SÓ SÃO PAULO
HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
SEGURANÇA
11/02/2005
Camelôs montam polícia paralela no centro de SP
 

Uniformizados com calças camufladas pretas, brancas e cinzas, usando coturnos, bonés e camiseta branca com a estampa "Pop Combat", 20 homens estão distribuídos nas ruas Conselheiro Crispiniano, 24 de Maio e Dom José de Barros, no centro de São Paulo, para fazer a segurança de camelôs.

A idéia surgiu dos camelôs que reclamavam dos constantes furtos de celulares e bolsas, o que prejudicava as vendas. A polícia paralela está nas ruas desde 31 de janeiro. O grupo diz que não anda armado.

Os "seguranças" fazem a ronda nas três vias das 8h às 20h. Cerca de 130 ambulantes pagam R$ 10 por semana para o grupo. O objetivo é expandir os serviços, conquistando também os lojistas. Segundo Marcelo César Pinheiro, de 33 anos, ex-policial militar e um dos coordenadores do grupo, a iniciativa surgiu a partir de conversas com os ambulantes que reclamavam da insegurança.

Para Pinheiro, é um trabalho comunitário, que deve ser apoiado pelos lojistas. A experiência foi iniciada no final de 2004, em função do Natal, só com quatro homens. Como os ambulantes gostaram do resultado, o trabalho foi retomado e ampliado. Um camelô de 44 anos, que não quis se identificar, e há 20 trabalha vendendo mercadorias nas ruas, conta que optou por pagar os R$ 10 semanais porque estava cansado de perder clientes devido aos furtos.

"Muitos ficavam com medo e evitavam passar por aqui. Decidimos nos unir e fazer algo que vem beneficiando a todos", disse.

Segundo ele, com a nova segurança também sumiram os "tampeiros" (homens que organizam jogos de azar usando tampinhas).

Policiais militares e da Guarda Civil Metropolitana circulam na região e cumprimentam os "seguranças". Mas, para os camelôs, o novo grupo é que está resolvendo o problema.

César Lázaro da Silva, de 28 anos, que também coordena o grupo, não tem dúvida de que o trabalho vem inibindo furtos e roubos. Segundo Silva, o dinheiro arrecadado é suficiente só para comprar uniformes, pagar a alimentação e o transporte dos 20 homens.

"Por enquanto ninguém tem salário, por isso buscamos o apoio dos lojistas", diz.

Silva disse que os homens concluíram cursos de segurança e não têm antecedentes criminais.

"Estamos entre amigos. Um indicou o outro. Muitos já foram seguranças em boates", afirma.

Para o ex-vendedor de calçados Flávio Azevedo, 26 anos, que desde o final de janeiro integra o grupo, o trabalho que vem realizando é positivo para todos.

"Hoje, recuperamos o celular de uma moça", contou.

Segundo a Subprefeitura da Sé, os seguranças contratados pelos camelôs não têm autorização para trabalhar na rua. A Subprefeitura informou que "quem exerce atividade em via pública tem que passar por um processo regular de licenciamento da autoridade municipal competente. Se isso não for obedecido torna-se irregular, podendo ser objeto de fiscalização por parte da Prefeitura". Ou seja, como os seguranças não têm licença para trabalhar nas ruas do Centro, são irregulares e podem ser processados.

Para o major Jorge Luiz Alves, chefe da seção de comunicação da PM, o fato de os seguranças usarem roupas camufladas não é problema.

"O que não pode é usar insígnias de corporações policiais", disse.

O major informou que os casos de roubo na região central vêm caindo ultimamente.

"Mas não podem ser atribuídos a ações de empresas de segurança e sim a um esforço global da polícia em toda a cidade", disse.

Para o presidente da diretoria executiva da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, a iniciativa é temerária, já que a segurança do espaço público deve ser feita pela polícia.

"A melhor alternativa é retirar camelôs. De onde foram retirados houve redução de 60% em roubos e furtos. Não que os ambulantes estejam praticando crimes, mas criam clima de balburdia, facilitando a ação de trombadinhas", afirma.

Antonio Carlos Siqueira Neves, do Conselho Comunitário de Segurança da região, é contra o grupo.

"É um absurdo. Além de eu continuar vendo assaltos, como os ambulantes que já são contraventores têm segurança?", questionou Neves.

LUCIANA ACKERMANN
do Diário de S.Paulo

notícias ANTERIOREs:
28/01/2005 CEU terá parceria e pode ser "alugado"
28/01/2005 Serra estuda abrir calçadões para carrosz
20/01/2005 São Paulo vista da janela do ônibus
19/01/2005 Dinheiro deixado por gestão anterior é insuficiente, diz Serra
18/01/2005 Serra traz subprefeitos de fora de SP
17/01/2005 Déficit deixado por Marta supera o de Pitta
17/01/2005 Era cortiço. Virou vila chique
12 /01/2005 Secretário aponta erro de R$ 2 bi no Orçamento de SP
11 /01/2005 Prefeitura não irá quitar saldo com precatórios
11 /01/2005 Prefeitura autorizou demolição de escola e voltou atrás