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cadê os jovens?
25/02/2005
Governo de SP lança Portal da Juventude em evento com 3 adolescentes
 

Imagine a realização de um evento em que os convidados especiais, aqueles que são os atores principais das ações, não estão presentes? Foi essa cena que os participantes do I Fórum Permanente da Juventude, promovido pelo Governo do Estado, no dia 23 de fevereiro, encontraram ao entrar no auditório do Memorial da América Latina. Entre secretários, deputados, vereadores e tantos outros representantes de autoridades, apenas três jovens sentados na platéia.

"A gente está aqui hoje porque correu atrás, teve oportunidade na entidade que participamos e queremos estar conhecendo de perto as proposta do governo. É preciso promover mais debates para informar os jovens e também para saber o que pensam. É preciso mudar junto com os jovens", afirmou Roberta Moreira dos Santos, 17 anos, uma das participantes jovens da cidade de Francisco Morato, membro da Associação Pró-Morato. A amiga Lucia de Araújo Silva, 17, concorda: "É preciso ter espaços para a participação para que possamos dar a nossa opinião".

Neste primeiro momento então, a participação dos jovens ficou mais restrita apenas a conhecer os programas e ações do governo voltados à juventude. Não existiu de fato a oportunidade de opinar. Quem sabe essa proposta anunciada de ouvir e integrar o que o jovem tem a dizer sobre suas necessidades fique para os próximos fóruns, ou até mesmo no Portal da Juventude, lançado durante o evento. "Ele será um instrumento importante porque, por meio dele, o jovem poderá ter acesso a todos os programas desenvolvidos pelas secretarias e também encaminhar sugestões, críticas. Com isso, poderemos fiscalizar, monitorar e assim aprimorar as ações", ressaltou Lars Grael, secretário estadual da Juventude, Esporte e Lazer (SEJEL).

Claudia Costin, secretária estadual de Cultura, acrescentou ainda que o portal irá permitir uma maior interação das políticas públicas. Isso porque, tanto para a elaboração do portal, quanto para o fórum, a SEJEL, com apoio da Fundação Seade, o Cadastro Pró-Social e o Grupo Técnico de Juventude, realizou um levantamento de todos os projetos desenvolvidos pelas secretarias voltados para os jovens. Num segundo momento, os projetos foram alocados em três grandes áreas: Educação e Trabalho; Qualidade de Vida e Lazer; e Cidadania. Ao todo, foram identificados 131 projetos.

Lars Grael ressaltou a política de vanguarda do Estado de São Paulo voltada para a juventude, como a criação em 2001 da Secretaria Estadual para a Juventude, Esporte e Lazer, da qual ele é secretário desde 2003. Outras iniciativas de destaque, na opinião do secretário, seriam a realização do Congresso Estadual da Juventude, com participação de representantes de vários municípios, para a definição de um política pública que vem desenvolvendo ações; o Fórum Nacional de Secretários e Gestores da Juventude; a participação no Comitê de Políticas Sociais do Estado, a fim de debater a necessidade de uma articulação maior das ações desenvolvidas para o público jovem; a presença de um representante do Estado na Comissão Especial de Juventude do Congresso Nacional.

Uma nova ação seria a retomada do Conselho Estadual de Juventude, que busca democratizar o processo decisório, com a participação de 24 membros, sendo 12 da sociedade civil. Ele foi criado em 1983, a última convocação ocorreu em 1997 e última reunião foi realizada há seis anos. O próximo encontro do grupo será dia 14 de março.

Maria Helena Berlinck Martins, secretária executiva da Associação Capacitação Solidária, fez uma recuperação histórica dos projetos para a juventude apresentando algumas considerações do "Encontro Estadual de Políticas Públicas para Jovens", realizado em setembro de 2003, com a participação de 400 pessoas, tanto representantes do governo, quanto da sociedade civil organizada, além de estudantes e jovens. O evento contou com nove mesas de debates e três oficinas de idéias.

Neste encontro, foram apresentados alguns dados sobre a questão dos jovens, como o Mapa da Juventude, realizado pela Coordenadoria da Juventude da cidade de São Paulo, em novembro de 2003, onde foram encontrados 303.592 jovens atuantes em 1.609 grupos. Eles estavam envolvidos principalmente em: 35.8% (manifestações culturais); 14.4% (religiosas); 13.7 % (lazer); 13% (ações sociais). "Isso demonstra a vontade do jovem de falar, de dizer, de estar presente. Ele quer ser protagonista", comentou Maria Helena.

Naquela ocasião, os participantes elencaram ainda os desafios para as políticas de juventude, como garantir a participação dos jovens na formulação das políticas; monitorar e avaliar estas políticas; incorporar as políticas da juventude na agenda do governo; integrar as ações voltadas para a juventude; considerar o que já existe na comunidade; rever o papel da escola com relação aos problemas da comunidade; fortalecer as ONGs; e criar canais de participação política e de comunicação entre os jovens.

Segundo Lars Grael, o fórum vem dar continuidade ao processo aberto naquele encontro e trazer um primeiro debate para apresentar alguns programas que já estão em funcionamento no Estado e sair um pouco do conceito para a prática. Célia Soibelmann Melhem abriu as discussões da primeira área - Educação e Trabalho - lembrando que, para a próxima década, os especialistas detectaram os quatro grandes temas importantes para atuar junto à juventude: a Educação e Saúde, a chave para formar o capital humano; a Inserção Profissional, chave para a integração social; Prevenção à Violência, chave para a convivência pacifica em sociedade; Participação Cidadã, a chave para o fortalecimento democrático e fortalecimento da participação social.

"Quando pensamos em desenvolvimento, não devemos olhar somente para a questão de investimentos econômicos, mas sim de capital humano. E o jovem deve ser visto como elemento chave para essa estratégia de desenvolvimento", apontou, lembrando que as iniciativas de governo dão especial atenção para a juventude em estado mais vulnerável. Ela destacou como desafio a ser superado na área educacional o acesso dos jovens ao Ensino Fundamental e Médio, além de assegurar um ensino de qualidade, aumentando a equidade entre os grupos sociais. Já na área de emprego, segundo Célia Melhem é preciso uma atenção forte quanto à iniciação profissional da juventude, pois tratasse de uma peça fundamental para romper com a exclusão.

"Essa estratégia deve ser desenvolvida sempre levando em conta as especificidades dos jovens", completou. Para isso, seria importante o governo promover capacitação e apoiar a inserção profissional; ampliar e aperfeiçoar programas; desenvolver mecanismos de avaliação das políticas; desenvolver incentivos para gerar empregos para a juventude; dar atenção especial às micros e pequenas empresas, já que são elas que geram mais empregos.

Uma forma de avaliar estas ações seria por meio do Sistema de Monitoramento dos Programas e Ações do PPA (Plano Pluri-Anual), 2004-2007, lançado em agosto de 2004.

Como exemplo de programas desenvolvidos pelo Estado na área de Educação e Trabalho, foi apresentado o "Ação Jovem", da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, lançado em junho de 2004. O programa é voltado para jovens, de 15 a 24 anos, que estão fora da escola e têm renda familiar de até dois salários mínimos. Em 2004, 38 municípios participaram, beneficiando 7.500 jovens.

Neste ano, serão 72 cidades envolvidas, com a meta de atingir 25 mil jovens. O programa encaminha novamente os jovens à escola, favorece o acesso deles à rede de proteção local social, direciona os jovens para cursos profissionalizantes, em parceiros como o Instituto Votorantim, a Coca-Cola, o Instituto Unibanco, Fundação Itaú, entre outros. Os jovens recebem ainda um beneficio de R$ 60,00 mensais.

A novidade em relação a esta área é o projeto "Escola da Juventude", lançado no final de janeiro, mas que deve entrar em ação no mês de março. A proposta do projeto é oferecer oportunidade de estudos para jovens de 18 a 29 anos aos fins de semana que não têm condições de freqüentar as aulas regulares do Ensino Médio. No projeto, os jovens terão que completar quatro módulos, com duração de um ano e meio, sendo cinco horas de aulas todos os fins de semana, junto ao projeto "Escola da Família".

Segundo Maria Cristina de Almeida, da Secretaria de Educação, a ação vem de encontro à constatação do número elevado de jovens que param os estudos no Ensino Fundamental porque têm que trabalhar e não conseguem ter tempo livre para freqüentar as aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) no período noturno. Serão oferecidos materiais didáticos gratuitos e o conteúdo será transmitido por aulas em vídeo, além do acompanhamento de orientadores de estudos. Para essa função serão contratados mais de 370 jovens universitários. Além disso, os alunos deverão cumprir uma carga horária semanal no laboratório de informática, sob a orientação também de outros jovens estudantes. A proposta do governo é atingir 30 mil jovens, em 300 escolas de São Paulo e cidades do interior.

Em Qualidade de Vida e Lazer há ações que são desenvolvidas há anos e tem passado por diversos governos, como o projeto "Saúde do Adolescente", lançado em 1986, com serviços de atendimento integral aos adolescentes e experiências de valorização social.

De acordo com a Dra. Albertina Duarte, coordenadora do projeto, a iniciativa tem alcançado bons resultados. O Estado de São Paulo conseguiu reduzir nos últimos anos em 26% a primeira gestação entre jovens e em 23% a segunda gestação. Em 1998, o Estado tinha 4.500 adolescentes grávidas. Em 2004, eram 3.400. Houve ainda redução de 74% de novos casos de HIV em jovens e a promoção de 122 serviços novos de atendimento.

Um destes serviços é a Casa do Adolescente, com 18 mil jovens matriculados, de 10 a 20 anos, e o atendimento de 200 por dia. O espaço conta com profissionais especializados em diversas áreas da saúde para a realização de exames e consultas, além da promoção de oficinas de dança, artesanato, nutrição e de sentimento. O projeto conta ainda com um Disque Adolescente (3819-2022) que atende principalmente dúvidas sobre sexualidade e namoro. Foram realizadas em 2004 outras ações como encontros de profissionais da área, publicação de livro, formação de adolescentes multiplicadores, estágios acadêmicos, entre outros.

Como exemplo de iniciativa com enfoque de Cultura e Lazer, foi apresentado no fórum o "Projeto Guri", que é realizado desde 1995, com base numa experiência de sucesso da cidade de Ouro Verde, interior de São Paulo. Inicialmente o projeto piloto foi desenvolvido com 180 jovens, participantes de aulas de música, para a criação de uma orquestra. Hoje, são 187 pólos, sendo que 77 estão dentro das Febens (Fundação do Bem-Estar do Menor). Segundo Elizabeth Parro, diretora do projeto, a proposta não é formar músicos, mas sim trabalhar cidadania, melhoria da auto-estima e mostrar novas perspectivas e oportunidades para estes jovens. "Queremos mostrar que eles têm potencial sim para o lado bom do mundo", comenta.

Já na área de Lazer, José Rubens Domingues apresentou o projeto "Navega São Paulo", da Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer, que busca promover a inclusão social de jovens de 12 a 15 anos por meio de atividades esportivas como remo, vela e canoagem. O projeto teve início no ano passado, nas cidades de Praia Grande, Presidente Epitácio, São Bernardo do Campo e Santos, com a participação de 200 alunos em cada núcleo. Para 2005, já está em fase final de implantação nas cidades de Cubatão, São Vicente e São Paulo, e a previsão é de lançar mais cinco núcleos até o final do ano, atendendo no total 5.200 jovens.

O projeto conta ainda com patrocínios para a realização de eventos esportivos e incentiva a participação dos jovens dos núcleos nestas competições. "Além do atendimento aos jovens, queremos ainda que eles consigam disseminar essa cultura náutica, que faz muita diferença nestas cidades. Afinal, quando o jovem sai do projeto, esta pode ser uma oportunidade econômica e de emprego também", aponta Domingues.

Lars Grael destacou ainda que o esporte tem sido uma ferramenta fundamental de valorização da juventude, de ação social e de motivação. A secretaria tem desenvolvido programas de incentivo à recuperação de infra-estrutura esportiva, além do "Esporte Social", que promove diversas ações sociais, e o "São Paulo Potência Esportiva", valorizando o esporte paulista por meio de financiamento de eventos.

O deputado estadual Bispo G destacou que todas as políticas apresentadas são necessárias para que o jovem conquiste um lugar adequado na sociedade e não seja motivo de capa de jornal, envolvido em violência. "O jovem é o fôlego para o futuro. Ele tem saúde, vigor e sonhos, mas não consegue, às vezes, de forma concreta, que isso se torne valor para a sociedade".

Segundo a secretária estadual de Cultura, Claudia Costin, é preciso oferecer caminhos construtivos para que os jovens deixem a sua marca na sociedade de forma construtiva, já que eles possuem grande potencial, mas também são os que mais sofrem com a violência, tanto como vítimas quanto como autores. "Muitas vezes eles querem se destacar e vão encontrar caminhos destrutivos para si e para os outros para alcançar esse reconhecimento, como é o caso do narcotráfico, em que os jovens ganham respeito dos colegas porque têm uma arma na mão. Mas se eu dou um violão ou a possibilidade de ele se tornar um ator de teatro essa é uma forma muito mais construtiva dele se destacar. É por meio da cultura, do lazer e da educação que teremos uma juventude mais saudável", afirmou a secretária. O vereador José Polici Neto destacou ainda a importância de transformar essa indignação do jovem, que é a vontade de ver o mundo diferente, em atos concretos da sociedade, com políticas públicas efetivas.

E disposição é o que não faltam para eles, pelo menos não para os três jovens que marcaram presença no I Fórum Permanente da Juventude. Eles sabem quais são os problemas que atingem a juventude, como a falta de acesso ao lazer e à cultura, falta de espaço para participar ativamente, o desafio do primeiro emprego, onde eles encontram dificuldades tanto pela falta de experiência e, muitas vezes, capacitação e até preconceito devido ao lugar onde moram, e uma educação que ainda deixa a desejar, com professores desmotivados a atuar.

Mas, ao mesmo tempo, eles sabem também o que querem e o que é preciso fazer para mudar. "Acho que se o jovem se empenhar e querer fazer algo de melhor para a sua comunidade e o município ele consegue. Se a gente vê que não tem espaços para opinar o que sente, pode montar algo desse tipo para melhorar e não ser sempre do jeito foi. Tem que ter atitude para mudar". E os jovens já deram os seus primeiros passos em relação a esta participação ativa. Adenildo dos Santos Nascimento, 17, conta que, em 2004, eles ajudaram a promover um debate com os candidatos de governo, por meio do Programa Prefeito Amigo da Criança, com a Fundação Abrinq, que reuniu 400 pessoas. "Foi a primeira ação para os jovens correrem atrás dos seus direitos", opina Lúcia.

DANIELE PRÓSPERO
do site setor3

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