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valorização
16/03/2005
Fundação Banco do Brasil constrói central para apicultores do Nordeste

É quase um roteiro cinematográfico a trajetória das abelhas no Brasil. Trazidas pelos colonizadores e pelos jesuítas no século 18, as abelhas européias foram as primeiras a chegar ao país. Ao longo de todo o século, foram feitas encomendas de colméias de Portugal, Alemanha e Itália, principalmente para os estados das regiões Sul e Sudeste. Era o início da apicultura no Brasil. Em 1956, abelhas africanas ou assassinas foram importadas por cientistas brasileiros, interessados em aumentar a produção de mel. No entanto, por causa de um acidente em São Paulo (1957), alguns enxames escaparam das colméias e as abelhas assassinas se espalharam pelas florestas brasileiras. Diferentemente do que previam os pesquisadores, esta história não teve um final aterrorizador. Pelo contrário, as abelhas africanizadas, misturadas com as de origem européia, se adaptaram muito bem ao clima tropical, além de serem mais resistentes a doenças. Graças a elas, hoje o Brasil é um dos maiores exportadores de mel do mundo. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, exportamos 21 mil toneladas de mel em 2004. Não foram elaborados, no entanto, dados de comparação com outros países, mas o número é expressivo.

Entre as regiões de maior produção, vem merecendo destaque nos últimos anos o Nordeste, mais precisamente o Semi-árido. Os seus moradores têm superado a estiagem com a venda de mel . Na época da seca (de julho a janeiro), as abelhas colhem o néctar (matéria-prima do mel) das flores que brotam na caatinga, principalmente do cajueiro e da leucema. Mas o mel mais apreciado é retirado de janeiro a março, quando as flores mais procuradas pelas abelhas são de marmeleiro e de angico. Nas outras épocas do ano, mulungos, bamburral (erva-canudo) e vassoura (ou vassourinha de botão) fornecem o néctar para as abelhas. Segundo dados da Federação de Apicultura do Piauí (Feapi), só do Piauí saem cinco mil toneladas de mel por ano. O estado está entre um dos três maiores produtores, disputando com Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O município de Picos é o destaque do Piauí, com 2.500 toneladas por ano.

Os números no Nordeste só não são mais expressivos porque muitos apicultores ainda sofrem na mão dos atravessadores, que compram o produto a preços baixíssimos e o revendem. Para solucionar este problema, a Fundação Banco do Brasil está investindo dois milhões de reais em um projeto que vai incentivar a cadeia produtiva do mel nos estados do Piauí, Ceará, Pernambuco e Maranhão. Com a parceria da Fundação Unitrabalho, Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT, Entidade Intereclesial Holandesa de Apoio aos Países em Desenvolvimento (ICCO) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae de Picos), a Fundação pretende criar um empreendimento econômico solidário e sustentável na região do Semi-árido Nordestino. Caberá ao grupo holandês cuidar da abertura de mercados na Europa. O projeto envolve ainda a participação de quatro cooperativas apícolas, duas em Picos, uma em Horizonte (CE) e a outra em Trindade (PE). Para centralizar toda a produção de mel destas regiões, será construída, até o fim do ano, uma unidade industrial de processamento do mel, que deverá funcionar também em forma de cooperativa.

“Os produtores deixarão de ser meros geradores de matéria-prima para serem proprietários das diversas etapas da cadeia produtiva, ou seja, das colméias, das casas de mel e da central de processamento e envasamento do mel, realizando inclusive a comercialização do mesmo já industrializado”, explicou Jorge Bertoldi, responsável pela cadeia produtiva da apicultura na Fundação Banco do Brasil.

Para iniciar o projeto, a Fundação realiza até o fim do mês uma assembléia que vai definir o local onde será construída a central de processamento e a data do começo das obras. Antes disso, será realizada a capacitação dos produtores cadastrados nas quatro cooperativas: são 173 apicultores ativos e outros 204 inativos (que estão cadastrados, mas não comercializam seu mel por meio das cooperativas). Juntos, os cooperativados ativos produzem anualmente 1.018 toneladas. Com a capacitação e a criação da central, eles devem aumentar sua produção, além de criar um padrão para o seu produto, como explica Antônio Leopoldino, presidente da primeira cooperativa do Piauí, criada em 1985, a Cooperativa Apícola da Micro-região de Picos (Campil) e presidente também da Federação de Apicultores do Piauí: “Com a ajuda da Fundação, poderemos ter a nossa marca. O que acontece no momento é que o nosso mel é vendido e exportado a granel para a Europa e só lá ele recebe uma embalagem.”

A vida de Antônio Leopoldino, que ninguém conhece por Antônio e sim por Sitonho, prova que a apicultura pode ser uma excelente fonte de geração de trabalho e renda e de mudança para os habitantes do Semi-árido, tão maltratado pela seca. Quando começou a criar abelhas, Sitonho tinha apenas 50 colméias. Hoje, tem 1.200. Bem-humorado, ele fala com orgulho do crescimento do seu negócio e da boa adaptação das abelhas à região. “Elas adoram o calor, parece que nasceram na beira da praia”, brinca.

Segundo Sitonho, o quilo de mel de abelha é comercializado a R$ 2,40. A renda do produtor depende da quantidade de colméias que ele possui e da produtividade de suas abelhas. Calculando-se pela produção anual da cooperativa liderada por Sitonho, a Campil, de 500 toneladas/ano, chegamos ao número de quase 600 quilos de mel por mês para cada apicultor, o que representaria uma renda média de R$ 1.400,00. Segundo ele, uma das vantagens da apicultura é exigir pouca verba para se iniciar, cerca de R$ 5 mil, além de ser uma atividade auto-sustentável.

“O apicultor é um ecologista nato, porque as abelhas polinizam as flores. Além disso, estamos ajudando a reflorestar as regiões que foram devastadas, plantando principalmente a aroeira, que está em extinção, mas que fornece milhares de flores para as abelhas”, explica Sitonho.

Ao que parece, há um final feliz previsto para o roteiro da cadeia produtiva do mel no Nordeste. Feliz para apicultores e para o meio ambiente.

DANIELLE CHEVRAND
do site da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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