O
professor no paraíso
Apaixonado
por restauração do patrimônio histórico,
o professor Samuel Kruchin encontrou um paraíso particular
na zona leste. Fez de uma das raras edificações
do século 17 que sobraram na cidade de São Paulo
- a casa do regente Feijó - a extensão de sua
sala de aula, transformada então num laboratório
de arquitetura. "É um sonho", comemora.
Kruchin
foi convidado a restaurar o prédio, hoje em ruínas,
do orfanato Anália Franco, construído na antiga
fazenda do regente Feijó, na zona leste. Reformado,
o antigo orfanato, que recebia filhos de escravos, passou
a sediar a Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), onde Kruchin
acabou coordenando um curso de pós-graduação
em patrimônio histórico.
Dar aula
de patrimônio histórico dentro da sua própria
obra restaurada já seria suficiente para fazer de Kruchin
um professor orgulhoso: seus ensinamentos estariam ali, diante
dos alunos, fixados no espaço, quase como giz na lousa.
O melhor, porém, estava bem ao lado, separado, aliás,
por um túnel, onde, no passado, circulavam escravos
que trabalhavam na fazenda.
Passando
o túnel, desmanchava-se, vítima do tempo, a
casa do regente Feijó. "Podemos ver na construção
traços arquitetônicos que vão do século
17 até os dias de hoje", afirma. Coube a Kruchin
também cuidar da casa. O professor aproveitou para
convidar seus alunos a acompanharem cada etapa da restauração,
misturando teoria com prática.
A história
ia aparecendo na raspagem das paredes ou do piso, num contraste
com a paisagem do shopping center Anália Franco, bem
à sua frente.
Ainda
não se sabe qual será o uso da casa de Feijó,
um dos adversários da escravidão durante o Império.
Talvez sirva de centro cultural. Já se sabe, porém,
que será criado pela prefeitura um parque na área
verde que circunda aquele patrimônio, a ser entregue
ainda neste ano.
O parque
também será uma espécie de laboratório
para o professor, que, desta vez, não vai cuidar de
universitários, mas de jovens da zona leste que estão
à procura de emprego. Ele vai chamar esses jovens para
que aprendam como se constrói e preserva um parque,
edificando praças, para que façam disso uma
profissão - o desemprego entre jovens é, afinal,
o inferno social da zona leste.
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