Professores culpam família e mídia
pela indisciplina
Raquel Souza
Especial para o GD
Na procura de
explicações para a indisciplina e o fracasso escolar,
professores da rede pública e particular de todo o Brasil
esquivam-se de responsabilidades e culpam a família, a televisão
e até mesmo a índole e o caráter das crianças.
É o que
mostra a pesquisa "Escola e Família: instituições
em conflito", realizada pelo Observatório do Universo
Escolar, núcleo de pesquisas da ONG La Fabbrica do Brasil,
em parceria com o Ministério da Educação. A
pesquisa foi realizada para constatar as dificuldades de participação
dos pais no cotidiano escolar.
Para sua realização
foram entrevistados 199 coordenadores e professores dos ensinos
Médio e Fundamental. Os resultados apontam que 57% dos professores
atribuem à família a responsabilidade pela indisciplina
na escola. Problemas como a ausência dos pais, famílias
desestruturadas e desregramentos causariam um impacto prejudicial
à escola.
A televisão
ocupa a segunda colocação no ranking dos causadores
da indisciplina (29%) e a índole/caráter (22%), que
para boa parcela dos professores são atributos inatos, o
terceiro.
As deficiências
da escola em promover uma educação que desperte o
interesse dos alunos, a falta de recursos, as classes numerosas
e a desvalorização do profissional da educação
apareceram em último lugar. Apenas 20% dos entrevistados
consideram que a escola é responsável pela indisciplina.
Para a professora
Marília Carvalho, da Faculdade de Educação
da USP (Universidade de São Paulo), as respostas encontradas
na pesquisa são mecanismos de defesa da categoria. "Os
professores têm sofrido uma forte pressão social. Normalmente,
o professor é atestado como responsável e incompetente",
explica.
Segundo a Marília,
o campo de trabalho docente é pouco delimitado socialmente
e, diferente de profissões como a do médico, sofre
constantes interferências e críticas, o que gera um
clima de insegurança.
Sobre o problema
da indisciplina, a professora da USP, acredita que não há
como culpabilizar apenas a família ou a escola. "É
um problema que vem sendo discutido há muito tempo, mas que
se acentuou nos últimos anos. As relações entre
o universo infantil e adulto passam por grandes transformações
e é inevitável que isso chegue as escolas".
No que diz respeito
à escola pública, a presidente da APEOESP (Sindicato
dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo),
Maria Izabel Azevedo Noronha, conta que a indisciplina e a violência
seriam resolvidas ou minimizadas se os professores não fossem
considerados pelo poder público como "meros executores".
Além
disso, de acordo com a presidente, é necessária a
participação efetiva dos pais e membros da comunidade
na gestão escolar dividindo fazeres e responsabilidades.
"Não se trata de fazer um dia festivo para a participação
dos pais, mas sim convidá-los para redigir diretrizes mínimas
de convívio para a escola", reclama. Para ela, a elaboração
de maneira democrática dessas regras levaria a diminuição
dos problemas da indisciplina.
A ausência
dessa participação também foi uma reclamação
dos participantes da pesquisa do Observatório do Universo
Escolar: mais de 70% dos professores acham que a participação
das famílias na vida escolar dos estudantes é insatisfatória.
Faça
o Download da pesquisa
|
|
|
Subir
|
|
|