CINEMA
28/05/2008

Rua Augusta inspira filme

Erika Vieira

Já musa inspiradora de músicas e literatura, agora a rua Augusta passa a ser cenário de cinema. “A rua Augusta é um local da nossa urbanidade muito especial, há quatro décadas é um espaço que se mistura uma liberdade sem igual. Há uma convivência tão pacífica do submundo com figuras artísticas que nem parece que estamos no Brasil. Jovenzinhas transitam sem nenhuma tensão no meio das putas. As pessoas andam nas ruas para trabalhar, a lazer ou moram lá sem nenhum medo”, diz o cineasta Francisco César Filho. Mais conhecido como Chiquinho, ele escolheu uma das ruas mais clássicas de São Paulo para rodar o filme, e o nome não podia ser outro se não “Augustas”.

“Em Londres não tem uma rua Augusta que até as 5h, 6h da manhã fica fervilhando de gente. Você chega numa sexta a noite e fervilha de gente. 5 horas da manhã o trânsito está cheio”, fala Chiquinho fascinado pela singularidade da via. E foi essa singularidade que ele encontrou bem exposta no livro “A Estratégia de Lilith”, do jornalista Alex Antunes. Decidiu então adaptar a obra para o cinema. “O que me atraiu para transformar em filme foi uma atmosfera da cidade de São Paulo que eu nunca tinha visto. A São Paulo que vivo há 50 anos nunca tinha sentindo tão bem quanto estava retratada no livro.”

O filme narra momentos da vida de um jornalista morador da rua Augusta, que demitido de seu emprego e rompido seu relacionamento com a chefe e amante, se embrenha em inusitados universos, como o da prostituição e o dos rituais neo-xamânicos de transe.

Augustas mostra uma cena urbana não moderna, mas também não decadente. “Não queremos personagens estereotipados como mendigos bêbados nem pessoas moderninhas. Mas sim prostitutas que trabalham com dignidade, jovens boêmios mas não necessariamente drogados, vamos mostrar como a rua tem personalidade própria.”

Pessoas da comunidade local eram o elenco de apoio. Toda gravação foi feita em locações da própria via. “Escolher os lugares para gravar foi uma agradável surpresa. Por mais que você conheça a rua sempre tem locais para você descobrir, butequinhos mínimos, portinhas mil.” Esse é um tipo de descoberta que deixa Chiquinho ainda mais apaixonado por sua musa, com a qual tece um caso de amor há décadas. “Muita coisa já me aconteceu naquela rua. Na década de 80, por exemplo, morei na Consolação com a Dona Antônia de Queiroz e eu sempre ia bater um prato na Augusta.”

Nascido em São Paulo o cineasta nunca cogitou em se afastar da capital. Ele lembra que na década de 60 a cidade se modificava rapidamente, construções eram demolidas e novas erguidas. “Essa cidade é movida por um espírito de transformação. Na Augusta você sente esse dinamismo na pele.” Até o bairro do Jabaquara, onde Chiquinho foi criado, deixou de ser zona rural e passou a se urbanizar com certa velocidade.

Mesmo fascinado pelo centro, hoje Chiquinho opta por morar em Pinheiros. “Moro em Pinheiros para não andar mais de automóvel. Boa parte das minhas atividades dá para fazer a pé. Até o transporte público pode funcionar em Pinheiros porque tem um corredor de ônibus.”

Inserido no cinema pela USP (freqüentou as aulas de cinema na ECA, mas se formou no curso de Filosofia da USP), em 1984, sempre estudou em escolas públicas, tendo estas como cenários que se interligam com o resto da cidade deixando marcas importantes na sua vida. “O vestibulinho para a Escola Técnica Federal eu fiz no Estádio do Morumbi."

Apesar de ser tão bem relacionado com sampa ele considera a população desgarrada da cidade. “Em São Paulo a gente não tem uma cultura local, uma música genuinamente paulistana, a gente é meio desgarrado, não nos apropriamos bem do espaço da cidade.” As outras pessoas até podem ser desgarradas, porém Chiquinho, esse sim parece estar com pés bem fincados na capital paulista, mais precisamente na rua Augusta. “Espero que no final do filme consigamos transmitir algo pulsante. Passar um exemplo de como é possível uma megalópole viver com certa harmonia.”

   
 
   
 

NOTÍCIAS ANterioreS:
28/05/2008
Rua Augusta é meu antídoto contra a monotonia, por Ricardo Oliveros
27/05/2008
Hotel Emiliano vai bancar 90% da 2ª etapa de obras na Oscar Freire; início é em junho
26/05/2008
Empresas têm mais dificuldade para alugar escritórios
23/05/2008 Indústria Criativa
23/05/2008
Feiras já movimentam R$ 3,4 bi
22/05/2008
Parada Gay atrai 320 mil turistas para São Paulo
22/05/2008
Indústria criativa já é 16,4% do PIB
21/05/2008
Casa Cor explora dificuldade sensorial e motora
21/05/2008 Carta de resposta do diretor da Escola de Aplicação da USP
20/05/2008
Banheiro do futuro
20/05/2008
Falta de entrosamento entre dados atrapalha construção de política para paulistanos
Mais matérias