Programas preparam jovens para o mercado
Natasha Madov
e Raquel Souza
Especial para GD
Preparar jovens
de baixa renda para enfrentar o mercado de trabalho é o objetivo
de projetos do Senac e da Associação Profissionalizante
da Bolsa de Mercados e Futuros (APBM&F).
O Programa Educação
para o Trabalho (PET) do Senac nasceu em 1996 a partir de uma pesquisa
para verificar as reais necessidades do jovem ao entrar no mercado
de trabalho. "Com isso, pudemos formatar o programa para incluir
as competências básicas para o mercado, como relações
interpessoais, auto estima e autonomia," relata Maria Tânia
Bueno, coordenadora do programa para o Estado de São Paulo.
Durante seis
meses, adolescentes de baixa renda entre 14 e 18 anos, aprendem
a cuidar da saúde, da aparência pessoal, recebem noções
de alimentação, informática, transações
comerciais, atendimento ao cliente, simulam um processo seletivo
e passam dez dias vivenciando situações de trabalho
em empresas de verdade. Desde 1997 o programa já formou 14
mil jovens, a um custo, bancado pelo Senac e empresas parceiras,
de R$ 720 por aluno. Destes, 6.600 estão empregados.
Embora muitas
companhias procurem o Senac para contratar formandos do PET, não
há nenhum convênio formal para empregar quem passa
pelo curso. "Nós queremos trabalhar o jovem para que
ele se sinta preparado para buscar seu emprego," diz Maria
Tânia.
APBM&F
- Há cinco anos, a Associação Profissionalizante
da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo (APBM&F)
oferece para jovens de baixa renda cursos de informática,
idiomas, atendimento ao cliente, confecção, fotografia,
serigrafia, técnicas de construção civil, entre
outros. Nesse período, a entidade já capacitou mais
de mil jovens.
De acordo com
Juliana Pires da Costa Pagano, coordenadora da Associação,
as atividades cumprem o intuito de recuperação da
auto-estima, o estabelecimento de metas e objetivos de vida, a cidadania
e a procura pelo conhecimento. A APBM&F ainda oferece oficinas
de valorização pessoal, arte, cultura, ética
profissional, dinâmica de grupo e equilíbrio psicológico.
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Empresas
patrocinam aprendizagem técnica
Cristina
Mori
Equipe GD
Parcerias entre
empresas e o Senai (Serviço Nacional da Indústria)
têm permitido que jovens realizem cursos profissionalizantes
dentro de fábricas em todo o país.
A fabricante
de componentes automotivos Sachs, de São Bernando do Campo
(SP), é uma das que estimula os filhos de seus funcionários
a se inscrever no curso de aprendizagem industrial do Senai.
O programa é
voltado para jovens de 14 a 18 anos que tenham concluído
o Ensino Fundamental e tem duração de dois anos. Durante
o primeiro, os aprendizes cumprem uma jornada escolar de quatro
horas diárias e realizam, durante as férias, atividades
práticas dentro da fábrica. No segundo ano, passam
meio período no Senai e meio período na empresa.
Os jovens patrocinados
pela Sachs recebem os mesmos benefícios que os funcionários
regulares da companhia, como cesta básica e vale-transporte.
A bolsa-auxílio possui valor equivalente a um salário
mínimo (R$ 180). Após os dois anos de curso, os aprendizes
abaixo dos 18 anos completam mais um ano exclusivamente na fábrica.
Passam a receber R$ 305 nos cinco primeiros meses, e R$ 402 nos
sete meses restantes - valor piso da categoria.
Hoje, sete jovens
fazem parte do programa da Sachs. Segundo José Orlando de
Souza, do departamento de Recursos Humanos da empresa, o programa
existe há mais de 20 anos e 75% dos aprendizes costumam ser
efetivados.
Na Klabin Kimberley,
fabricante de papel, a seleção inicial fica por conta
do Senai, que sempre dá preferência a filhos de funcionários
das empresas conveniadas ao sistema. Após essa fase, a própria
Klabin realiza um processo seletivo.
O aprendiz recebe
50% do piso da categoria até a metade do curso e 75% do piso
no período restante. O valor atual do piso está em
R$ 451.
As três
fábricas da Klabin, em Mogi das Cruzes, Cruzeiro (SP) e Correia
Pinto (SC), contam hoje com oito aprendizes. A efetivação
não é assegurada.
Dos 13.037 jovens
matriculados no curso de aprendizagem industrial do Senai neste
primeiro semestre, apenas 3.414 são patrocinados por empresas
(26,2%).
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Comissão
aponta 81 piores formas de trabalho infantil
Rodrigo Zavala
Equipe GD
O ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, instalou no final do
ano passado uma comissão tripartite, envolvendo governo,
sindicatos e empresas, para fazer um levantamento das piores formas
de trabalho infantil. A preocupação não é
para menos. No último relatório divulgado pela OIT,
cerca de 2,9 milhões de crianças entre 5 e 14 anos
de idade ainda trabalham no Brasil. Delas, mais de 800 mil possuem
tarefas classificadas como "piores formas de trabalho infantil".
Durante os meses
que se desenrolaram as pesquisas, os envolvidos foram unânimes
ao declarar 81 atividades perigosas ou insalubres para crianças
e adolescentes. "Nós especificamos quais são
os trabalhos impróprios para auxiliar a fiscalização
repressiva e erradicar o trabalho infantil", afirma Gláuber
Maciel Santos, presidente da comissão e coordenador de projetos
especiais do Ministério do Trabalho e do Emprego.
Entre as atividades
levantadas pela comissão, que se enquadram aos parâmetros
de piores formas de trabalho infantil da Convenção
182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
estão: a atividade escrava ou servil, a protituição,
a participação da criança na produção
ou tráfico de drogas e o serviço em ambientes que
prejudiquem sua saúde, segurança ou moral.
Entretanto,
um dos problemas constatados por Santos se refere ao número
de fiscais disponibilizados para autuar quem promove esse tipo de
crime e encaminhar o menor à assistência social. "Temos
pouco mais de 3 mil fiscais e 5.603 municípios". Ou
seja, não há fiscais suficientes pera desenvolver
um tabalho efetivo a curto prazo.
E há
muito trabalho para ser feito. Segundo o relatório da OIT,
em números absolutos, São Paulo é o lugar onde
há mais criança e adolescentes empregados: 952 mil
na área urbana e 113 mil na rural. Já em números
relativos, Bahia lidera, com 345 mil trabalhadores de 5 a 17 anos
nas cidades e 552 mil no campo.
A OIT destacou
também que nas zonas urbanas, o fato de trabalhar reduz em
16% a chance ao acesso dos menores à escola - no meio rural
esse índice não passa dos 7%. Além disso, 88%
dos trabalhadores abaixo de 10 anos, seja nas cidades ou no campo,
não são remunerados.
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