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Depressão
causa discriminação no trabalho
Uma em cada
cinco pessoas tem, teve ou terá depressão. A doença
atinge especialmente quem está na faixa etária mais
produtiva: dos 30 aos 40 anos. Não escolhe classe social.
Atinge do doutor à faxineira. Em geral, a depressão
é temporária. Em todos os casos é tratável.
Embora a doença seja cada vez mais comum, ainda causa discriminação
no trabalho e demissões. A pessoa deprimida fica estigmatizada
como alguém que faz corpo mole, é baixo-astral e sem
pique.
Quem tem depressão
fica com a fadiga aumentada, dificuldade de concentração,
baixa auto-estima e autoconfiança, idéias de culpa,
sensação de inutilidade, lentidão motora, raciocínio
desmotivado, sem interesse por projeto algum, lento, dispersivo,
mal-humorado. A pessoa deprimida muitas vezes acaba por ser demitida
ou é preterida nas promoções e isolada para
não contaminar a equipe. Numa pesquisa recente feita na Inglaterra,
47% das pessoas com distúrbios mentais disseram ter passado
por discriminação no trabalho e 55% esconderam o caso
dos colegas.
O preconceito
está diminuindo em países como os Estados Unidos.
Lá, 70% das empresas reconhecem a importância de criar
projetos de saúde corporativa que incluam distúrbios
psíquicos. O governo americano estima que o país gaste
70 bilhões de dólares por ano com a perda de produtividade
e despesas médicas provocadas pela depressão. Uma
pessoa que sofre desse mal falta ao trabalho três vezes mais
que um colega sem a doença. No Brasil, a preocupação
ainda não se traduz em investimento para mudar o problema.
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Um profissional
desmotivado, sem interesse por projeto algum, lento, dispersivo,
mal-humorado com os colegas talvez não seja um mau profissional.
Ele pode estar doente, com depressão. Veja esta breve lista
de sintomas: fadiga aumentada, dificuldade de concentração,
baixa auto-estima e autoconfiança, idéias de culpa,
sensação de inutilidade, lentidão motora e
de raciocínio. Agora imagine trabalhar com uma pessoa assim,
ser subordinado ou chefe dela. "A pessoa deprimida fica estigmatizada
como alguém que faz corpo mole, é baixo-astral e sem
pique. Muitas vezes acaba por ser demitida ou é preterida
nas promoções e isolada para não contaminar
a equipe", afirma a psicóloga Débora Glina, professora
de pós-graduação e consultora especializada
em saúde do trabalhador.
A depressão
é um problema comum. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, uma em cada cinco pessoas é, foi
ou será afetada pela doença. Ela atinge especialmente
quem está na faixa etária mais produtiva, dos 30 aos
40 anos. Atinge o doutor e a faxineira. A depressão é,
em grande parte das vezes, temporária, e sempre tratável.
Não há estudo científico nem caso clínico
que digam o contrário. Apesar disso, a depressão ainda
é envolta em uma aura de ignorância, segredos e medos.
E em nenhum lugar isso é mais verdadeiro que no ambiente
de trabalho.
Para um paciente
psiquiátrico, encontrar e manter o emprego é um desafio.
Numa pesquisa recente feita pela Fundação de Saúde
Mental da Inglaterra, 47% das pessoas com distúrbios mentais
disseram ter passado por discriminação no trabalho,
e 55% esconderam o caso dos colegas. Num célebre estudo realizado
em 1998, 200 profissionais de recursos humanos avaliaram o currículo
de dois pretendentes a um alto cargo. Ambos os candidatos tinham
experiência e formação equivalentes, mas um
deles sofria de diabetes e o outro se recuperava de um período
de depressão. O candidato com depressão foi considerado
"significativamente menos empregável" que o com
diabetes.
A paulista Renata
Barros Lima formou-se em marketing, fez pós-graduação
e com 27 anos, após três promoções em
quatro anos, já ocupava um posto de chefia numa rede de lojas.
Três meses depois de chegar ao topo, não se reconhecia
mais profissionalmente. "Eu detectava um problema, irritava-me
com ele, até chorava, mas era incapaz de reagir para corrigi-lo.
Achava que não havia o que fazer com as coisas ruins, pois
a tendência natural delas era piorar", conta. Renata
só recebeu o diagnóstico de depressão quando
já estava demitida. "Fiquei um mês sem sair de
casa", lembra. Não se passaram três meses, porém,
e ela já estava comandando uma nova equipe em outra empresa.
"Eles sabiam da depressão, mas apostaram em meu currículo
anterior", diz a moça.
A companhia
que demitiu Renata agiu de acordo com o padrão das empresas
brasileiras quando o assunto é doença mental. A que
a admitiu ainda sob tratamento é uma exceção,
mas representa uma tendência. Nos Estados Unidos, 70% das
empresas, segundo dados de uma pesquisa, reconhecem a importância
de criar projetos de saúde corporativa que incluam distúrbios
psíquicos. O governo americano estima que o país gaste
70 bilhões de dólares por ano com a perda de produtividade
e despesas médicas provocadas pela depressão. Uma
pessoa que sofre desse mal falta ao trabalho três vezes mais
que um colega sem a doença. "No Brasil, a preocupação
ainda não se traduz em investimento para mudar o problema",
diz o médico João Figueiró, presidente do comitê
de saúde da Câmara Americana de Comércio.
"Quando
a empresa oferece um acesso fácil com garantia de anonimato,
o empregado busca apoio psiquiátrico mais rápido",
afirma o médico do trabalho Ésio Carneiro. O anonimato
é importante porque o preconceito existe também para
o próprio paciente. "Eu simplesmente não admitia
que pudesse ter passado para o outro lado", diz a enfermeira
Cecília Toledo, que trabalha com pacientes com distúrbios
mentais e dá aulas sobre o assunto no Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas de São Paulo. Mesmo com todo
o seu conhecimento, Cecília passou três anos dormindo
e se alimentando mal, com preguiça e auto-estima zerada,
até ter coragem de consultar um psiquiatra, que identificou
nela depressão e síndrome do pânico. Até
hoje, dez anos depois, e ainda usando medicamentos e fazendo terapia,
ela jamais falou de seu problema para os companheiros de trabalho.
O assessor de
informática da diretoria do IBGE, Fernando Robson Tartin
Costa, sempre foi um viciado em trabalho, um perfeccionista. Em
1997, teve uma crise de depressão, mas só se deu conta
dela quando, inscrito num curso, desistiu de acompanhá-lo.
"A sensação de fracasso foi demais. Como uma
pessoa com mestrado, como eu, não conseguia fazer um curso?",
lembra. "Minha vida ficou uma droga quando me vi como um profissional
que eu próprio não admirava." É por isso
que a primeira reação de uma pessoa com problemas
psíquicos é negar a doença. "Ela acha
que tem uma fraqueza moral que deve ser enfrentada com força
de vontade", afirma o psiquiatra Renério Fraguas Junior.
"Não consegue", completa. Mas, para aceitar essa
conclusão numa cultura em que reina o preconceito, em geral
só passando pela doença. Meirylucy Porto e Celimar
Reck trabalham juntas no departamento médico da sede dos
Correios no Rio de Janeiro. Em momentos diferentes, tiveram depressão.
Ao falar de preconceito, lembram o que elas próprias tinham
antes de se tornar pacientes. "Várias vezes, quando
uma funcionária vinha ao departamento pegar licença
por causa de depressão, comentávamos entre nós:
'Um tanque de roupas para lavar resolveria o problema dela rapidinho'."
Mudaram de opinião.
(Veja)
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