O
padre que acorda com o sabiá
O cabelo
longo, ajeitado por um rabo-de-cavalo, faz José Maria
Fernandes parecer mais um artista plástico do que um
padre. O inusitado da aparência mescla-se com o inusual
da paisagem em que ele vive. Um sabiá quase sempre
pousa no parapeito de sua janela. Silêncio, árvores
e pássaros cantando compõem uma paisagem rara
para qualquer paulistano - ainda mais para quem vive no poluído
centro da cidade.
Desde
que foi morar no Pátio do Colégio, no ano de
1999, José Maria dedicou-se a plantar ali árvores
frutíferas - vieram os frutos e os pássaros.
Por cultivar a história, ele começa a atrair
agora, além dos pássaros, pessoas.
Pós-graduado
em arte sacra pela Universidade Gregoriana, na Itália,
ele participou das obras de restauração do Museu
do Vaticano, em Roma, e acabou convidado para cuidar do Pátio
do Colégio.
O espaço
estava deteriorado; o acervo, largado. Para piorar o cenário,
o entorno era habitado por mendigos e crianças viciadas
em crack. "Quando eu vi o acervo a ser restaurado, percebi
que não havia sentido fazer uma exposição
de arte sacra. Centramos o trabalho no resgate da história
da cidade."
Além
de recuperar o acervo histórico, ele treinou monitores
bilíngues para receber visitantes. Quando o padre começou
as mudanças, o local era visitado diariamente por 70
pessoas; hoje já acontecem mais de 300 visitas por
dia. Esse número ainda deve aumentar porque estão
sendo preparados materiais didáticos sobre o Pátio
para serem utilizados nas escolas.
Nos últimos
meses, o Pátio está entrando na moda, disputado
por quem quer fazer festas em ambientes exóticos. Dificilmente
um convidado não se impressiona com a combinação
de força com história, da beleza do claustro
arborizado com a paisagem do horizonte de São Paulo.
É
um charme providencial. As festas ajudam a financiar projetos
educativos - restauração e música, por
exemplo - para as crianças e adolescentes das imediações.
"Viramos um laboratório social", diz José
Maria, que acabou promovendo um reencontro com a história.
Quando
nasceu, há quase 450 anos, o Pátio do Colégio
se chamava Escola de Meninos, então uma cabana de pau-a-pique
de 90 metros quadrados. "Fomos a única metrópole
a nascer de uma escola", orgulha-se.
|
|
|
Subir
|
|
|