palco
06/05/2008

Jovens de bairros periféricos entram na onda do corpo

Projeto Fábricas da Cultura resulta no espetáculo Pedrinho Luz, com elenco na faixa etária entre 14 e 19 anos


Mil e duzentos jovens, com idade entre 14 e 19 anos, moradores de bairros considerados socialmente críticos, segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil, da Fundação Seade, como Capão Redondo, Brasilândia e Sapopemba. Oito coordenadores artísticos, entre eles, o percussionista Ari Colares, a bailarina e crítica de dança Inês Bogéa e o diretor teatral Marcio Aurélio. Nove edifícios, ou melhor, nove Fábricas de Cultura, de onde devem sair belos espetáculos e provar que basta uma única oportunidade para mostrar do que esses jovens são capazes. Amanhã e quinta, às 20 horas, o piloto desse projeto, que já está transformando a vida de muitos desses jovens até então carentes por cultura, será apresentado no Teatro São Pedro. Podem chamá-lo de Pedrinho Luz.

O nome do menino, no título, diz respeito ao protagonista dessa história que será recontada dez vezes e de formas distintas (os coreógrafos convidados para dirigir os espetáculos de cada unidade têm plena independência na criação). Pedrinho é uma releitura de Petrouchka, balé folclórico russo inspirado numa versão da commedia dell''arte italiana, que foi ao palco pela primeira vez em 1911. O menino, na verdade, é um boneco, que se apaixona por uma marionete, a Bailarina, que, por sua vez, só tem olhos para outro boneco, o Mouro. Toda a trama é conduzida pelo Mágico, o manipulador de todos eles.

A Luz, que acompanha o nome do menino no título, vem do fato desse projeto piloto ter sido concebido no bairro paulistano que tem essa denominação. Mas também pode ser facilmente associado à oportunidade que esses meninos não sonhavam em ter tão cedo. O projeto idealizado em 2002 e que só agora ganhou fôlego para sua realização conta com o incentivo de R$ 10 milhões - 70% desse valor é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e 30% dele pela Secretaria de Estado da Cultura. Luiz Nogueira foi o responsável por tirar a iniciativa da gaveta e apostar nela todas as suas fichas. ''Sempre acreditei que a principal expressão dos jovens se dá pelo corpo. É com ele que esses meninos se divertem, se reconhecem pelos gestos, pela dança, pela roupa que usam'', opina o coordenador geral.

A segunda etapa consistiu no convite aos profissionais gabaritados em suas respectivas áreas, a fim de oferecer as ferramentas necessárias a esses meninos na construção de um espetáculo. Desde maio, os meninos do Pedrinho Luz vêm trabalhando no processo de montagem e conseqüente apresentação. Em agosto do ano passado, as inscrições foram abertas aos jovens interessados em participar das outras nove montagens espalhadas por nove pontos periféricos da capital (Brasilândia, Cachoeirinha, Capão Redondo, Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Jaçanã, Jardim São Luís, Sapopemba e Vila Curuçá) para, enfim, em setembro iniciarem o trabalho.

Cerca de 100 meninos integram cada uma das unidades e recebem uma ajuda de custo de R$ 50, além de lanche e transporte para suas apresentações. Agentes culturais e arte-educadores, especializados nas mais diversas áreas de humanas, também foram selecionados por meio de concursos públicos para dar continuidade ao programa. ''Muitos deles são da própria comunidade'', conta Nogueira. ''Eles são responsáveis pela identificação dos interesses dos meninos que, muitas vezes, pende para outras áreas, como o esporte. A nossa missão é a de inserção social pelo mundo da cultura.''

A idéia é que, quando todos os Pedrinhos estiverem prontos, eles realizem um processo de rodízio entre si. Assim, todos terão a oportunidade de checar o trabalho executado pelas diferentes Fábricas de Cultura, iniciado com muita potência pelo piloto dirigido por Susana Yamauchi, como a reportagem do Estado pôde constatar em sessão prévia. ''Trabalhamos quase todos os dias durante três meses. Eu apenas estimulei a construção coreográfica: ali está a assinatura de todos os meninos'', conta Susana. Os participantes do Pedrinho Luz já tinham certa iniciação na dança e, por isso, a qualidade técnica constatada por quem assiste. ''Agora estamos em fase de montar um elenco de manutenção, ou seja, de dar oportunidade de todos os meninos exercitarem tanto o papel de protagonista, quanto o de estar em conjunto, ambos muito importantes.''

A coordenação também planeja realizar uma temporada de cerca de 2 meses num grande teatro, como por exemplo o Sérgio Cardoso, com todos os Pedrinhos, sendo uma semana para cada mais para o fim do ano.

O sorriso estampado no rosto dos meninos, durante e pós-espetáculo, dá a certeza do retorno positivo da iniciativa. Bastam mais alguns milhares de projetos como esse pelo Brasil para realizar o sonho não sonhado de outros Pedrinhos ainda não atendidos.

Serviço
Pedrinho Luz. Theatro São Pedro (636 lugares).
Rua Barra Funda, 171, Barra Funda
tel. 3667- 0499. 4.ª e 5.ª, às 20 horas.
Grátis (retirar ingresso uma hora antes)

Livia Deodato
O Estado de S.Paulo


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