais produzidos pelo Plano Real.
De julho de 1994 a dezembro de 1997, o valor médio dos salários
subiram 20%. Depois disso, porém, o que se viu foi uma seqüência
de decaídas que principiou com um tímido recuo em
1998 (0,5%) e acentuou-se com as quedas de 6%, 1%, e 4% verificadas
em 1999, 2000 e 2001.
A perda de 2002 pode chegar a 4%, segundo a economista Sandra Utsumi,
do BES Investimento. André Lóes, do Santander, prevê
recuo de 1,5%, e a LCA Consultores trabalha com baixa de 3%. Mesmo
com eventual melhora da atividade econômica, os analistas
consideram improvável a reversão do declínio
de 4,6% acumulado até maio.
"O problema é que isso gera um ciclo vicioso. Os salários
caem porque a economia não cresce. E, por outro lado, um
dos maiores obstáculos para o crescimento da economia é
justamente o rendimento em queda", comentou Sandra. Deflacionada
pelo INPC, a renda média da população empregada
foi de aproximadamente quatro salários mínimos em
maio: R$ 792,76.
Segundo Shyrlene Ramos de Souza, economista do IBGE, a diminuição
dos salários é conseqüência direta do elevado
patamar de desocupação. Estatisticamente, a descida
dos 7,7% de maio para os 7,5% de junho nada significa. Com ajuste
sazonal, o desemprego chegou a ter ligeira alta, de 7,1% para 7,2%,
e, comparado a junho de 2001, superou de longe a taxa de 6,4% verificada
então. Nesses doze meses, houve aumento de 22% no número
de desempregados. "A geração de vagas está
sendo insuficiente", salientou Shyrlene.
Ela observou, além disso, que o aumento de 1,3% na taxa
de ocupação entre junho de 2001 e junho deste ano
concentrou-se nos empregos sem carteira assinada - com alta de 2,9%,
contra 1,6% dos com carteira - e nos setores que tradicionalmente
pagam salários menores: comércio e serviços.
Os dois aumentaram em, respectivamente, 2,2% e 2,5% o seu contingente
de empregados. Em contrapartida, a construção civil
reduziu em 10,7% e a indústria rompeu a duras penas, com
avanço de 0,6%, uma trajetória de oito meses com queda
na ocupação. Não é por acaso que São
Paulo, maior parque industrial do país, permanece há
dois meses com a maior taxa das seis regiões pesquisadas
pelo IBGE: 8,7% em junho, após a marca recorde de 9,2% apurada
em maio.
Para Wilson Ramião, do Lloyd's TSB, o mercado de trabalho
brasileiro se encontra agora em seu segundo momento de ajuste. O
primeiro, disse, foi a redução dos rendimentos. Embora
continuem em queda, eles apresentam variações menores
do que nos meses anteriores. Agora, segundo ele, o que ocorre é
o fechamento de vagas e o baixo ritmo de contratações,
expressos nas altas taxas de desemprego.
(Valor Econômico - 25/07/02)
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GM suspende demissões
até 28 de fevereiro
As 808 demissões que a General Motors (GM) anunciou na semana
passada ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano
do Sul foram parcialmente revertidas. Ontem, na terceira reunião,
a empresa suspendeu os cortes de 700 funcionários até
o dia 28 de fevereiro de 2003, segundo o presidente do sindicato,
Aparecido Inácio da Silva. Os outros 108 trabalhadores, com
contrato temporário, serão dispensados no fim do mês.
As férias coletivas, que começam na segunda-feira
e vão até o dia 7, foram mantidas. Depois desse período,
será adotado o banco de horas, até 31 de outubro.
O acerto entre sindicato e montadora prevê um esquema de revezamento,
em que a cada semana 700 funcionários ficam em casa, recebendo
salário integral.
Além disso, deve ser aberto um Plano de Demissão
Voluntária (PDV) para atingir os 700 trabalhadores. Ele começa
assim que a proposta for aprovada pela assembléia de trabalhadores,
marcada para hoje. A expectativa do sindicato é de que, com
as adesões, a situação se acalme.
Se a expectativa for frustrada, o acordo estabelece o afastamento
temporário, com redução salarial de 20% de
4 de novembro até 30 de março de 2003. Apenas em dezembro,
a empresa deve pagar 90% do salário, diz o sindicato.
Outras duas montadoras no Paraná, Renault e Volvo , estão
adotando férias coletivas para adequar a produção
de veículos. A Renault encerrou ontem interrupção
de três dias na produção.
De acordo com a empresa, a medida não afeta a fábrica
de motores e a unidade de veículos utilitários em
parceria com a Nissan, todas em São José dos Pinhais,
na Região Metropolitana de Curitiba. A Renault aumentou a
produção de motores recentemente - passou a fazer
810 por dia. Neste caso, a exportação de 50% da produção
garante as vendas.
As vendas externas também são as responsáveis
pela continuidade da produção na unidade da Audi/Volks
em São José dos Pinhais. Segundo sua assessoria, não
há previsão de férias por conta da exportação
de 50% dos veículos Golf para Canadá e Estados Unidos.
O setor de autopeças, especialmente os fornecedores exclusivos
da Renault, sente as dificuldades. De acordo com o sindicato dos
metalúrgicos, várias empresas que trabalham no sistema
"just in time" tiveram de interromper a produção.
A Volvo dará férias de 10 dias a partir de 12 de
agosto. A medida fazia parte dos planos da montadora, e apenas foi
antecipada.
(Valor Econômico - 25/07/02)
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