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A abertura ontem do novo campus
da USP na zona leste da capital paulista, com as presenças
do governador Geraldo Alckmin e do prefeito José Serra,
foi marcada por um protesto de cerca de cem pessoas. Com faixas
e cartazes, eles pediram cotas para estudantes da região,
além de asfalto e regularização de terrenos.
"Um, dois, três, quatro,
cinco seis, se a USP é do povo por que só tem
burguês?", gritavam, abafando o discurso de abertura
feito por João Carlos de Souza Meirelles, secretário
estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico
e Turismo.
"Saúdam o povo, não
os políticos", diziam os estudantes ligados à
ONG Educafro, que organiza cursos pré-vestibulares
comunitários e reivindica cotas nas universidades estaduais
paulistas. "Queremos medicina, direito, engenharia",
disse Narciso Portela, 24, coordenador da Educafro Leste-Penha.
O estatuto da USP proíbe que uma mesma cidade tenha
dois cursos iguais.
"Se escolheram a zona leste para
desmistificar uma universidade tida como elitista, por que
não reservaram no mínimo 80% das vagas para
os seus moradores?", perguntava Greici Kelly Maia, 17.
Segundo a PM, cerca de mil pessoas participaram do evento.
"Se Mário Covas estivesse
aqui, iria falar dos espíritos de porco que estão
sempre presentes em todas as inaugurações",
criticou Serra. Acabou aplaudido. A poeira baixou no discurso
de Alckmin. "Homenageando Milton Nascimento, a universidade
deve ir aonde o povo está. Aqui vivem 4,5 milhões
de pessoas."
Dos 1.020 alunos aprovados para os
cursos da nova unidade, 39% possuem renda familiar abaixo
de R$ 1.500; 47% cursaram o ensino médio em escola
pública, 21% são negros e 31% moram na zona
leste, segundo Alckmin.
Ele prometeu reforçar a segurança
do local, além de fazer uma parceira com a prefeitura
para melhorar as condições de acesso.
A USP Leste abrigará a Escola
de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), com dez novos
cursos: gestão ambiental, sistemas de informação,
gestão de políticas públicas, marketing,
licenciatura em ciências da natureza, lazer e turismo,
tecnologia têxtil e da indumentária, ciências
da atividade física, gerontologia e obstetrícia.
Adolpho José Melfi, reitor
da USP, disse que os "cursos são inovadores e
com grande oportunidade de trabalho". Quanto à
principal queixa dos manifestantes, foi enfático: "o
importante é ampliar vagas, mas o critério continuará
sendo o do mérito".
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha |