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28/02/2005
Unidades da Febem serão transformadas em escolas agrícolas
 

Vigésimo quinto presidente nos 34 anos de existência da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) - 11º a ocupar o cargo desde que o PSDB assumiu o governo estadual, em 1995 -, Alexandre de Moraes completou neste sábado seis meses no comando do órgão comemorando o que chama de duro golpe contra os maus-tratos e os casos de tortura, ao levar para a cadeia dezenas de funcionários acusados destes delitos. Segundo ele, o desrespeito ao ser humano é uma das situações mais recorrentes na história da fundação.

Depois de provocar polêmica e uma seqüência de cinco rebeliões no Complexo do Tatuapé após demitir de uma só vez 1.751 funcionários suspeitos de agredir os internos, Moraes - que acumula o posto com o cargo de secretário da Justiça e é filiado ao PFL - planeja montar unidades de internação fora da capital, que funcionariam como escolas agrícolas. A idéia é interiorizar a Febem, abrindo caminho para tirar da capital menores de outras cidades obrigados a cumprir sentenças judiciais de internação. Ele evita dar endereços antes de finalizar detalhes, "porque senão amanhã já vai ter gente com placa na minha porta dizendo que não quer unidade da Febem".

Outra promessa do presidente da Febem é criar, até abril, 600 vagas em regime de semi-liberdade para infratores da capital. O projeto é oferecer curso profissionalizante de telemarketing, ministrado por técnicos do Procon, órgão ligado à secretaria da Justiça.

DIÁRIO - O que avançou nestes seis meses em que o senhor está no comando?

Alexandre de Moraes - Nos 30 anos de existência da Febem, a gente verifica quatro problemas centrais: a questão educacional; a questão de fugas, pois toda unidade de contenção tem problemas com fugas; a questão de rebeliões; e o desrespeito à dignidade humana, isto é, os casos de maus-tratos e de torturas. Nestes seis meses, nós demos um golpe, que eu diria mortal, nos maus-tratos e torturas. Pela primeira vez na história, 23 pessoas foram presas por tortura. Foram feitas mais prisões e hoje temos 43 prisões por tortura. Para mim, o que tinha de ser erradicado de cara era isso, tanto é que logo no início determinei que o Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminológica) há cada 15 dias passasse em todas as unidades, sem prévio aviso, para registrar eventuais torturas.

DIÁRIO - Já as rebeliões continuam. Tivemos casos diários na semana que passou?

Alexandre de Moraes - Por que tivemos uma semana de grandes rebeliões? Porque é uma mudança drástica que nós fizemos, de mentalidade. Pegamos um dos grandes complexos e trocamos os funcionários, separamos o modelo de educação e contenção e isso gera reações. Tivemos muito terrorismo de parte de segmentos de funcionários e do sindicato, dizendo que todo o pessoal técnico seria demitido, o que gerou instabilidade.

DIÁRIO - E a educação?

Alexandre de Moraes - Pelo estatuto da criança (ECA), é obrigatório que os adolescentes internados tenham educação formal. Quando assumi, percebi que muitos não estão preocupados com a educação formal. Não gostavam de estudar fora, em liberdade, imagine então contidos. Investimos para que em todas unidades possam fazer cursos profissionalizantes, escolhidos por eles: panificação, construção civil, informática, hotelaria e auxiliar de escritório.

DIÁRIO - O senhor se impôs uma meta à frente da Febem?

Alexandre de Moraes - Uma meta é insistir na descentralização. Desde janeiro, estamos estudando a possibilidade de, ao interiorizar a Febem, transformar o que hoje são unidades de internação em escolas agrícolas.

DIÁRIO - Como assim?

Alexandre de Moraes - Aproveitar escolas agrícolas que foram desativadas e aproveitar para que os internos aprendam profissões rurais. Até para que o interno do interior continue lá, próximo da família. Temos hoje cerca de 1.200 internos do interior que estão na capital. A idéia é levá-los para perto da família.

DIÁRIO - Em que pé está isso?

Alexandre de Moraes - Já mapeamos mais de 30 escolas agrícolas. Nossos técnicos já visitaram 17, analisando a questão de segurança e necessidade de reforma, por exemplo. Mais dez dias e as demais serão vistoriadas, e aí teremos um balanço das que serão aproveitadas. Agora, sempre com poucos adolescentes, escolas para 40 ou no máximo 50 jovens.

DIÁRIO - Esse é um tamanho padrão. Por que não é respeitado?

Alexandre de Moraes - O problema é que ninguém quer receber uma unidade da Febem. Exatamente por isso a nossa meta de mudar a mentalidade e construir unidades não como se fossem presídios, mas escolas mesmo. Mas com disciplina, contenção, para não assustar a população.

DIÁRIO - E o regime de semi-liberdade. Há algum plano para ele?

Alexandre de Moraes - Estamos em fase avançada para, em torno de 45 dias, colocarmos à disposição 600 vagas de semi-liberdade para os internos da capital. O adolescente terá o ensino formal e um profissionalizante de telemarketing, dado pelos técnicos do Procon, órgão ligado à minha secretaria. Há um mercado muito grande nesta área. Combinamos com o Poder Judiciário que metade das vagas do semi-liberdade sejam destinadas à progressão, para os que já estão internados, e a outra metade para aqueles que praticam um ato infracional, que eventualmente seriam internados, mas que possam começar na semi-liberdade.

DIÁRIO - A Febem está começando um programa em que as mães dos internos convivem diariamente com eles. Há pouco tempo, tentou-se fazer com que organizações não-governamentais gerissem unidades do órgão. Isso não sinaliza que o governo está sem rumo?

Alexandre de Moraes - Houve um momento em que o governo pretendeu realizar uma parceria com as entidades, as ONGs, para que pudessem administrar as unidades de internação. Nós temos um exemplo que vem dando certo em São José dos Campos. Por que não prosseguiu? Não houve interesse das próprias ONGs de assumir as unidades. Querem participar, mas entenderam que não é o caso de cuidarem da gerência, pois não estão habilitadas para fazer a contenção. Mas na semi-liberdade as organizações mostraram interesse em tocá-las.

DIÁRIO - A Febem fez uma demissão em massa de funcionários na capital e em Franco da Rocha, alegando que era para combater os maus-tratos aos internos. Mas depois recontratou parte dos demitidos. Não é um contrasenso, pois entre os recontratados há pessoas suspeitas de prática de tortura?

Alexandre de Moraes - Não. Algumas mães apontaram que há pessoas que mesmo sem estar respondendo a inquérito, sem nada na Corregedoria, são apontadas também como eventuais agressores. Para dar transparência, passamos a lista para a Amar (Associação das Mães e Amigos dos Adolescentes em Risco), para o Ministério Público, com nomes e apelidos. Pessoas sobre as quais paire alguma suspeita não vão ter cargo. A idéia é que essas pessoas voltem, como coordenadores, e que possam ajudar dentro da nova mentalidade que estamos implantando.

DIÁRIO - Fala-se muito em acabar com o complexo do Tatuapé, ou com aquele modelo. Já tem uma data para isso acontecer?

Alexandre de Moraes - O modelo de grandes complexos não é bom. Temos lá 18 unidades e nesta semana ficou muito claro que às vezes uma unidade se rebela em solidariedade à outra, ou por medo de represália. Queremos mudar isso, com semi-liberdade, com escolas agrícolas, esvaziar cada vez mais a capital de internos e mandar de volta para o interior os que são de lá, e a partir daí fazer uma análise do que fazer com o complexo do Tatuapé. Atualmente, entram 40 menores por dia na Febem e saem entre 30 e 35. Portanto, não podemos de uma hora para outra dizer que vamos acabar com o complexo do Tatuapé. Vamos colocar os adolescentes onde?

EVERALDO GOUVEIA
do jornal Diário de S. Paulo

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