.

              
 
HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

arte
02/09/2005
Comunidade faz Cinema

Erika Vieira

Essa semana comunidades paulistas e cariocas tomaram conta do XVI Festival Internacional de Curtas - Metragens de São Paulo, realizado no Museu de Imagem e Som. O evento abriu espaço para a apresentação de grupos que produzem vídeos independentes dentro de comunidades carentes.

Os grupos participaram do 2º Fórum de Projetos da Formação do Olhar, tendo como tema “Segundo Passo: uma orientação para os Núcleos de Produção e Exibição nas Comunidades”. O evento foi composto por nove equipes formadas basicamente por jovens de baixa renda que se dedicam a produzir cinema, conciliando a atividade com o estudo e outro tipo de trabalho, afinal para muitos o empreendimento audiovisual ainda não trás retorno financeiro suficiente para se manterem.

O Fórum foi aberto pelo pessoal do Boca de Filme, fundado na Cidade de Deus no Rio de Janeiro. Os representantes Leandro Monteiro e Manaíra Carneiro contaram que tudo teve inicio com o filme “Cidade de Deus” que mobilizou muitos moradores da favela durante as gravações, a partir daí o grupo foi formado e hoje produz curtas-metragens, videoclipes e eventos. “No começo não queríamos ganhar dinheiro com isso, queríamos era mostrar para nossa comunidade que sabíamos fazer alguma coisa”, diz Leandro.

O último curta do Boca é o “Mulher de Amigo” que faz parte do projeto “Cotidiano de Favela”, idealizado para ser um seriado de TV. Eles trabalham para retratar a realidade da favela, pois sentem que não há uma identidade da classe baixa na mídia. “Acredito no audiovisual como instrumento de uma sociedade melhor. Só por esse meio vamos conseguir falar uma linguagem que todos entendam. Pode ser uma utopia, mas só a arte muda, só a arte transforma”, fala Manaíra.

Os cariocas continuaram com o Nós do Cinema também composto por participantes do filme "Cidade de Deus" e da minissérie "Cidade dos Homens", exibida pela Rede Globo. O projeto utiliza o cinema como pano de fundo para desenvolver uma postura crítica no jovem a respeito do mundo em que vive. “Somos tão massificados pelos meios de comunicação que é fácil nos sentirmos vitimas da situação. É difícil mudar um discurso que vem sendo construído há 500 anos, mas tentamos”, declara Júlio César Siqueira, membro da ONG.

O Nós do Cinema tem uma estrutura de escola e atende 30 alunos, além de promover atividades externas para cerca de 190 pessoas. Eles ensinam língua Portuguesa, Inglês, Fotografia e Linguagem Cinematográfica, além de fornecer vale transporte e alimentação. As produções são feitas para atingir as comunidades. Através do cinema constroem novas imagens para tentar desconstruir os conceitos já concretizados pela grande mídia, fala emocionada uma das integrantes do grupo.

Dentro do núcleo não existe nenhum tipo de discriminação, por isso optaram por montarem a sede em um bairro “neutro” em que não houvesse disputa entre moradores de favelas rivais, para que dessa forma todos pudessem participar. Eles trabalham em curtas-metragens, vídeos, clipes musicais e comerciais.

Já Sampa foi representada pelo Filmagens Periféricas, da Cidade Tiradentes. “O cinema é uma coisa elitizada, mas tem que acreditar para mudar”, fala o integrante Negro JC. O grupo produziu o vídeo “Raça”, entre suas iniciativas destaca-se o Projeto Cinema de Periferia - no qual distribui seus vídeos nas locadoras da região - a cobertura do Prêmio Ethos, e está em andamento com filmagens de um dos eventos do Fome Zero.

Joinha Filmes é um núcleo criado em 2003 por quatro jovens de baixa renda que estavam cansados de ligar a televisão e assistirem um mundo que não condisseste com a realidade deles. Por isso, o Joinha começou a produzir curtas e a oferecer oficinas de vídeo nas periferias da cidade, tudo feito com o apoio da Ação Educativa, instituição que promove projetos educacionais a fim de alcançar justiça social e desenvolvimento sustentável.

Foi da Ação Educativa que também surgiu o VCT (Vídeo, Cultura e Trabalho) composto por 40 jovens de diversas regiões do centro metropolitano de São Paulo. “Discutimos para não fazer um vídeo à toa, discutimos para produzir algo que tenha um embasamento na sociedade”, explica o integrante Wilq Vicente. Já ministraram oficina de vídeo no Fórum Mundial Social, em Porto Alegre e continuam a fazer isso por toda cidade de São Paulo, como é o caso da realizada em Carapicuíba, lugar escolhido pela carência de investimento nesta área.

Na Zona Sul de São Paulo a comunidade está sendo educada audiovisualmente pelo MUCCA (Mudança com Conhecimento, Cinema e Arte) e pelo Nerama. A visão dos dois grupos se distingue no foco da educação. O MUCCA busca levar através da arte cinematográfica a mudança da comunidade e da sociedade, utilizando os filmes para promoverem debates. O grupo apresenta as projeções dentro das favelas do Jardim Jangadeiro e Jardim Fim de Semana. Enquanto que o Nerama, composto por três pessoas, utiliza a arte para expressar as angustias do ser humano. “Escolhido bem o filme, isso basta não precisa de debate”, defende Luciano Oliveira, do grupo Nerama. Eles promovem o projeto Cine Escola desde 2001, instalado em cinco escolas públicas do Jardim São Luiz, cada colégio produzirá dois curtas-metragens que será exibido em praça pública. Apesar das diferenças, ambas tem o mesmo objetivo: democratizar a comunicação.

O Bairro do Bom Retiro conta com a ONG Instituto Criar, formado por estudantes que participaram do Fórum Social Mundial junto com o VCT. Trabalham com a exibição de vídeos dentro da periferia e pensam em produzirem um curta junto com os catadores de lixo. Do outro lado de São Paulo, na Cohab da Parada de Taipas a disseminação do cinema é feita pelo Arroz, Feijão, Cinema e Vídeo. “O projeto existe porque o local não tem nada só as bocas de fumo”, diz a integrante Vanice Deise. O núcleo pretende dar oficinas de vídeo e fanzines, eles contam com a participação de uma historiadora, o que contribui para ampliar a visão de mundo da equipe. “Com isso, queremos aumentar a autovalorização e liberdade criativa da região”, complementa Eder Augusto.

Iniciativas como essas estilhaçam a comunicação de mão única ainda predominante no Brasil, é o que concluem os cineastas, antropólogos e outros profissionais do cinema presentes no festival. Para eles cabe ao jovem abrir caminhos a fim de se comunicar com todos os âmbitos da cidade.

   
 
 
 
NOTÍCIAS ANteriores
02/09/2005
Praça, Lixo e Escola
02/09/2005
Cursinho preparatório para o Vestibular oferece simulado do Enem gratuito
01/09/2005 Mobilizadores do "Fundeb pra Valer" são recebidos em Brasília
31/08/2005 Abordagens para Inclusão Econômica de Pessoas com Deficiência é tema de Fórum em São Paulo
29/08/2005 Encontro reúne cidadãos para discutir país do futuro
26/08/2005 Alunos das 1.400 escolas da rede municipal agitam o Sambódromo hoje
26/08/2005 Cidadãos comuns discutem o futuro do país no DNA Brasil
25/08/2005 Violência Institucional ainda é um dos fatores mais preocupantes contra adolescentes
25/08/2005 Violência entre jovens preocupa a comunidade
19/08/2005 USP oferece formação superior a indígenas