As
preguiças da Paulista
Há
55 anos, o estudante Nelson Baeta voltava para casa, nos arredores
da avenida Paulista, depois de pular o muro e pegar frutas
numa mansão onde hoje está o Conjunto Nacional.
A alegria se desfez quando viu uma cena que ficaria para sempre
marcada em sua lembrança. Estavam mortos, no chão,
dois bichos-preguiça abraçados; mãe e
filhote tinham sido eletrocutados ao saírem, pelas
árvores, do parque Trianon, pendurando-se nos fios
de eletricidade da rua Peixoto Gomide.
A morte
fora anunciada semana antes. O pai do estudante, o médico
Baeta Neves, tinha advertido diretamente o prefeito de São
Paulo de que, mais cedo ou mais tarde, as preguiças
do Trianon morreriam. Não era difícil prever:
deixaram crescer demasiadamente as árvores das ruas
que ladeavam o parque e os bichos ficaram próximos
dos fios elétricos. Não sobrou nenhuma preguiça.
O adolescente
que pulava os muros tem agora 70 anos e, numa volta ao passado,
planeja criar preguiças no parque Trianon. "Já
estou consultando especialistas e zoológicos",
anima-se Nelson Baeta, presidente da Associação
Paulista Viva.
Os projetos
ecológicos de Baeta estão baseados nas promessas
da prefeitura para as comemorações dos 450 anos
da cidade: pretende-se revitalizar a avenida Paulista. Lá
seria construído um corredor cultural, onde se realizariam
shows de música diariamente. Já existem negociações
com as grandes empresas da avenida para o patrocínio
dos eventos.
Um dos
palcos seria instalado no parque Trianon já supostamente
recuperado - e os imóveis abandonados já estariam
ocupados. "É uma prioridade", assegura Celso
Marcondes, que preside a comissão do aniversário
de São Paulo. Já neste ano o trecho da Paulista
entre o parque e o Masp deverá, aos domingos, ficar
fechado ao trânsito.
Talvez
a volta das preguiças pareça delírio
juvenil. Um problema, porém, mais difícil de
resolver vem ocorrendo no ambiente da selvageria paulistana.
Segundo estatísticas policiais concluídas nesta
semana, desde que se instalaram os quiosques com PMs em várias
esquinas, os índices de furto e roubo caíram
70% na avenida Paulista -um cenário tão distante
daquele dos tempos em que ali o maior risco de morte quem
corria era uma preguiça num fio elétrico.
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