O
rabino e as prostitutas judias
O rabino
Henry Sobel prepara-se para inserir nos cursos para adolescentes
de história do judaísmo as desventuras das "polacas"
que reinavam nos mais finos bordéis paulistanos no
século passado. Esse detalhe da história paulistana
era, até pouco tempo atrás, mantido em segredo
pela comunidade, envergonhada do passado.
Criado
em Manhattan, o rabino envolveu-se diretamente no drama daquelas
"polacas", todas judias, muitas delas religiosas.
Como estavam impedidas de serem enterradas num cemitério
judaico (e até de rezar na sinagoga), as prostitutas
compraram um terreno em Santana, onde descansaram em paz até
o local ser desapropriado pela prefeitura, em 1972.
Os restos
mortais foram transferidos para o Cemitério Israelita
do Butantã, mas, marginalizadas, elas continuaram na
clandestinidade. Na lápide, apenas um número,
nenhum nome. Com base em pesquisas históricas, Sobel
ajudou na identificação, defendeu a inscrição
dos nomes e realizou uma cerimônia, uma espécie
de bênção tardia. "Não aprovamos
a prostituição, mas essas mulheres são
filhas de Deus."
Para o
rabino, o drama das prostitutas judias é parte da história
da crônica opressão contra os judeus -desta vez,
com a ajuda dos próprios judeus. "Devemos mostrar
essa dor aos nossos estudantes nas escolas", defende.
As "polacas" desembarcavam em Santos, fugindo do
anti-semitismo e da pobreza na Europa oriental, especialmente
na Polônia, seduzidas por uma rede internacional de
cafetões judeus. Vinham com a promessa de emprego e
casamento.
Ao recuperar
a identidade das "polacas" e colocá-las na
sala de aula, desenterradas do esquecimento, Sobel é
seduzido não apenas pelo judaísmo mas pela história
de São Paulo. Ele já faz parte da paisagem paulistana
e garante que nem pensa em voltar para Manhattan. "Sinto
aqui uma notável energia, a riqueza da diversidade
e, acima de tudo, um calor humano que jamais encontraria em
Nova York."
Na resistência
ao regime militar, ele fez uma marca na cidade por causa de
um enterro. Não aceitou a versão de suicídio
do jornalista judeu Vladimir Herzog; se fossem seguidos o
atestado de óbito e as normas religiosas, o jornalista
deveria ser enterrado numa área específica para
os suicidas. Ao lado das prostitutas.
| |
| Subir
| |
|