Reforma
das leis trabalhistas não devem ser apenas promovidas pelo
governo
Rodrigo Zavala
Equipe GD
Embora aparente
ultrapassado, o sistema nacional de relações trabalhistas,
a Consolidação da Leis do Trabalho (CLT), de 1943,
ainda assegura para a maioria dos trabalhadores condições
mínimas de preservar empregos, salários e direitos.
Mudar a legislação trabalhista de forma radical, conforme
defende o governo federal, poderá esfacelar ainda mais o
movimento sindical e comprometer o crescimento econômico nacional.
É o que adverte o economista e professor da PUC de Campinas,
Josmar Cappa, especialista em economia do trabalho e sindicalismo,
em sua tese de doutorado
Relações de Trabalho no Brasil. Orientado pelo professor
e economista Marcio Pochmann, seu trabalho lhe rendeu um livro,
Passado e presente do sistema de relações de trabalho
no Brasil (ED. LTR).
Segundo Cappa,
em um país que possui carências sociais e culturais,
a CLT deve ser o ponto de partida para as mudanças nas discussões
entre empresários e trabalhadores, e não o contrário
como defende o governo. O mais recente pacote trabalhista anunciado
pela SDS (Social Democracia Sindical), central ligada ao PSDB, dá
destaque à extinção da Justiça do Trabalho.
"Qualquer
intervenção do governo na área trabalhista
será prejudicial ao país, se as decisões não
partirem de um debate com todos os agentes sociais envolvidos: centrais
sindicais, entidades empresariais, magistrados trabalhistas e juristas",
afirma.
Para o pesquisador
da Fipe, o economista José Pastore, esses assuntos devem
ser matéria de negociação e não de legislação.
Pastore defende a idéia de se fazer o negociado prevalecer
sobre o legislado em relação a uma série de
direitos, invertendo a situação atual na qual empregados
e empregadores têm pouco o que negociar entre si.
"A ampliação
do campo da negociação facilitará a incorporação
no mercado formal de trabalho profissionais desamparados, como é
o caso de inúmeros profissionais autônomos, subcontratados
e terceirizados", defende Pastore.
Josmar Cappa
contraria também o discurso que a rigidez da CLT incentivaria
a informalidade. Para ele, a estagnação econômica
notada a partir da década de 1980, seguida de um crescimento
médio anual de 1,8% na década de 1990 são os
reais motivos do crescimento do desemprego.
"Não
é culpa da legislação. O país não
conseguiu gerar um crescimento sustentável, o que causou
a desestruturação do mercado de trabalho e o enfraquecimento
progressivo do setor sindical" , conclui. Esse é um
dos fatores que explica a redução do número
de trabalhadores com carteira assinada. De acordo com o Cappa, em
1989 havia 25,5 milhões de ocupações formais
que foram reduzidas para 22,3 milhões em 1999.
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