Para
jovens operários, realização profissional
fica em segundo plano
Raquel
Souza
Equipe GD
Ganhar
dinheiro suficiente para ajudar no sustento da família,
não ser confundido com marginais, custear suas próprias
despesas. Na hora de justificar os motivos que os levam a
continuar trabalhando, jovens operários deixam a realização
profissional em segundo plano.
É
o que mostra um trabalho realizado por Maria Carla Corrochano,
para sua dissertação de mestrado, defendida
na Faculdade de Educação da USP em agosto último.
Intitulada
"Jovens Olhares Sobre o Trabalho - um estudo dos jovens
operários e operárias de São Bernardo
do Campo", a pesquisa acompanhou o dia-a-dia e as expectativas
dos trabalhadores com menos de 24 anos, de três fábricas
de autopeças da região.
Com baixos
salários e ocupando cargos que exigem pouca qualificação
e muita exigência física, mais de 50% dos entrevistados
acham que ter um emprego é quase privilégio.
"Para reforçar essa idéia, todos possuem
amigos desempregados, ou já estiveram nesta condição.
Cerca de 80% também ocupou postos de trabalho informal
e precário", explica Maria Carla.
O resultado
desta situação, segundo os dados, é que
apesar dos jovens continuarem sonhando com a possibilidade
de uma vida melhor, seus planos são, quase sempre,
remotos, e o trabalho de hoje não possui relação
com o sonho de amanhã.
Segundo
Maria Carla, o emprego é central na vida desses jovens
e concretizar seus planos de futuro envolve um certo risco
de desemprego. "É difícil apostar numa
possibilidade de mudança sem que haja políticas
de formação e geração de postos
de trabalho e renda", completa.
Educação
- Outra constatação da pesquisadora diz respeito
à escolarização dos operários.
Para 69,4% dos jovens, a escolarização é
fator determinante na hora de procurar um novo emprego. Apenas
16,7% acreditam que a experiência é fundamental.
No chão
da fábrica, porém, qualidades como comportamento,
assiduidade e desempenho despontam como fatores que garantem
a permanência no emprego. A importância da escolarização
foi a resposta dada por apenas 2,8% dos entrevistados.
Segundo
Maria Carla, as empresas que contratam estes jovens, no geral,
não possuem planos de carreira consistentes. "Um
jovem que é contratado como ferramenteiro em 1994 pode
permanecer a vida inteira nesse cargo. As empresas dizem que
contratam jovens porque eles são mais abertos à
mudança, mas dão poucas chances para que esse
jovem mude ou participe", conclui Maria Carla.
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