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Dia 07.05.03

Um grafiteiro suspenso no ar

Em sua última edição, a revista "Trip" defendeu a idéia de que a grafitagem, concentrada essencialmente em São Paulo, é o único movimento organizado de artes plásticas no Brasil - uma alternativa para jovens da periferia, tão distantes das galerias, saírem do anonimato, transformando muros em telas públicas.

Mal a revista saiu nas bancas, um desses jovens condenados ao esquecimento, cujo trabalho apareceu na reportagem, morreu. Alexandre Luiz da Hora, o Nigazz, afogou-se, no dia 1º de maio, na represa Guarapiranga.

Escapou do anonimato. Além de deixar sua identidade nas pinturas que espalhou pela cidade, ajudou a desenhar uma nova profissão: agente comunitário de artes. "O Nigazz falava muito em morte, mas, ao mesmo tempo, falava muito no futuro", conta a amiga Natália Girassol.

O futuro se abriu para ele no ano passado, quando começou a experiência do agente comunitário de artes: recebia uma bolsa mensal para revitalizar a cidade e educar novos grafiteiros. Era um projeto piloto para promover jovens da periferia, dando-lhes renda, perspectiva profissional e complementação educacional para evitar o círculo vicioso da marginalidade.

Trabalhou na recuperação de vários muros e praças, como a Ana Maria Popovic, no Sumaré. Deixou suas marcas na obra mais polêmica já feita por grafiteiros na cidade: desenharam de alto a baixo, com cores berrantes, o aristocrático (e totalmente branco) casarão, sede de um banco, na avenida Paulista.

Preparava-se para comercializar suas obras - recebera uma encomenda da Nike, dos Estados Unidos - e planejava entrar na faculdade. "Ele estava vivendo uma efervescência em seu aprendizado", relata o grafiteiro Ciro Schuneman.

Apesar do progresso, não conseguia esconder a melancolia. "Quando ficava triste, bebia até cair", conta Mônica Alves, estudante de arquitetura com quem trabalhava. Como muitos jovens da periferia, enredou-se, desde menino, no álcool.

Na madrugada de 1º de maio, bêbado, pediu que os amigos o deixassem sozinho. Se escorregou ou se deixou ser levado pelas águas é um mistério semelhante aos personagens de seus grafites, que sempre parecem estar despencando, suspensos no ar. No próximo dia 14, Nigazz faria 21 anos. Não teve futuro, mas ganhou passado. Amigos vão preparar uma exposição com suas obras em tela no único espaço digno de um grafiteiro: a rua.

 

 
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