Leia
a repercussão da coluna: Guerra
contra o aeroporto
Sr.
Gilberto Dimenstein,
Uma
grande cidade como São Paulo tem muitos problemas.
Divulgar ações das pessoas preocupadas
com seus problemas é a mais nobre missão
de um jornalista. É isto que vejo em seu artigo.
Mas o senhor comete um deslize em divulgar uma proposta
no mínimo esquisita para o Aeroporto de Congonhas:
a transferência dos pequenos jatos para o Campo
de Marte, em Santana.
Primeiro,
o Campo de Marte está tão cercado de prédios
como Congonhas. Os bairros de Santana e Casa Verde são
tão ou mais populosos do que Moema e Jabaquara.
Esta proposta apenas transfere o problema de Moema para
Santana,
além de implicar na instalação
de custosos equipamentos de segurança no Campo
de Marte.
Um
segundo problema é que a pista do Campo de Marte
é menor do que Congonhas e - faltam-me dados
- alguns jatos podem não aterrisar. Tenho notícia
que, uma vez por semana, o trânsito é interrompido
na Av. Santos Dumont e a cerca é rebaixada para
que um avião Hércules da Força
Aérea possa
decolar.
Em
terceiro lugar, o Campo de Marte - se não me
falha a memória - é mais antigo do que
Congonhas. Era para ser o aeroporto de São Paulo,
mas sua locação foi preterida em relação
a Congonhas. Congonhas, como a própria Sra.
Lygia afirma, era uma região desabitada. Santana,
por sua vez já era um bairro importante na década
de 30.
Um
quarto problema é a dificuldade do controle aéreo.
Campo de Marte interfere diretamente em Cumbica pois
estão na mesma linha. Isto pode exigir manobras
complicadas no ar e gerar acidentes.
A
solução deste problema não passa
pela transferência, para outro local, do mesmo
problema - como a Sr. Lygia e muitos outros imaginam
solucionar nossos problemas. É uma postura egoísta
e elitista de quem só se imagina com direitos.
É pensar que uma cidade dinâmica como São
Paulo apenas se
restringe a poucos bairros "famosos".
A
solução dos problemas como o Aeroporto
de Congonhas está num melhor planejamento urbanístico,
no apoio à Engenharia e Ciência nacionais
para a busca de soluções adequadas, no
planejamento integrado dos sistemas de
transporte, na fiscalização de construções
irregulares e no controle da emissão de ruídos
por aeronaves e automóveis. A solução
é governo, empresas e sociedade planejarem e
atuaram de forma sistêmica e integrada.
Esta
integração exige que, embora as pessoas
possam atuar localmente, o seu pensamento deve ser global.
Apenas quem atuar e pensar desta maneira é que
pode mudar o mundo. Quem pensa apenas em resolver seu
problema sem se
preocupar com o dos outros está, na verdade,
aumentando a desigualdade entre as pessoas que é
grande...
Agradeço-lhe
pela atenção.
Luís
Henrique Piovezan
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