Trabalho
de camelô é fuga da marginalidade, conclui pesquisa
Raquel
Souza
Equipe
GD
A venda
ambulante não é trabalho. Essa é a opinião
de 38 camelôs de São Paulo. Expulsos ou sequer
convidados para o mercado formal, essas pessoas se viram obrigadas
a montar uma barraquinha e vender bugigangas nas ruas da cidade.
No entanto, creditam à prática apenas um "jeito
de ganhar a vida" sem cometer crimes.
"Eles
não criam uma identidade de trabalhador como outro
profissional qualquer. O trabalho de camelô é
encarado como ganha pão e o jeito de distinguir-se
daqueles que cometem atos ilícitos para ter dinheiro,
apesar da perseguição policial", comenta
Francisco José Ramires, que pesquisou o tema entre
1999 e 2001. Os resultados estão em seu trabalho de
mestrado, apresentado na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da USP.
Intitulado
"Severinos na metrópole: a negação
do trabalho na cidade de São Paulo", a pesquisa
conta com depoimentos de camelôs de diversos cantos
da cidade - do D. Pedro II, Praça da Sé, Hospital
das Clínicas e da rua Teodoro Sampaio.
As histórias
de vida variam bastante. Possuem em comum o fato de serem
quase que na totalidade nordestinos ou filhos de migrantes.
Os mais velhos (compreenda como aqueles que passaram dos 38
anos) possuem baixa escolarização, em média
4a série do Ensino Fundamental. Já os jovens
concluíram o Ensino Médio e, em alguns casos,
fizeram até cursos profissionalizantes e o primeiro
ano de faculdade (que foi abandonada por falta de recurso
financeiro).
Todos
gostariam de trabalhar tendo um patrão - contrariando
o mito de que a venda ambulante é uma maneira de ganhar
autonomia e maiores dividendos. "Muitos daqueles que
sobrevivem graças ao trabalho informal gostariam de
voltar ou integrar-se a formalidade. Isso é quase um
sonho para muitos".
Ramires
explica que a maioria dos ambulantes vieram de trabalhos com
registro em carteira e, por isso, sabe das 'tranquilidades'
que o mercado formal possibilita: previdência social,
fundo de garantia, décimo terceiro salário,
entre outros.
São
pouquíssimos os que ganham mais de R$300 por mês.
O pesquisador encontrou alguns que guardam o colchão
sob a barraca e que quando anoitece dormem embaixo dela.
Em alguns
casos, os camelôs pagam a comerciantes e clínicas
médicas para guardar seus produtos em seus estabelecimentos.
Assim, parte da renda obtida por essas instituições
é proveniente do comércio informal. "Essa
idéia de que existe uma linha divisória entre
o trabalho formal e informal não existe. Ambas fazem
parte de um único sistema econômico", finaliza
Ramires.
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